quinta-feira, 23 de março de 2023

Vamos falar do livro Cabocla, de Ribeiro Couto, mais conhecido pelas duas versões apresentadas pela Rede Globo como Telenovela.





O livro foi publicado em 1931, e conta a história de Jerônimo, filho de um um rico comerciante, que devido a sua vida desregrada e de boemia, acaba de descobrir uma lesão no pulmão direito.

"O doutor dissera que eu tinha uma lesão de primeiro grau no pulmão direito. Sua luneta de tartaruga, de cordão preto atrás da orelha, dava-lhe um ar de sábio infalível. Eu não acreditava na lesão, mas acreditava no doutor."

O jovem, acostumado à boa vida e as mordomias que a riqueza do pai lhe proporcionam, espera ir para Europa, mas contrariado é mandado para Vila da Mata, interior esquecido do Espírito Santo, na casa de seu  primo , coronel Bonerges.

Chegando na estação ferroviária de Pau d´Alho encontra, de maneira inesperada, o amor de Zuca – a “Cabocla” – filha do proprietário do hotel da estação ferroviária da vizinha localidade de Pau D’Alho. Esse idílio faria com que se identificasse por completo com o novo ambiente e transformasse seus planos de vida. Trocaria afinal a futura profissão de engenheiro pela de agricultor, estabelecendo-se definitivamente na Serra de Caparaó, onde implantaria fazenda pioneira no cultivo de frutas europeias. O pano de fundo de “Cabocla” retrata com fidelidade a vida simples do interior, desvendando os mistério da “cidadezinha quieta, a vilazinha de aparência morta”, mas que encerra “um mundo de agitações, ciúmes, ambições, heroísmos, conformações”, embora seus habitantes aparentem “brincar de tomar conta da natureza”. 


"Eu ia agradecer a Siá Bina as boas palavras, quando surgiu da cozinha, num vestido de chita vermelha, uma espécie de Nossa Senhora morena, com um rostinho redondo em que tudo era gracioso: o queixo, a boca, o nariz. Apenas a fronte era larga, por cima de uns olhos pretos de expressão austera; parecia que aqueles olhos não sorriam nunca."


O jovem que vivia rodeado de mulheres no Rio de Janeiro, como a bela Pequetita Novaes. Acostumado pela agitação da cidade grande, Jerônimo encontra a paz e o amor que acalmam seu coração.



A menina que, na frente dos pais, apresenta-se de “olhos baixos” e “envergonhada”, muda de comportamento ao ver-se sozinha com Jerônimo. Torna-se falante, ri, confundindo o protagonista:

"Que significava aquele desembaraço, aquele tom? O vestido de chita e o chinelo cara-de-gato, de repente, se me afiguraram um disfarce. Não era mais a filha do José da Estação, era uma menina da cidade em travesti de moça de roça. Minha expressão de surpresa devia parecer-lhe cômica, porque ela se pôs a rir, divertida."

Essa personalidade algo complexa, insinuante, delineada já no Capítulo II, mescla-se ao perfil idealista de Jerônimo, também anunciado desde seu primeiro momento na roça:

"[…] Súbito, pensei em Pequetita Novais, irônica, citadina, com um brilho de malícia nos grandes olhos verdes. Pensei em Pepa la Sevilhana, festiva, mercenária, pública. Uma ternura indefinível me invadiu, não apenas por aquela mocinha, mas também por todas as outras, pelo país afora, nos lugarejos apagados; todas as que, como Zuca, eram criadas nos arranjos da casa, sem vaidades, nem ambições, e amanhã seriam mães, educariam com a mesma simplicidade e para o mesmo fim outras brasileirinhas de cara redonda. Até eu não conhecia do Brasil senão a multidão do Rio, atormentada de dificuldades de dinheiro e do desejo incontentável de divertir-se. Pela primeira vez me pareceu doce o destino de viver obscuramente, acordando com o sol e dormindo com o recolher das galinhas, no ar livre dos campos, longe dos carnavais e dos cassinos."

O  romance trata com simplicidade a vida no campo, a realidade nas falas de seus habitantes, seus gostos nada sofisticados, o ar puro, o canto dos pássaros, a água cristalina do riacho, coisas que juntas trazem tranquilidade e uma felicidade interior muito grande.


O romance foi adaptado para a televisão em 1959, para extinta TV Rio, com Glauce Rocha, como Zuca e Sebastião Vasconcelos, como Jerônimo.

Vinte anos mais tarde em 1979, a TV Globo reapresentou a trama com Glória Pires e Fábio Jr, vivendo o casal principal.


Abertura 1979





 A história foi regrava mais uma vezem 2004, pela Globo, agora com Vanessa Giácomo e Daniel Oliveira vivendo Zuca e Jerônimo.



Abertura da telenovela de 2004




Fontes:

wikipedia.org
google.com
rodrigogurgel.com.br
linguagemviva.com
memoriaglobo.globo.com
youtube.com

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