sábado, 28 de dezembro de 2019




Maria Nilde Mascellani (1931 – 1999) defendeu, do começo ao fim de sua carreira, a integração entre escolas e território e um olhar atento da educação para as potencialidades de cada sujeito, além de ser responsável pelo desenvolvimento de práticas pedagógicas ainda hoje consideradas inovadoras.

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Em 1961, Mascellani foi uma das principais responsáveis pela criação do Serviço de Ensino Vocacional (SEV), ou Ginásios Vocacionais (GVs), assumindo sua coordenação até 1969, quando o projeto educacional foi extinto pela ditadura militar, que o considerou subversivo.

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Também chamados ginásios vocacionais, foram escolas pioneiras, nos anos 60, na rede pública de São Paulo. Os cinco colégios vocacionais do Estado, que funcionaram de 1962 a 1969, continham uma proposta pedagógica revolucionária e representaram um marco na história de educação paulista por adotar a democracia como prática pedagógica. De acordo com Ângela Tamberlini, no livro “Os ginásios vocacionais”, trata-se de uma experiência tão bem sucedida que o governo militar, receoso de sua repercussão, de seus objetivos políticos e de sua possível expansão, violentamente a extinguiu em 1969 e seus idealizadores foram presos como subversivos da “ordem”.


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Entre as experiências dos colégios vocacionais destaca-se a pesquisa junto à comunidade, que favorecia o trabalho coletivo do planejamento curricular. Com isso procurava-se, na construção do currículo, trazer a realidade social para o interior da escola, levando em consideração as expectativas, as necessidades e os problemas mais cruciais da população. Além disso, o processo de avaliação nessas escolas era considerado revolucionário por substituir as notas por conceitos. Os alunos se auto-avaliavam em relação aos objetivos, aos métodos e estratégias, conteúdos, conceitos, atitudes, e se atribuíam um conceito que era confrontado no Conselho de Classe.




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Embora “vocacional” remeta à ideia de mercado de trabalho e profissão, o sistema não estava ligado a isso, mas sim ao intuito de formar seres humanos livres e criativos e cidadãos críticos, capazes de reconhecer e transformar o território onde vivem.


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Para tanto, o currículo era elaborado a partir do contexto social e histórico da escola e dos alunos, trazendo metodologias que privilegiavam aprendizagens significativas, a interdisciplinaridade, a autonomia dos alunos, o estudo por meio de situações-problema, de projetos e do território. As avaliações, por sua vez, não eram focadas em provas e notas.

Em oito anos, foram criadas seis unidades de GVs no estado de São Paulo, que ofereciam educação integral com jornada estendida para o atual Fundamental II. Estes alunos começavam estudando o bairro e a cidade para, ao final do ciclo de quatro anos, estudar a América Latina e o mundo.



Com todo currículo pautado em Estudos Sociais, as aulas não eram divididas em disciplinas, mas em áreas do conhecimento. “Estudávamos psicologia, sociologia, antropologia, história e geografia e tudo girava em torno dessas discussões”, lembra Luigy, que hoje é diretor da Associação dos Ex-Alunos e Amigos do Vocacional (GVive). “Meninos e meninas estudavam juntos, o que era um grande avanço para a época. Tínhamos meninas líderes de classes e meninos aprendendo a trocar fraudas nas aulas de educação doméstica”.

Nos quatro anos de permanência no Vocacional, o foco dos estudos era dividido, sendo no primeiro o município, no segundo o estado de São Paulo, no terceiro o Brasil e no quarto o mundo. A professora Aurea explica que, assim, trabalhava a partir de unidades pedagógicas em círculos concêntricos. “As áreas de estudos sociais colocavam um problema ligado à realidade e todas as demais áreas trabalhavam esse tema”.

A partir daí os alunos faziam estudos supervisionados, individuais, livres e em equipe. Deles saíam sínteses, que eram avaliadas e debatidas em assembleia, até que se chegasse a uma única, mais completa. “Os alunos perguntavam, recebiam críticas dos colegas e assim aprendiam a argumentar, a se colocar e a respeitar o outro”, explica Aurea.

Também haviam os chamados estudos do meio ou pesquisas de campo, como lembra Luigy. “Fazíamos passeios nos bairros da cidade levantando o que tinha lá. Catalogávamos cinemas, teatros e até zonas de prostituição”, lembra. “Algumas equipes chegaram a ir para a Bolívia e para o Peru”.

Parte do dinheiro para os trabalhos de campo do Ginásio Vocacional de São Paulo vinha da cantina da escola, que era gerida pelos próprios alunos. Organizados em equipes, eles assumiam periodicamente a limpeza, o atendimento, o troco e o balanço final da cantina. Parte do lucro era divido igualmente entre os alunos, depositados na conta do banco escolar, que cada um possuía.

“Fazíamos tudo em equipe. Professores e alunos almoçavam juntos, jogavam bola juntos”, lembra Luygi. “Quando alguém fazia algo errado era realizada uma assembleia para que todos decidissem o que seria feito com o responsável”.

Ser aceito em um dos Vocacionais não era simples. Os candidatos passavam por entrevistas com pais e alunos, além de estarem sujeitos a disponibilidade de vaga. “Se 15% dos moradores da região fossem da classe A, teríamos 15% dos alunos da classe A. Se 30% dos moradores fossem de classe E, 30% dos alunos também seriam”, explica Aurea. “As classes heterogêneas ajudavam a amadurecer”.

As avaliações eram bimestrais. Elas não eram feitas por notas, mas sim por conceitos e, principalmente, pela autoavaliação. “As notas estabelecem métodos muito rígidos. Com os conceitos tínhamos cinco faixas: superior, acima da média, médio, abaixo da média e inferior”, lembra Aurea.



Fontes:
portal.aprendiz.uol.com.br
educacaointegral.org.br
educabrasil.com.br
google.com

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