sábado, 11 de março de 2023

 O nome da rosa de Humberto Eco.


Humberto Eco



O nome da rosa é um livro de 1980 escrito pelo escritor italiano Umberto Eco.

"O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem".

Willian Shakespeare

Umas das grandes curiosidades acerca da obra está relacionada com a escolha do título. O nome da rosa parece ter sido escolhido a fim de deixar que o próprio leitor desse uma interpretação.

Além disso, a expressão "o nome da rosa" era na época medieval uma maneira simbólica de expressar o enorme poder das palavras.

Sendo assim, a biblioteca e as obras proibidas pela Igreja teria total relação com o nome dessa grande obra da literatura.

A narrativa se passa na Itália no período medieval. O cenário é um mosteiro beneditino, onde um frei é chamado para fazer parte de um concílio do clero que investiga crimes de heresia. Entretanto, assassinatos misteriosos começam a ocorrer.

O enredo d'O Nome da Rosa gira em torno das investigações de uma série de crimes misteriosos, cometidos dentro de uma abadia medieval.


'''- Muito me agradou saber - acrescentou o Abade - que em numerosos casos vós haveis decidido pela inocência do acusado. Creio, e mais do que nunca nestes dias tristíssimos, na presença constante do maligno nas coisas humanas - e olhou em torno, imperceptivelmente, como se o inimigo vagueasse entre aquelas paredes -, mas creio também que muitas vezes o maligno opera por causas segundas. E sei que pode impelir as suas vítimas a fazer o mal de tal modo que a culpa recaia sobre um justo, gozando com o fato que o justo seja queimado em lugar do seu súcubo. Freqüentemente, os inquisidores, para darem prova de diligência, arrancam a todo o custo uma confissão ao acusado, pensando que só é bom inquisidor aquele que conclui o processo encontrando um bode-expiatório... - Até um inquisidor pode ser movido pelo diabo - disse Guilherme. - É possível - admitiu o Abade com muita cautela -, porque os desígnios do Altíssimo são imperscrutáveis, mas não serei eu a lançar a sombra da suspeita sobre homens tão beneméritos. É mesmo de vós, como um deles, que eu hoje tenho necessidade."
(p.19)





Quando o monge franciscano Guilherme de Baskerville chega a um monastério beneditino no norte da Itália, em 1327, ele não imaginava o que iria viver nos próximos dias.

Guilherme leva consigo o noviço Adso de Melk, um jovem vindo de uma família da elite que está sob sua tutoria.O narrador da história é o velho Adso, que relembra os acontecimentos em sua juventude. Aqui já é possível perceber o contraste entre a juventude e a velhice, ao colocar a mesma personagem em dois momentos da vida diferentes.

Os dois chegam à cavalo ao enorme mosteiro e são levados a um aposento em que da janela é possível ver um pequeno cemitério. Guilherme observa um urubu rondando uma cova recém coberta e fica sabendo que um jovem pároco havia falecido há pouco tempo em circunstâncias duvidosas.
A investigação

A partir de então, mestre e aprendiz iniciam uma investigação sobre o caso, que é visto como obra do demônio pelos demais religiosos.

Com o passar do tempo, outras mortes ocorrem e Guilherme e Adso buscam relacioná-las e entender o mistério que ronda a instituição religiosa.

Assim, eles descobrem que a existência de uma biblioteca secreta estava interligada aos acontecimentos mórbidos do lugar. Tal biblioteca guardava livros e escrituras considerados perigosos para a Igreja Católica.




Isso porque tais registros continham ensinamentos e reflexões da antiguidade clássica que colocavam em cheque os dogmas católicos e a fé cristã.

Uma das crenças difundidas pelos poderosos do alto clero era a de que o riso, a diversão e a comédia desvirtuavam a sociedade, tirando o foco da espiritualidade e o temor à Deus. Assim, não era recomendado que os religiosos rissem.




Um dos livros proibidos que estava na biblioteca era uma suposta obra do pensador grego Aristóteles que versava justamente sobre o riso.

Guilherme e Adso conseguem, através do pensamento racional e investigativo, chegar até a biblioteca, um local que continha um enorme número de obras. A construção de tal lugar era bastante complexa, o que a transformava em um verdadeiro labirinto.

Os abusos da Igreja e a paixão de Adso.

A trama conta também com cenas que denunciam os abusos da Igreja cometidos contra os camponeses. Eles costumavam fazer doações de comida ao povo pobre em troca de exploração sexual.

Em dado momento, Adso depara-se com uma jovem mulher (a única que aparece no enredo), e os dois envolvem-se sexualmente, em uma cena cheia de erotismo e culpa. Adso passa a desenvolver sentimentos amorosos pela camponesa.



