Olá, pessoal !
Hoje vamos falar de uma figura, que podemos dizer lendária no noticiário paulista das décadas de 10 e 20.
Amleto Gino Meneghetti, nascido em Piza na Itália, chegou ao Brasil em 1913, e notabilizou-se por arrombamentos de casas e roubos, e principalmente por suas fugas fantásticas.
Era filho de um operário. Seus primeiros delitos foram praticados na adolescência, por causa dos quais fugiu para a França, de onde, anos depois, foi deportado para cá. Era mais comum do que se pensa a suposição de que mandar alguém para o Brasil constituía castigo duro.
Chegara aqui com 35 anos de idade. Desembarcou em Santos, em 1913, vindo morar com uma tia em São Paulo.Conheceu uma moça italiana como ele, Concetta Tovani, teve cinco filhos (três morreram na infância). Ao chegar, já era conhecido da polícia daqui, informada previamente pela polícia italiana de seus delitos por lá. Menos de um ano depois de chegar, foi preso por roubo e condenado a 8 anos de prisão. Daí em diante, sua vida será uma sucessão de prisões, fugas, escapadas espetaculares por muros altos e telhados, mudança de cidades, manipulação de recursos teatrais para mudar de cara e de aparência, de modo a não ser reconhecido. Tinha um fôlego impressionante e escapava da polícia com facilidade. Era admirado nas conversas de calçada dos bairros operários.
Em 1914 é preso pela primeira vez. Condenado a 8 anos, trabalhou como pedreiro na obra de construção da solitária da cadeia. Erro no julgamento dos responsáveis pela cadeia, presença de espírito de Meneghetti. Ele construiu a solitária, cujas grades, no topo, eram suficientemente frágeis para ceder ao primeiro impacto. Um dia, na cadeia, Meneghetti provocou uma briga, e foi mandado para a solitária, preparada para recebê-lo. Esgueirou-se, nu, por entre as barras, à noite, cantando em voz alta para não despertar suspeitas, deixou pedaços de carne nas grades. Em sangue, fugiu pelas ruas da cidade, nu, conseguiu roupas na casa da tia e desapareceu.
Um ano depois era preso no Rio. Ficou pouco tempo. Nova fuga; próxima parada, Porto Alegre; depois Juiz de Fora, onde sua doce Concetta o esperava, com dinheiro. Mas antes de deixar a cidade mineira, Meneghetti deu um grande golpe: entre jóias e dinheiro, roubou 20 contos de réis, o que era muito naquela época.
Ficou famoso e popular não só por isso, mas também porque só roubava os ricos. Sua fama deveu-se, ainda, às notícias sobre maus-tratos recebidos na cadeia, frequentemente castigado e recolhido à solitária. Tinha medo de ser envenenado na prisão, o que o levava, na solitária, a lavar a comida na água da privada, antes de comê-la.
Filme dov´è Meneghetti ?
O povo reconhecia nele um dos seus, e via em sua história de vítima da polícia sua própria história. Ficara profundamente gravada na memória social a repressão violenta à greve geral de 1917, quatro anos depois da chegada de Meneghetti. Naqueles tempos, o tratamento repressivo às chamadas classes perigosas não fazia propriamente distinção entre delinquentes e proletários. Do mesmo modo que um ladrão como Meneghetti não só agia em nome do que era, no fundo, a luta de classes, como invocava em sua vida símbolos dessa luta.
Prestando depoimento numa delegacia em 1961
Agia sempre sozinho e se tornou famoso nas páginas dos jornais pelas fugas mirabolantes, com saltos e correria sobre telhados. Apelidado de “rei dos ladrões”, teria até mesmo deixado cartões de visita em algumas casas assaltadas, para vangloriar-se dos feitos. Preso em 1926, passou dezoito anos trancafiado em uma cela blindada, produzida sob medida, no Carandiru.
"Una porqueria”, costumava dizer o lendário ladrão Gino Amleto Meneghetti (1878-1976) quando discordava de alguma coisa. E assim respondeu aos entrevistadores do irreverente e provocativo jornal “O Pasquim” quando lhe indagaram o que pensava sobre as teorias do médico italiano Cesare Lombroso de que algumas pessoas possuem características físicas que as predispõem ao crime. “Isso é conversa de médico pedante. O que inicia alguém no roubo é a miséria”, disse Meneghetti.
Réquiem Meneghetti (Sarah Duarte - 2016
O que se sabe é que Meneghetti era um especialista em arrombamento e furto de joias e sabia diferenciar as pedras preciosas legítimas das falsas. Roubou residências famosas, como a mansão de Francesco Matarazzo Filho, na avenida Paulista, em São Paulo. Ele invadiu a casa aproveitando-se de uma discussão entre a cozinheira e a copeira e levou joias, entre elas um colar com as cores da Itália cravejado de diamantes, rubis e esmeraldas. Em outra ocasião, deixou à proprietária um bilhete em que reclamava do fato de as joias serem “todas falsas”. Em 1926 ele protagonizou uma fuga espetacular pelos telhados das residências e mobilizou o Corpo de Bombeiros e mais de 200 policiais numa perseguição que durou seis horas. Terminou preso e amargaria no presídio uma longa temporada.
Numa casa ao lado da Livraria da Vila, na Rua Fradique Coutinho, 915, e hoje à livraria incorporada, uma placa informa: "Nesta casa, em 14 de junho de 1970, foi preso pela última vez o grande ladrão Amleto Gino Meneghetti." Ele estava com 92 anos de idade. A placa registra como fato histórico uma ocorrência policial e qualifica Meneghetti como "grande", que, em outros e recuados tempos, seria classificado apenas como ladrão. Mas o ancião há muito já entrara no imaginário da população paulistana como herói popular, população que torcia por ele e não pela polícia.
Meneghetti morreu aos 92 anos em 23 de maio de 1976, com 98 anos.
Fontes:
wikipedia.org
youtube.com
vejasp.abril.com.br
sao-paulo.estadao.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário