segunda-feira, 26 de julho de 2021

Vamos falar da peça do dramaturgo português Gil Vicente; "O velho da horta.


Gil Vicente



Gil Vicente foi um dramaturgo português (1465-1536) considerado o fundador do teatro em Portugal. Escreveu vários autos ( peças de cunho religioso) e farsas (comédias do cotidiano e críticas sobre a moral da sociedade portuguesa).

Viveu a fase do Renascentismo português, e é considerado um dos maiores da literatura portuguesa.





O Velho da Horta é uma peça de enredo, na qual se desenvolve uma ação contínua e encadeada, em torno de um episódio extraído da vida real, ou em torno de uma série de episódios envolvendo uma personagem central, ou articulando uma ação dramática homogênea e completamente desenvolvida, com um travejamento mais complexo, com começo, meio e fim.

Gil Vicente é um criador de tipos. A linguagem do Velho é um arremedo da poesia palaciana. A linguagem da Moça é zombeteira e se contrapõe à do velho. A obra é uma peça de teatro escrita em versos.




VELHO

Pater noster criador, Qui es in coelis, poderoso, Santificetur, Senhor, nomen tuum vencedor, nos céu e terra piedoso. Adveniat a tua graça, regnum tuum sem mais guerra; voluntas tua se faça sicut in coelo et in terra. Panem nostrum, que comemos, cotidianum teu é; escusá-lo não podemos; inda que o não mereceremos tu da nobis. Senhor, debita nossos errores, sicut et nos, por teu amor, dimittius qualquer error, aos nosso devedores. Et ne nos, Deus, te pedimos, inducas, por nenhum modo, in tentationem caímos porque fracos nos sentimos formados de triste lodo. Sed libera nossa fraqueza, nos a malo nesta vida; Amen, por tua grandeza, e nos livre tua alteza da tristeza sem medida.
Entra a MOÇA na horta e diz o VELHO: Senhora, benza-vos Deus,

MOÇA: Deus vos mantenha, senhor.

VELHO: Onde se criou tal flor? Eu diria que nos céus. 

MOÇA: Mas no chão.

VELHO: Pois damas se acharão que não são vosso sapato!




O argumento gira em torno das desventuras de um homem já entrado nos anos e seu frustrado amor por uma jovem que vem à sua horta comprar verduras. Por meio do diálogo entre o velho e a jovem, Gil Vicente capta a crueza de uma situação que oscila entre o ridículo e o ilusório. O Velho apaixonado deixa-se levar por um amor imprudente e obcecado; a Moça, motivo dos sonhos do Velho, é irônica, sarcástica e retribui as declarações de amor com zombarias.

A cena inicial é marcada pela tentativa de conquista e o diálogo se dá entre o lirismo enamorado do Velho e os ditos zombeteiros da Moça. Em seguida, entra em cena uma alcoviteira que oferece seus préstimos profissionais para garantir ao Velho a posse da amada. Mediante promessas de que o êxito está próximo, a mulher extorque toda a riqueza do Velho. Finalmente, entra em cena a Justiça que prende a alcoviteira, mas retira do Velho a esperança de ver realizado tão louco amor. No final, vem a notícia de que a jovem que motivou tão tresloucada paixão casou-se.

VELHO: Tão depressa vinde vós, minha condensa, meu amor, meu coração!

MOÇA: Jesus! Jesus! Que coisa é essa? E que prática tão avessa da razão!

VELHO: Falai, falai doutra maneira! Mandai-me dar a hortaliça. Grão fogo de amor me atiça, ó minha alma verdadeira!

MOÇA: E essa tosse? Amores de sobre posse serão os da vossa idade; o tempo vos tirou a posse.

VELHO:  Mas amo que se moço fosse com a metade. 

MOÇA: E qual será a desastrada que atende vosso amor?

VELHO: Oh! minha alma e minha dor, quem vos tivesse furtada!

MOÇA: Que prazer! Quem vos isso ouvir dizer cuidará que estais vivo, ou que estai para viver!

VELHO:  Vivo não no quero ser, mas cativo


Fontes:

mundovestibular.com.br
dominiopublico.gov.br
ebiografia.com


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