sábado, 4 de novembro de 2017

Olá, pessoal !


O assunto de hoje é o livro Canaã de Graça Aranha, publicado em 1902.




Canaã


O personagem principal, Milkau, é um alemão recém chegado à uma colônia de imigrantes europeus no Espírito Santo, que decide ir para Porto do Cachoeiro. Lá ele conhece logo o armazém de um alemão chamado Roberto Schultz, que negocia vários tipos de produtos e instrumentos agrícolas. É então apresentado a Von Lentz, filho de um general alemão, com quem Milkau desenvolve uma amizade.

A imigração alemã no Espírito Santo chegou a ocupar uma área de 5.000 Km², seguindo pela via férrea, atingindo o Rio Doce, margeando o lado ocidental do Rio Guandu, permeando pelas fronteiras de Minas até o vale do Rio Jacu.

No capítulo um, quando Milkau chega ao povoado é recebido por um preto velho que lhe diz:
"Hoje em dia tudo aqui é de estrangeiro, governo não faz nada por brasileiro, só pune por alemão..."
Noutra passagem ele continua:
"- Vosmecê vai ficar aqui ? Daqui a um ano está podre de rico. Todos os seus patrícios eu vi chegar sem nada, com as mãos abanando... E agora ? Todos têm uma casa, têm cafezal, burrada..."


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colônia alemã no Espírito Santo

Shultz os apresenta ao agrimensor Sr. Felicíssimo, que estava prestes a ir medir terras em Rio Doce. Milkau tinha vontade de se estabelecer por lá, então resolveu acompanha-lo, e convidou Lentz para ir junto. No caminho Milkau e Lentz tiveram diversas argumentativas sobre as suas visões acerca da dominação alemã em cima das demais nacionalidades. Lentz, por exemplo, acredita fielmente nessa superioridade alemã, e acha que é uma questão de tempo para que eles dominem os mestiços. Ele chega a dizer que a mistura de etnias acaba gerando uma cultura inferior, cheia de mulatos que sempre serão escravos e estarão condenados a viver em meio à lutas e revoltas. Milkau, por sua vez, discordava do amigo. Este acreditava mais na humanidade, e enxergava a fusão de etnias e nacionalidades consideradas avançadas com outras consideradas mais selvagens causaria um rejuvenescimento da civilização.

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Lentz achava que o Brasil e seu povo estavam destinados à dominação de raças superiores, visto a sua miscigenação e a diversidade das misturas de raças.
Não acredito que da fusão com espécies radicalmente incapazes resulte uma raça sobre que se possa desenvolver a civilização. Será sempre uma cultura inferior, civilização de mulatos, eternos escravos em revoltas e quedas (…) Não Milkau, a força é eterna e não desaparecerá; cada dia ela subjugará o escravo."

Milkau era o imigrante que veio em busca de uma vida melhor, entendia o povo sofrido, e se irmanava a ele. Lentz, ao contrário representava o imigrante invasor, cuja a única intenção era colonizar e dominar os povos mais fracos, ele era filho de um general alemão, e a vida de camponês não lhe aprazia.
Como no livro Gênesis; Lentz como Josué, foi para Canaã, para expulsar os filisteus e cananeus que lá viviam, tomando-lhes a terra e os escravizando.

Milkau por fim levanta sua casa e Lentz resolve ficar com ele, pois não tinha coragem de abandoná-lo. Ele se ocupa então das compras e viagens da casa. Os dois tinham visão de mundo e ambições diferentes, enquanto Lentz queria sempre prosperar e ter poder, Milkau tinha pretensão apenas de viver em seu pedaço de terra com paz e justiça. Ele queria uma vida simples ao lado de pessoas simples, e Lentz considerava isso como uma existência inútil. Um dia acontece uma festa no sobrado de Jacob Müller, e lá Milkau conhece Maria Perultz, uma colona que possui uma triste e solitária história que acaba por comover Milkau.
Lentz e Milkau tomam rumos diferentes.

