segunda-feira, 25 de janeiro de 2021


Edifício do Jornal  "A noite" onde ficava a Rádio Nacional


No dia 12 de setembro de 1936, um sábado, a imprensa escrita carioca noticiava que a população sintonizasse 980 kilociclos para ouvir, pela primeira vez, a Sociedade Rádio Nacional. Dotada de um potente transmissor, foi criada pelo grupo do jornal A Noite, do qual faziam parte as revistas Noite Ilustrada, Vamos Ler e Carioca. Às 21h, um gongo soou três vezes e a voz marcante do radialista Celso Guimarães anunciou: “Alô, alô, Brasil! Está no ar a Rádio Nacional do Rio de Janeiro”. Depois, ouviu-se a melodia Luar do Sertão e uma bênção realizada pelo cardeal da cidade. 

O prédio do jornal a Noite rivalizou-se com o edifício Martinelli em São Paulo como o mais alto da América latina.

A inauguração ocorrida sem grande solenidade não impediu que a Nacional se transformasse em uma verdadeira lenda, vitoriosa em termos de programação e de público. A frase dita frequentemente – “Senhores ouvintes, bom dia! O rádio traz a paz, a educação e a alegria” – na verdade não expressava completamente tudo o que aquela caixa sonora irradiava.

A partir do conteúdo da programação e até dos anúncios, que até os dias de hoje são lembrados, muitos compreenderam que nesse meio de comunicação, que alcançava recantos distantes, não bastava falar: era preciso saber falar. Durante a Era Vargas, o presidente, habituado a dirigir-se às massas em comícios, repetia cadenciadamente, pelo rádio, nos inúmeros discursos oficiais, a frase: “Tra-ba-lha-do-res do Bra-sil”.



Balança mais não cai





Também não seria sem intenções que, em 1940, a importante Rádio Nacional, um instrumento de propaganda e de afirmação para o regime, tenha sido estatizada, transformando-se na rádio oficial do governo brasileiro.


Programa César Alencar



Aos poucos, a programação da Nacional e das demais emissoras ganhou novos formatos, muitas vezes por meio dos lucros oriundos da publicidade, incluindo o lançamento, em 1943, de uma famosa marca norte-americana de refrigerantes.


Repórter Esso com Heron Domingues



As rádionovelas da emissora marcaram época a partir da primeira transmitida em 1941, "Em busca da felicidade", que durou três anos, até "O direito de nascer", que chegou a mudar hábitos das pessoas que tinham compromisso marcado com as transmissões dessa radionovela, posteriormente adaptada para a televisão. Até meados da década de 1950, o Rádio Teatro Nacional irradiou 861 novelas, as mais ouvidas do rádio brasileiro, segundo as mais seguras pesquisas de audiência. Pode-se observar que a música popular brasileira foi uma antes e outra depois da Nacional, que se transformou numa verdadeira criadora de ídolos através da realização de concursos como "A Rainha do Rádio", que consagrou diversas cantoras, como Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira e Ângela Maria.

Emilinha Borba e Marlene
grande rivalidade e fãs clubes apaixonados.

Cauby Peixoto





Um dos cantores que ficou marcado como símbolo dessa era foi Cauby Peixoto, que enchia o auditória da Rádio em suas apresentações. Em 1936, Linda Batista foi eleita a primeira "Rainha do Rádio", permanecendo no posto por doze anos. Em 1938, Almirante estreou o primeiro programa de montagem, ou montado, que foi "Curiosidades musicais", sob o patrocínio dos produtos Eucalol. O mesmo artista lançou no mesmo ano o primeiro programa de brincadeiras de auditório, o "Caixa de perguntas". Outro programa de destaque na emissora surgido no mesmo período foi "Instantâneos sonoros brasileiros", produzido por José Mauro com direção musical de Radamés Gnattali, regente da orquestra.

Programa de calouros da  Rádio Nacional



Programas voltados para a música, o humor e as radionovelas, assim como programas de calouros e shows transmitidos ao vivo, realizados em diferentes bairros da cidade, conseguiam enorme sucesso. Inúmeros maestros, com suas orquestras, cantores e compositores, fizeram escola nas ondas da Rádio Nacional, marcando profundamente a história da vida artística brasileira (e carioca). Tudo isso sem esquecer as transmissões esportivas, que ocuparam um espaço importante na história do rádio. Locutores deixaram suas marcas na forma particular de narrar as partidas emocionantes, as vitórias – como a da Copa do Mundo de 1958 – e as agruras das derrotas – como a de 1950, em pleno Estádio do Maracanã (Estádio Jornalista Mario Filho), com os torcedores emudecidos pelo espanto e pela surpresa.

121 radio2 corrigido tEmilinha Borba, Marlene, Carmélia Alvez e outros cantores e cantoras no palco da Rádio Nacional, por onde passaram os maiores ídolos da época (Crédito: Acervo Rádio Nacional – EBC)


“Pelo rádio o individuo encontra a nação, de forma idílica; não a nação ela própria, mas a imagem que dela se está formando. O rádio comercial e a sua popularização será capaz não apenas de vender produtos e de ditar modas, mas de mobilizar as massas”, observa o sociólogo Orlando Miranda.




Carmen e Aurora Miranda - cantoras do rádio




Fontes:
multirio.rj.gov.br
google.com
youtube.com
wikipedia.org
locutor.info

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