Olá, pessoal !
Hoje vamos falar de um outro livro muito pedido nos vestibulares: "laços de família" de Clarice Lispector.
O livro de contos foi publicado em 1960. São treze contos que tratam do aprisionamento dos indivíduos através dos laços de família.
É considerado um dos mais belos liros de contos da literatura brasileira.
Como disse são 13 contos.
No primeiro : "Devaneio e embriaguez duma rapariga"
Nele Clarice mostra uma mulher casada, que fica diante de um espelho a contemplar a vida que leva ao lado do marido e dos filhos.
Lembra que seu papel na sociedade da época, era cuidar da casa e criar os filhos, o que de certo modo não a satisfazia por completo.
Um dia num encontro de negócios entre o marido e o chefe dele, ela embriaga-se e começa a conversar com o chefe do marido, sentido uma certa inveja de outra mulher no recinto, mais bem cuidada que ela.
De volta para casa, ela repensa sua própria sensualidade e o desejo que podia despertar nos homens.
No outro conto "Amor"
Ana uma mulher casada, com dois filhos, é ua típica dona de casa.
Um dia ao fazer compras, deparou-se com um cego atravessando a linha do bonde.
O bonde freou bruscamente e os ovos que ela levava se quebraram.
Ela ficou transtornada com o fato, e desceu num lugar errado, o Jardim Botânico.
Lá ela reparou que estava no céu com a chance de ver toda aquela beleza da Natureza, e pensou no inferno pelo qual passava a pessoa cega, privada de contemplar as belezas da vida.
"Uma galinha"
Tratava-se de uma galinha pronta para ser abatida para o almoço de domingo. Porém, ao ser apanhada pelo pai da menina que narra a estória, bota um ovo. Imediatamente a criança avisa os familiares que agora a galinha é “mãe”. O pai da menina sente culpa por ter apressado a galinha para o abate, e acaba transformando-a num animal de estimação, sob a pena de que caso ela fosse sacrificada, nunca mais voltariam a alimentar-se de frango. Contudo, certo dia “mataram-na, comeram-na e passaram-se anos”.
"A imitação da rosa"
Narra a estória de Laura, que ao sair de uma clínica psiquiátrica aguardava o marido Armando e alguns amigos para irem jantar. Enquanto esperava, analisava a si própria como uma mulher imperfeita, sem filhos, de coxas grossas, desinteressante e chata. Olhando para as rosas que o empregado trouxera para a sala, vai se afundando em devaneios, sentindo-se da maneira que se encontrava quando chegou à clínica, totalmente perdida. Finalmente então, chega Armando. “Ela estava sentada com o seu vestidinho de casa. Ele sabia que ela fizera o possível para não se tornar luminosa e inalcançável. Com timidez e respeito, ele a olhava. Envelhecido, cansado, curioso. Mas não tinha uma palavra sequer a dizer. Da porta aberta via sua mulher que estava sentada no sofá sem apoiar as costas, de novo alerta e tranquila como num trem. Que já partira.”
" O crime do professor de Matemática"
Era domingo, os católicos dirigiam-se à igreja. Um homem os observava da colina mais alta da chapada. Carregava um saco pesado na mão e, nas costas, a culpa de um dia ter abandonado um cão com o qual tinha uma relação de afeto. De dentro do saco o senhor retirou um cachorro morto.
Era-lhe desconhecido, sentou-se ao seu lado e observou, solitário, a paisagem ao redor, a chapada deserta com a sua única árvore. Do saco tirou uma pá e começou a pensar onde enterraria o defunto.
Talvez rio centro da chapada, lugar em que ele mesmo gostaria de ser enterrado. Diante da dificuldade de determinar a exata posição do centro da chapada, resolveu enterrá-lo ali mesmo, precisamente embaixo dos seus pés. Pegou a pá e pôs-se a cavar.
O crime do professor de matemática não consistia em ter matado o cão desconhecido. Encontrara-o já morto, numa esquina, e surpreendera-se com a idéia de enterrá-lo.
O corpo do cão representava para ele o cão verdadeiro, o que abandonou ao mudar-se com a família de uma cidade para aquela em que agora vivia. Enfim, o professor enterrou o cão, bem à superfície, para que não perdesse a sensibilidade. Para o homem, esse ato era a maneira que achara de redimir-se do seu pecado, de punir-se do seu crime com o outro cão, o abandonado.
"Começo de uma fortuna"
Artur é um garoto obcecado por dinheiro. O conto gira em torno das suas preocupações em como ganhá-lo: dai, a presença de palavras como mesada e frases como: "logo que alguém tem dinheiro aparecem os outros querendo aplicá-lo, explicando como se perde dinheiro" ou "basta você ter uns cruzeirinhos que mulher logo fareja e cai em cima.
