sábado, 12 de outubro de 2019


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Marília de Dirceu é um longo poema lírico que foi publicado em Lisboa, a partir de 1792, por Tomás Antônio Gonzaga, um representante do Arcadismo brasileiro.


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O arcadismo no Brasil teve forte influência europeia, tanto por meio da apropriação de técnicas e temas típicos do arcadismo europeu quanto por meio de inspirações no Iluminismo francês com suas ideias de liberdade. Em sua face lírica, os poemas árcades eram escritos segundo os seguintes preceitos latinos:


nutilia truncat (cortar o inútil): Segundo esse preceito, a poesia deveria abandonar a linguagem rebuscada, típica do movimento estético anterior, o Barroco.


Carpe diem (aproveitar o dia): Para os árcades, para que o homem atingisse a plenitude, era necessário viver o presente, em harmonia com a natureza, como um pastor de ovelhas ou um vaqueiro.


Fugere urbem (fugir da cidade): A cidade era vista, segundo a perspectiva dos árcades, como um espaço negativo, cheio de ilusões e conflitos, no qual o homem não poderia atingir sua plenitude.


Locus amoenus (lugar ameno): Como uma espécie de resposta ao preceito anterior (fugere urbem), o locus amoenus aponta para o campo, espaço bucólico, como sendo o ideal para que o homem encontre sua plenitude, longe das ilusões e conflitos criados pela cidade.


Aurea mediocritas (equilíbrio do ouro): Segundo os escritores do arcadismo, uma vida de luxo e ostentação, típica dos ambientes urbanos, deveria ser evitada.


Tomás Antonio Gonzaga foi um poeta de origem portuguesa, 

nascido no dia 11 de agosto de 1744 em Miragaia, no distrito do Porto, Portugal.

Filho de mãe portuguesa (Tomásia Isabel Clark) e de pai brasileiro (João Bernardo Gonzaga), Tomás ficou órfão de mãe quando ainda era bebê. Por isso, veio morar no Recife com seu pai em 1751.

Estudou no Colégio de Jesuítas na Bahia. Voltou para Portugal a fim de estudar Direito na Universidade de Coimbra. Se formou em 1768, exercendo sua profissão como juiz na cidade de Beja, no Alentejo.

Por volta de 1782, retorna ao Brasil e trabalha como Ouvidor Geral em Minas Gerais, na cidade Vila Rica (atual Ouro Preto).

Foi ali que ele conheceu sua musa inspiradora. Apaixonou-se por Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, a pastora Marília. Inspirado em sua própria história de amor, escreveu sua obra mais importante: Marília de Dirceu.

Resolve pedir a mão de sua amada em casamento. Mas estava envolvido na Inconfidência Mineira e foi acusado de conspiração, sendo preso no Rio de Janeiro.

Permaneceu recluso cerca de 3 anos e seu casamento foi anulado. Foi transferido para a África para cumprir sua sentença (pena de degredo). Ali exerceu a profissão de advogado e juiz da alfândega.



As liras de Marília de Dirceu exploram o tema do amor entre dois pastores de ovelhas.

No decorrer da obra, o eu-lírico expressa seu amor pela pastora Marília e fala sobre suas expectativas futuras.

Dentro do contexto do Arcadismo, Dirceu revela a ambição de ter uma vida simples e bucólica ao lado de sua amada.

A natureza torna-se, portanto, uma forte característica, a qual é descrita em diversos momentos. No entanto, esse amor não pode ser consumado, visto que Dirceu foi exilado de seu país.

Na primeira parte da obra, o foco maior é a exaltação da beleza de sua amada e da natureza.

Parte I, Lira I


“Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”

Na segunda parte, o tom de solidão já começa a aparecer, uma vez que o eu-lírico vai para a prisão. Isso porque Dirceu esteve envolvido no movimento da Inconfidência Mineira, em Minas Gerais.

Parte II, Lira I


“Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados,
Os negros cabelos.

Vejo, Marília, sim, e vejo ainda
A chusma dos Cupidos, que pendentes
Dessa boca linda,
Nos ares espalham
Suspiros ardentes”




E, por fim, na terceira parte, o tom de melancolia, pessimismo e solidão é notório.

Exilado na África, o eu-lírico revela a saudade que sente de sua amada:




Parte III, Lira IX


“Chegou-se o dia mais triste
que o dia da morte feia;
caí do trono, Dircéia,
do trono dos braços teus,
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Ímpio Fado, que não pôde
os doces laços quebrar-me,
por vingança quer levar-me
distante dos olhos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!”


Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, noiva do árcade, foi imortalizada com o pseudônimo de Marília e Tomás Antônio Gonzaga com seu pseudônimo Dirceu. O autor tem a capacidade de tocar seus leitores com um amor semelhante ao das obras de Shakespeare, principalmente no que abrange à segunda parte da obra. 


Um fato muito importante é que durante o exílio em Moçambique, Tomás Antônio Gonzaga se casou com dona Juliana de Sousa, filha de um rico traficante de escravos, refazendo sua vida, enquanto que Marília vagava pelas ruas de Vila Rica à sua espera, até morrer com 90 anos de idade, situação que deu mais drama à tragédia amorosa.

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Com forte cunho autobiográfico, os versos de Marília de Dirceu fazem referência ao amor proibido de Maria Joaquina Dorotéia Seixas e do poeta, que se vê refletido nos versos como o pastor Dirceu.

Dirceu é, portanto, sujeito lírico de Gonzaga, e canta seu amor pela pastora Marília, sujeito lírico de Maria Joaquina. Era uma convenção da altura cultuar as musas como sendo pastoras.

A jovem é idealizada pela sua beleza, assim como o cenário onde os dois se encontram. A paisagem bucólica do campo é igualmente louvada

O poema é uma historia de Amor, não concluído em sua plenitude, um Amor que resistiu nos versos do poeta, mas que não teve o seu desfecho como todos os amores deveriam ter. O poeta exilado e a musa solitária.



Fontes:
todamateria.com.br
coladaweb.com
brasilescola.uol.com.br
google.com
culturagenial.com


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