'' Só o bibliotecário recebeu o seu segredo do bibliotecário que o precedeu, e comunica-o, ainda em vida, ao bibliotecário ajudante, de modo que a morte não o surpreenda privando a comunidade daquele saber. E os lábios de ambos estão selados pelo segredo. Só o bibliotecário, além de saber, tem o direito de se mover no labirinto dos livros, só ele sabe onde encontrá-los e onde repô-los, só ele é responsável pela sua conservação. Os outros monges trabalham no scriptorium e podem conhecer o elenco dos volumes que a biblioteca encerra. Mas um elenco de títulos freqüentemente diz muito pouco, só o bibliotecário sabe, pela colocação do volume, pelo grau da sua inacessibilidade, que tipo de segredos, de verdades ou de mentiras o volume encerra. Só ele decide como, quando e se o fornece ao monge que faz a sua requisição, por vezes depois de me ter consultado. Porque nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais por um espírito piedoso, e os monges, enfim, estão no scriptorium para levar a cabo uma obra precisa, para a qual devem ler certos volumes e não outros, e não para seguir qualquer insensata curiosidade que os colha, quer por debilidade da mente, quer por soberba, quer por sugestão diabólica. - Portanto, também há na biblioteca livros que contêm mentiras..."
(p.27)



A hegemonia da Igreja Católica, cujo apogeu se deu durante o período medieval, estaria em risco se fossem reveladas as contradições e a hipocrisia existentes no mosteiro. Adso e seu mestre descobrem os autores dos assassinatos que impediam o acesso à biblioteca dos monges pois os livros continham informações que os incriminavam. As pessoas, ao manusearem um livro que esclarecia os acontecimentos, eram envenenadas por uma substância mortífera.

O ponto forte para a solução do mistério foram as manchas pretas na língua e no dedo dos monges causado pelo veneno posto na obra.



Eis que chega ao monastério um antigo desafeto de Guilherme, Bernardo Gui, um poderoso frei que é um dos braços da Santa Inquisição. Ele vai até lá para apurar denúncias de atos hereges e bruxarias.

Bernardo se coloca então como um obstáculo para que Baskerville e Adso concluam suas investigações, que já estão causando problemas entre a alta cúpula.

Alguns acontecimentos ocorrem envolvendo dois frades e a camponesa por quem Adso é apaixonado. Os três são indiciados como hereges, sendo que a moça é vista como bruxa.

Um tribunal é realizado com a intenção de que eles confessem os assassinatos e sejam posteriormente queimados na fogueira.

No momento em que os réus são colocados na fogueira e a maioria das pessoas acompanhava o desenrolar dos fatos, Guilherme e Adso vão até a biblioteca para resgatar algumas obras.

O desenrolar dos fatos

Lá eles se deparam com Jorge de Burgos, um dos párocos mais idosos do mosteiro, que mesmo cego e decrépito era o verdadeiro "guardião" da biblioteca. Guilherme então se dá conta de que todas as mortes tinham como responsável o velho Jorge.Em um momento de confusão, inicia-se um grande incêndio na biblioteca, onde Jorge de Burgos acaba morrendo e Adso e seu mestre saem com vida carregando alguns livros. Por conta do incêndio no mosteiro, as atenções são desviadas do julgamento e das fogueiras, assim, a camponesa consegue escapar.


Incêndio na biblioteca





Adso e Guilherme saem do local e seguem rumos distintos na vida, nunca mais encontrando-se. Resta a Adso os óculos de seu mestre e a lembrança da paixão pela camponesa, que ele nunca soube o nome.

O livro foi levado ao cinema em 1986 com direção de Jean-Jacques Annaud, estrelando : Sean Connery, Christian Slater, Elva Baskin.


O nome da rosa - trailer



'''Não me resta senão calar-me. O quam salubre, quam iucundum et suave est sedere in solitudine et tacere et loqui cum Deo! Dentro em pouco reunir-me-ei ao meu principio, e já não creio que seja o Deus da glória de que me tinham falado os abades da minha ordem, ou de alegria, como julgavam os menoritas de então, talvez nem sequer de piedade. Gott ist ein lautes Nichts, ihn rührt kein Nun noch Hier... Em breve me entranharei neste deserto amplíssimo, perfeitamente plano e incomensurável, em que o coração verdadeiramente pio sucumbe bem-aventurado. Afundar-me-ei na treva divina, num silêncio mudo e numa união inefável, e neste afundar-se se perderá toda a igualdade e toda a desigualdade, e nesse abismo o meu espírito se perderá a si mesmo, e não conhecerá nem o igual nem o desigual, nem mais nada: e serão esquecidas todas as diferenças, estarei no fundamento simples, no deserto silencioso onde jamais se vê diversidade, no íntimo onde ninguém se encontra no seu próprio lugar. Cairei na divindade silenciosa e desabitada onde não há obra nem imagem."
(p.405)






Fontes:

wikipedia.org
pensador.com
revistaprosaversoearte.com
knook.com.br
meuartigo.brasilescola.com.br
culturagenial.com
adorocinema.com
youtube.com
google.com

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