Indo ao cinema com o seu colega Carlinhos, com Glorinha e uma amiga desta, Artur se mostra menos preocupado em divertir-se do que em imaginar se está sendo explorado ou não.
De certo modo, Carlinhos é o oposto de Artur: acredita que dinheiro existe para ser gasto, preocupando-se menos em ganhá-lo do que em ganhar uma garota.
"Feliz aniversário"
A filha Zilda é um personagem manipulado pelo dever de realizar uma festa de aniversário para sua mãe, que completa oitenta e nove anos, arruma a casa, ocupa-se com os preparativos e convida os familiares para a comemoração. Nota-se que, no nível do parecer, a comemoração simula-se prazerosa, mas a manipulação de Zilda não se dá pelo querer-fazer, ou seja, realizar a festa de aniversário da mãe, mas sim pelo dever-fazer. Assim, no nível do ser, ao focalizar o ponto de vista de Zilda, o narrador revela-nos o quanto ela se sente revoltada por ter de arcar com essa tarefa solitariamente.
"A menor mulher do mundo"
O explorador francês Marcel Prete descobre na África Equatorial uma tribo de pigmeus de pequenez surpreendente,mas também veio a saber que havia outros ainda menores no Congo Central. É no Congo que Marcel depara-se com a menor mulher que já viu, medindo 45 centímetros, escura como um macaco e grávida a quem chamou de Pequena Flor. Ela pertence a tribo dos escassos likoualas, vivia com seu marido em cima das árvores mais altas para não se tornarem alimento dos selvagens bantos. O explorador ao publicar no jornal de domingo a foto dela em tamanho real, causa nos leitores os mais variados sentimentos, os quais também sentiu, desde o desejo de posse até o desejo de repulsa. O conto é finalizado com a expressão Deus sabe o que faz, pois mesmo sendo pequena ela sentia a alegria de está viva.
"O jantar"
Num restaurante, um homem observa atentamente um velho a comer. Ambos não se conheciam. A brusquidão e a dureza do velho chamaram a atenção do homem, que lhe vigiava cada gesto. Até que o homem, extasiado, e sentindo certa náusea, percebeu no velho uma lágrima.
Então, não tocou mais no prato, enquanto o velho terminou a sua refeição, comeu a sobremesa, pagou a conta, deixou uma gorjeta para o garçom e atravessou o salão, luminoso, desaparecendo. O observador medita: "eu sou um homem ainda."
"Quando me traíram ou assassinaram, quando alguém foi embora para sempre, ou perdi o que de melhor me restava, ou quando soube que vou morrer eu não como. Não sou ainda esta potência, esta construção, esta ruiria. Empurro o prato, rejeito a carne e seu sangue".
"Preciosidade"
Ela era uma estudante de 15 anos, não era bonita, mas tinha sua preciosidade. A mocinha, protagonista deste conto, atravessará este estado transformando-se em mulher, rito em que se dará a perda do que lhe é precioso possivelmente sua virgindade.
Acordava muito cedo para ir à escola, precisava tomar um ônibus e um bonde, além de caminhar até o ponto. O caminho era difícil, não gostava que a olhassem. Andava rígida, severa, não admitindo sequer que os homens no ônibus ou os rapazes na escola pensassem nela.
Mas o barulho de seus sapatos com saltos de madeira chamavam a atenção de todos, o que a perturbava terrivelmente.
Certa manhã, ao sair para a escola, só na rua percebeu que ainda estava muito escuro, quase noite. Prosseguiu, enfrentando a madrugada. A caminho do ponto, viu na rua dois rapazes que andavam em sentido oposto ao seu.
Procurou manter o ritmo e a calma, eles passariam por ela e continuariam naquela direção, distanciando-se. Avançou, procurando não olhar para eles, nem demonstrar medo. Mas o que se seguiu não teve explicação. (..) foram quatro mãos que não sabiam o que queriam, quatro mãos erradas de quem não tinha a vocação, quatro mãos que a tocaram tão inesperadamente que ela fez a coisa mais certa que poderia ter feito no mundo dos movimentos: ficou paralisada,"
Na fuga os sapatos dos dois rapazes fizeram um barulho louco que soou por algum tempo na sua cabeça. Ela premiu-se contra o muro, ficou ali impossibilitada de qualquer ação, até que, lentamente, começou a mover-se, catar os seus livros e cadernos, e neles via a sua antiga caligrafia. Ela era outra. Dirigiu-se à escola, onde chegou com duas horas de atraso. Não falou a ninguém sobre o que ocorrera. No banheiro, gritou: "estou sozinha no mundo!".