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Lentz desgostoso com sua solidão, perseguido com seus sonhos de grandeza da raça ariana, desconsolado por vislumbrar a realidade de sua existência.

"O criador lutou com o próprio espírito e o espírito, como uma força diabólica, indestrutível, venceu-o, criando sempre a mesma expressão, sempre as formas ele só. Ele... E que saíam da força solitária e desdenhosa, acompanhavam-no eternas e fatais. Lentz horrorizava-se de se ver a si mesmo, numa multiplicação infernal. Do alto da montanha, aonde chegara, precipitou- -se, fugindo da multidão de fantasmas que o perseguiam amorosos e escravos e que eram ele, sempre ele... Aproximou-se do rio, voou sobre este num impulso de salvação, num desejo estranho de aniquilamento, de alívio... e parou. Sobre o cristal das águas a sua imagem o espreitava para o seguir ainda na morte."

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A triste história de Maria:
Maria e sua mãe moravam junto com um velho, Augusto Kraus, o filho dele, Franz Kraus, a nora Ema e o neto Moritz. Maria tinha um relacionamento amoroso com Moritz, mas a família desaprovava, pois desejava que ele se casasse com uma mulher rica chamada Emília. Quando o velho Augusto morre, tudo se complica para Maria. Ema envia Moritz para Jequitibá para ficar com Emília, ele parte contente, isso deixa Maria triste e desgostosa.
Maria descobre que está grávida de Moritz, e espera que ele volte para contar-lhe. Porém, sua família começa a desconfiar, e planeja uma maneira de livrar-se dela. Começam a trata-la muito mal e rigorosamente, a enchem de trabalho e quase não lhe dão comida. Um dia, trêmula e exausta Maria acaba deixando cair um prato no chão. Ema com raiva a expulsa da casa. Ela pede auxílio a um pastor da cidade, mas Ema tem grandes influências sobre ele, e por isso acaba não ajudando Maria.
Ela parte para a vila em busca de abrigo. Encontra uma estalagem, onde ela empenha sua trouxa de roupas para conseguir comida e um lugar para dormir. Milkau então, com pena de Maria, a leva para a casa de uns colonos, onde ela começa a trabalhar num cafezal. Um dia Maria acaba dando à luz ao bebê sozinha no meio do cafezal, e logo após cai sem forças. Uns porcos que estavam por perto aproximam-se para lamber o bebê ensanguentado e ele acaba falecendo. A filha dos colonos viu a cena e sem perguntar nada disse aos pais que Maria matou seu filho e o deu de comida para os porcos. Dois dias depois ela estava presa na cadeia de Cachoeiro. Milkau acredita que Maria é inocente e acompanha de perto seu julgamento, mas quando ela é condenada, ele a tira da prisão e foge com ela. Partem então em busca da “terra prometida”, Canaã.
Vendo Maria, cansada e desesperançosa da fuga que empreendiam, Milkau falou:
"– Não te canses em vão... Não corras... É inútil... A terra da Promissão, que eu te ia mostrar e que também ansioso buscava, não a vejo mais... Ainda não despontou à Vida. Paremos aqui e esperemos que ela venha vindo no sangue das gerações redimidas."

Canaã é um livro belíssimo, onde Graça Aranha traça a realidade brasileira e o abismo social já existente. Além disso trata do preconceito de classes.
O próprio título emprestado do Gênesis, invoca à busca por algo novo, por uma nova chance, por um novo começo.
"Paremos aqui e esperemos que ela venha vindo no sangue das gerações redimidas."
O livro inaugura um período pré-modernismo, com uma linguagem mais direta e que retrata a realidade do Brasil.

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Fontes:


wikipedia.org

isabelacarvalhoban.wixsite.com/amantesdelivros
google.com.br/imigracaoalema
colegioplante.com.br
livroseresumos.com.br/canaa




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