Olá, pessoal!
Vamos falar hoje de um movimento das artes brasileiras nas décadas de 70, 80 e 90 chamada de arte marginal ou geração mimeógrafo.
Para quem nunca viu um mimeógrafo funcionando
Na música um dos grandes representantes desse movimento foi Luís Melodia.
Outro representante importante na música foi Jorge Mautner, no vídeo abaixo cantando "Maracatu atômico" com Moska.
O movimento dito marginal, deu-se no final da década de 70, inicio da década de 80 e foi até a década de 90, e serviu como uma espécie de contracultura.
Foram anos de ditadura e de censura, e esses poetas se utilizavam de simples mimeógrafos para produzir seu trabalho, que eram vendidos em bares, praças, teatros e cinemas.
O poeta passou a ser totalmente responsável pela criação, reprodução e divulgação da sua poesia. Fora dos meios habituais de edição e divulgação das obras, usavam os seus próprios meios para reproduzir e divulgar os seus poemas. Utilizavam mimeógrafos para copiar seus textos e realizar pequenas tiragens que eram comercializadas a baixo custo, de mão em mão.
Destacamos alguns desses poetas:
Chacal
Nascido no Rio de Janeiro, o nome “Chacal” é pseudônimo de Ricardo de Carvalho Duarte. Ao lado de Cacaso, destacou-se como poeta marginal na geração mimeógrafo.
Poeta e letrista brasileiro, Chacal mimeografou sua obra “Muito Prazer” em 1971.
Paulo Leminski foi outro importante poeta da geração mimeógrafo.
Poeta curitibano e grande representante da poesia marginal, Paulo Leminski Filho foi escritor, crítico literário, tradutor e professor.
Escreveu contos, poemas, haicai (poesia curta de origem japonesa) , ensaios, biografias, literatura infanto-juvenil, traduções e, além disso, realizou parcerias musicais.
Publicou seus primeiros poemas na revista concretista “Invenções” e colaborou com outras revistas de vanguarda.
Verdura, composta por Paulo Leminski, do LP "Outras Palavras" de Caetano Veloso.
Antônio Carlos Ferreira de Brito, conhecido como Cacaso, foi escritor, professor, crítico e letrista.
Poeta mineiro nascido em Uberaba, Cacaso foi um dos maiores representantes da poesia marginal.
Sua voz colaborou com o grito de liberdade que o país almejava diante da repressão causada pela ditadura.
Podemos notar essa temática expressa em muitos de seus versos, por exemplo no poema “Lar doce lar”:
“Minha pátria é minha infância: por isso vivo no exílio”.
Deixou um grande legado para a literatura brasileira, com mais de 20 cadernos, alguns em forma de diários, com poemas, fotos e ilustrações.
Poeta piauiense, Torquato Pereira de Araújo Neto foi escritor, jornalista, cineasta (ator e diretor) e letrista de música popular.
Organizou a revista de poesias vanguardistas “Navilouca” (1974) e participou dos movimentos de contracultura como a Tropicália, o Concretismo e a Poesia Marginal.
Zambelê - Gilberto Gil e Torquato Neto
Nas palavras do artista:
“Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela (…). Quem não se arrisca não pode berrar”.
Sua obra que mais se destacada, disposta em dois volumes é: “Torquatália: do lado de dentro” e "Geleia Real”, publicada postumamente, em 2005. Com apenas 28, Torquato cometeu suicídio na cidade do Rio de Janeiro.
Torquato na época vivia deprimido, e tinha feito tratamentos para se livrar do alcoolismo. Uma noite ao chegar de uma festa trancou-se no banheiro e abriu o gás, era 10 de novembro de 1972, um dia antes ele tinha feito 28 anos.
Poetisa, tradutora e crítica literária carioca, Ana Cristina César é considerada uma das principais figuras femininas da geração mimeógrafo.
Suas publicações de edições independentes que merecem destaque são: “Cenas de Abril” e “Correspondência Completa”.
Nicolas Behr é poeta brasileiro nascido em Cuiabá. Foi um grande representante da Geração mimeógrafo e da Poesia Marginal. Lançou sua primeira obra mimeografada em 1977, intitulada “Iogurte com farinha”.
Algumas poesias chamadas de marginal da geração do mimeógrafo:
Rápido e Rasteiro (Chacal)
Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.
Cogito (Torquato Neto)
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.
Soneto (Ana Cristina César)
Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?
Receita (Nicolas Behr)
Ingredientes:
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles
Modo de preparar
dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração
leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos de gerações
às esperanças perdidas
corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos beatles
o mesmo processo usado com os sonhos
eróticos mas desta vez deixe ferver um
pouco mais e mexa até dissolver
parte do sangue pode ser substituído
por suco de groselha
mas os resultados não serão os mesmos
sirva o poema simples ou com ilusões.
Fontes:
todamateria.com.brnormaculta.com.br
wikipedia.org
youtube.com
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