"Os laços de família"
Depois de duas semanas de visita, Catarina levava a sua mãe para a estação, onde a senhora tomaria o trem e se despediria da filha. Elas estão no táxi. Catarina recorda-se do desconforto causado pela breve convivência entre a sua mãe e o seu marido. O genro e a sogra mal se suportavam. Mas, na hora da partida, ambos encheram-se de generosidade e delicadeza. Catarina tinha vontade de rir. Ria então pelos olhos, como permitia seu estrabismo.
A mãe desta jovem mulher chamava-se Severina, A severa mãe, em tom de desafio e acusação, lembrava o quanto o menino, seu neto, estava magro. Magro e nervoso." Catarina concordava, paciente. Antônio, esposo de Catarina e pai do menino nervoso, certa noite irritou-se profundamente com tais observações da sogra.
De repente, uma freada do carro lançou as duas mulheres uma contra a outra, provocando entre elas uma brusca intimidade de corpos já esquecida. Era como se lhes acontecesse um desastre, uma catástrofe irremediável. Não esqueci nada?", perguntava Severina pela terceira vez. Elas evitaram olhar-se até a estação. Catarina nunca fora de muitos carinhos e intimidades com a mãe. Fora, sim. uma filha muito próxima, muito achegada ao pai, cheia de beijos, abraços, cumplicidade.
"O búfalo"
"Eu te odeio" disse a mulher, muito depressa, a um homem que não a amava. Mas a mulher só sabia amar e perdoar, e 'se aquela mulher perdoasse mais uma vez, uma só vez que fosse, sua vida estaria perdida'. Então, numa tarde de primavera, ela visitou o jardim zoológico em busca de um animal que lhe ensinasse a odiar.
Encontrara amor nos leões, na girafa, nos macacos. O camelo fizera-lhe topar com a paciência e a poeira. Só a última, e a sua aridez, a interessava. A aridez e não mais as lágrimas. Onde estaria o bicho que lhe daria o sentimento que procurava?
Por fim o búfalo que a observava a certa distância se aproximou, era negro e os chifres brancos.
"Eu te amo, disse ela então com ódio para o homem cujo grande crime impunível era o de não querê-la. Eu te odeio, disse implorando amor ao búfalo".
O búfalo, provocado, aproximou-se lentamente. "Ele se aproximava, a poeira erguia-se'. Como a mulher não recuava um só passo, os seus olhos e os do animal fitaram-se diretamente. "Lentamente a mulher meneava a cabeça, espantada com o ódio com que o búfalo, tranquilo de ódio, a olhava.
"O mistério de São Cristovão"
Em uma noite tranqüila de maio, uma família composta de avó, mãe, pai, crianças e uma filha aproveitam a abastança a que atingiram. A única insatisfação está no coração da moça.
Quando de madrugada todos foram dormir, surgem três homens fantasiados para um baile. Um galo, um touro (o mais gordo) e um cavaleiro. Passam diante da casa abastada e admiram o jardim. Invadem-no, para colher um jacinto, curiosamente a flor que chega a representar os prazeres da existência. A idéia de equilíbrio, comodismo, abastança, é oposta à de intensidade da vida. Viver é de fato um desequilíbrio. Mas a flor não chega a ser de fato colhida. Fica pendurada no ramo quebrado. É que no momento em que ia ser colhida, o homem-touro nota que estão sendo observados, justo pela moça. O lar desequilibra-se. Terror. Medo. Todos acordam, mas não conseguem ver o motivo do desassossego da moça – os rapazes haviam fugido, entregando-se desajeitadamente à festa que os esperava. A ex-abastada família chega a duvidar que alguém tivesse estado lá, mas obtém a certeza quando vê o talo quebrado da flor de jacinto. A partir desse momento, todos se esforçam para reconquistar o equilíbrio em suas vidas. Menos a moça, agora dotada de fios de cabelo branco.
A novela de Manoel Carlos "Laços de família" de 2000, teve o nome retirado da obra da autora.
Clarice Lispector, cria personagens com densidade, e suas características psicológicas são de pessoas em crise com a sua existência.
Um certo apelo intimista, que escancara a solidão do indivíduo.
Seus contos tem geralmente personagens femininas, com suas realidades sociais, geralmente submissas a uma sociedade machista de meados do século XX.
Por outro lado essas personagens não se conformam com a realidade em que vivem e tentam angustiosamente muda-la.
Fontes:
wikipedia.org
livroseresumos.com
passeiweb.com
mudovestibular.com.br
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