Quando estava terminando o meu curso de Letras na USP, nosso trabalho de conclusão de curso tinha a pretensão de ensinar Literatura através da Música Popular Brasileira (MPB).
Era um projeto audacioso e muito prazeroso, afinal os recursos disponíveis eram imensos. Chico Buarque, Gil, Tom, Caetano, Vinícius, Edu Lobo, Belchior e tantos outros.
Para falarmos de sonorização recorremos às músicas de Caetano Veloso, como exemplo a música "Qualquer coisa" e Rapte-me camaleoa.
Esse papo já tá qualquer coisa
Você já tá pra lá de Marrakesh
Mexe
Qualquer coisa dentro, doida
Já qualquer coisa doida
Dentro mexe
Não se avexe não
Baião de dois
Deixe de manha, 'xe de manha, pois
Sem essa aranha! Sem essa aranha!
Sem essa, aranha!
Nem a sanha arranha o carro
Nem o sarro arranha a Espanha
Meça: Tamanha!
Meça: Tamanha!
Esse papo seu já tá de manhã.
Berro pelo aterro
Pelo desterro
Berro por seu berro
Pelo seu erro
Quero que você ganhe
Que você me apanhe.
Sou o seu bezerro
Gritando mamãe.
Esse papo meu tá qualquer
coisa
E você tá pra lá de Teerã
É muito comum que o Caetano ao falar sobre suas músicas diga que elas dizem o que querem dizer. Me lembro que ao ser perguntado por um jornalista o significado de "Coca-Cola", "Brigitte Bardô", "Cardinali" na música "Alegria, alegria"; ele disse que significavam o que estava escrito. Assim como a frase "O sol nas bancas de revista" era o astro Sol e não o recém lançado jornal alternativo "Sol" onde trabalhava a sua primeira esposa, na época namorada Dedé.
Caetano e Dedé Gadelha
Na música outras palavras a aliteração, que é uma figura de linguagem onde as palavras se repetem, só que em posições diferentes dentro de cada segmento. Analisemos o exemplo latente na canção "Qualquer Coisa" (Qualquer Coisa, 1975):
Mexe qualquer coisa dentro doida,
Já qualquer coisa doida dentro mexe.
No trecho, Caetano realiza um de seus mais expressivos e belos exercícios de síntese artística. A canção, revestida pelo mistério da linguagem vaga e figurada e até de um enigma simbólico, dado já pelo título "Qualquer Coisa", utiliza-se de expressões como "não se avexe não, baião de dois" (algo que se faz entre duas pessoas, e que poderia parecer perturbador ou vexatório) e "sem essa aranha / sem essa aranha..." (alusão figurada e chula do órgão sexual feminino) para chegar ao significado sublimatório da fecundidade da vida e criação entre os seres.
Elas significam, respectivamente, ação (causa) e sua conseqüência (efeito). Temos, pois, na primeira linha, a alusão figurada da cópula, do prazer e transe sexual, na perspectiva feminina ("mexe qualquer coisa dentro doida"), e na segunda, introduzido pelo advérbio temporal "já" (naquele momento, sem demora) a representação da gênese, o milagre da pulsação da existência: "já qualquer coisa doida dentro mexe". O que era uma ação singularmente física de amor e comunhão entre as pessoas se redimensiona como celebração da nascente da vida, a comunhão genética do ser embrionário, a vida que remexe em botão.
Ele aborda o envolvimento carnal do sexo e do prazer para logo depois abordar a criação de um ser vivo e a sua gestação.
"Sou o seu bezerro gritando mamãe"
Nesse trecho, Caetano explicou na época que seu primeiro filho, Moreno, com Dedé Gadelha, numa viagem de trem viu uns bezerros pastando e berrando "mé, mé,,," ele disse então que os bezerros estavam chamando "mamãe"
Enfim esse é Caetano, nem o sarro arranha a Espanha, nem as críticas arranham a sua carreira fabulosa.
Fontes:
br.answer.yahoo.com
wikipedia.org
google.com
youtube.com
todabiologia.com
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