Romance de José Saramago (Prêmio Nobel da Literatura, em 1998), publicado em 1984, cuja personagem principal é Ricardo Reis, um heterónimo de Fernando Pessoa. Através dos dados biográficos de Ricardo Reis (criados por Fernando Pessoa), Saramago constrói a narrativa sobre um médico exilado no Brasil, desde 1919, por motivos políticos e que regressa a Portugal, em dezembro de 1935. O romance relata então os nove meses passados por Ricardo Reis em Lisboa até à data da sua morte, em 1936.
Ricardo Reis é um de seus mais importantes heterônimos, ao lado do mestre Alberto Caeiro, do alter ego Álvaro de Campos e do semi-heterônimo Bernardo Soares. Foi imaginado pelo poeta no ano de 1913 para dar voz aos poemas de índole pagã e, conforme sua biografia inventada, nasceu no dia 19 de setembro de 1887, na cidade do Porto. Recebeu uma forte educação clássica em um colégio de jesuítas, tendo se tornado um latinista por educação e “um semi-helenista por educação própria”. Formou-se em medicina e, por ser grande defensor do regime monárquico, no ano de 1919, expatriou-se no Brasil para fugir do regime republicano recém-instalado em Portugal.
O poeta latino Horácio foi um grande inspirador de sua poesia, principalmente no que diz respeito à filosofia de carpe diem, isto é, usufruir do momento, como também no uso de gerúndios, imperativos e inversões de sintaxe, como os hipérbatos.
Quando chega à capital portuguesa, o poeta instala-se num quarto de hotel e posteriormente num apartamento. Durante a sua permanência em Lisboa, vive situações curiosas: é seguido pela polícia, relaciona-se amorosamente com duas mulheres, Lídia e Marcenda, figuras das suas odes, e recebe várias visitas do fantasma de Fernando Pessoa.
Pela data, 1936, realçada no título, o leitor apercebe-se da importância dos contextos históricos, em que se situa a ação, e que constituem elementos preponderantes na obra. Portugal encontra-se sob a ditadura salazarista; em Espanha, desenvolve-se a Guerra Civil.
Há várias marcas intertextuais no livro: o romance é construído a partir de uma personagem ficcionada por Pessoa, e com a qual o seu criador dialoga; existem referência às personalidades de Luís de Camões e Jorge Luís Borges, e a Lídia e Marcenda das odes de Ricardo Reis.
As Rosas
As Rosas amo dos jardins de Adônis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos
Em O Ano da Morte de Ricardo Reis, Saramago se apropria do mais clássico dos heterônimos e insere este personagem em uma narrativa. Se o poeta envia Ricardo Reis para o Brasil, o romancista leva-o de volta a Portugal. O médico que escreve poesias vive suas últimas aventuras em Lisboa, no ano de 1936. Quando Saramago se apropria do heterônimo de Pessoa e “lhe dá vida” no romance, Ricardo Reis deixa de ser uma personagem pessoana e passa a ser outra, mas uma outra que ora se aproxima, ora se distancia da original. Saramago afirma que O Ano da Morte começou a ser escrito nas longas horas noturnas que passou em bibliotecas públicas, quando tinha uns 17 anos, lendo ao acaso, sem orientação. Revela que encontrou uma revista com poemas assinados por Ricardo Reis e pensou que existia mesmo em Portugal um poeta que assim se chamava. Mais tarde, descobriu que o verdadeiro autor era Fernando Pessoa, e este assinava poemas “com nomes de poetas inexistentes nascidos na sua cabeça”
Este romance ganhou vários prémios: Prémio PEN Club Português (1984); Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus (1986); Prémio Grinzane-Cavour (1987, Itália).
Fontes:
infopedia.pt
portugues.com.br
pensador.com
google.com
ebiografia.com
dominiopublico.gov.br
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