terça-feira, 27 de julho de 2021

 A saga de jacaré e a jangada São Pedro.


Manuel Olímpio Meira

A vida dos pescadores artesanais, que se aventuram no mar em busca de seu sustento e de sua família, é uma luta arriscada e perigosa, e muito mal remunerada.

Nascido em 25 de dezembro de 1903, no Rio Grande do Norte, Manuel se estabeleceu na praia de Iracema no Ceará, onde junto com outros pescadores formaram uma associação para reivindicar melhores condições de trabalho e ganhos.


Praia de Iracema



Inteligente, mas iletrado, curioso pelas coisas da vida, uma de sua primeiras medidas, depois de assumir a presidência da colônia Z1, foi inscrever-se no curso de alfabetização que ali havia.


Revoltado com as condições dos pescadores, queria aprender a ler e escrever para ir ao Rio de Janeiro reclamar com o ditador Getúlio Vargas. Assim começou a saga de Jacaré e a jangada São Pedro. Ele já ouvira falar nas novas leis trabalhistas, o salário mínimo, etc, e queria incorporar os benefícios também aos pescadores cearenses.


Naquela época as jangadas não eram dos pescadores, pobres demais para construí-las. Tinham um dono que ficava com 50% do resultado da pesca. O resto era dividido entre os quatro membros da tripulação. “A madeira da embarcação custava caro, era importada do Pará (a piúba do Nordeste já estava quase extinta), o que encarecia sua construção. Jacaré, em suas declarações aos jornalistas, enfatizou que, no caso da São Pedro, adquirida por 1:640$000, o gasto com a importação da madeira representava 1:100$000. Com o abusivo preço, demonstrava a impossibilidade dos próprios jangadeiros as possuírem, ficando subordinados aos proprietários.”

Os Diários Associados, de Chateaubriand, fizeram uma subscrição e conseguiram arrecadar o dinheiro para a construção. Através de sua cadeia de rádios e jornais, Chateaubriand, com seu faro jornalístico, ‘sentiu o apelo’ daquela aventura. Pediu ampla cobertura a seus veículos em cada parada da jornada. O Brasil começa a saber da ousada travessia. Estava tudo pronto para a partida. Faltava a tripulação.

Mestre Manoel Olimpio de Meira, o Jacaré, Mestre Jerônimo, Tatá, e Mané Preto.



Para comandar a São Pedro, Jacaré chamou Mestre Jerônimo, 35 anos, um notório mestre, Tatá, o mais velho, tinha 52, pescava desde oito, e também atuava como mestre. Manuel Preto, 39; desde os 6 anos iniciado na pesca, foi outro escolhido. Por fim, Jacaré, que estava com 38 anos, e era proeiro; o único não cearense de raiz, mas o mais politizado, e idealizador do projeto.

Em setembro de 1941, junto com Jerônimo; Tatá e Manuel Preto, tendo construído potente jangada, enfrentaram a maior aventura marítima que o país já presenciou: rumaram ao Rio de Janeiro, onde chegaram após 46 dias de viagem, enfrentando as maiores adversidades, para expor ao Presidente Getúlio Vargas as precárias condições de vida da classe. 



Na época foi preciso obter autorização para a viagem, que recebeu apoio do jornalista Austregésilo de Athayde que escreveu uma matéria apaixonada intitulada "Deixem vir os jangadeiros".


A edição de 08/12/1941 da Revista Time publicou o fato, por meio de um artigo intitulado "Four Men on a Raft" (Quatro Homens numa Jangada), publicado (8/12/1941), a revista Time reproduziu toda a odisseia dos heroicos brasileiros.

Em 18 de dezembro de 1941, foi editado o Decreto-Lei nº 3.832, que concedeu aos pescadores artesanais direitos trabalhistas e à aposentadoria.

Em 1942, o cineasta norte-americano Orson Welles veio ao Brasil fazer um filme com a história dos pescadores. Infelizmente, durante as filmagens, Manuel Jacaré caiu da jangada e seu corpo desapareceu no mar, razão pela qual o filme nunca foi concluído.








Foram delirantemente recebidos pelo povo e pelas autoridades. Jacaré, o mais instruído do grupo, deu entrevistas a jornais e rádios. A jangada foi exposta na Cinelândia, depois de monumental desfile pela Avenida Rio Branco. Jacaré, que também fazia poesia, escreveu um diário de bordo; os heróis voltaram a Fortaleza e sua aventura, que alcançara dimensão internacional, despertou o interesse de Orson Welles, o grande cineasta americano, que veio ao Brasil realizar o que seria o seu grande filme “It's All True” (Tudo é Verdade); quando realizava filmagens na Barra da Tijuca, acidente jamais explicado vitimou o heroico jangadeiro, que morreu tragado pelas ondas do mar no dia 19 de maio de 1942. São desencontradas até hoje as versões do caso, que nem mesmo seus companheiros conseguiram explicar.

Orson Welles durante a filmagem.




Fontes:
marsemfim.com.br
historia.uff.br
google.com
portal.ceara.pro.br
wikipedia.org


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