1. Marselha —
A chegada No dia 28 de fevereiro de 1815, o vigia de Notre-Dame de la Garde avistou os três mastros do Pharaon, veleiro proveniente de Esmirna, Trieste e Nápoles. Como de praxe, um piloto-costeiro partiu imediatamente do porto, passou rente ao castelo de If e abordou a embarcação entre o cabo de Morgion e a ilha de Riou. Como de praxe também, não demorou para a plataforma do forte SaintJean ficar apinhada de curiosos; pois a chegada de um paquete é sempre um grande acontecimento em Marselha, sobretudo quando este paquete, como o Pharaon, foi construído, aparelhado e arrimado nos estaleiros da velha Fócida 1 e quando pertence a um armador da cidade. Enquanto isso, o brigue avançava. Atravessara com destreza o estreito que algum abalo vulcânico escavou entre a ilha de Calasareigne e a ilha de Jaros; dobrara Pomègue, e seguia em frente sob suas três velas da gávea, sua polaca e sua brigandina, mas tão lentamente e de modo tão triste que os curiosos, com o instinto que pressagia a desgraça, perguntavam-se que incidente poderia ter acontecido a bordo. Os peritos em navegação, porém, constatavam que, se porventura um incidente acontecera, não devia ter sido no corpo da embarcação, pois esta avançava nas perfeitas condições de um navio normalmente pilotado: a âncora estava no poço, os ovéns do gurupés, desenganchados; e, ao lado do piloto, que se preparava para manobrar o Pharaon pelo estreito acesso ao porto de Marselha, postava-se um moço de gestos rápidos e olhar irrequieto, que supervisionava cada movimento do paquete e repetia cada ordem do piloto. (Cap 1)
Edmond Dantès, um audacioso mas ingênuo marinheiro de 19 anos, é preso sob falsa acusação de ser espião de Napoleão Bonaparte, em 1815, por ter ido à Ilha de Elba, e ter recebido uma carta do mesmo em seu exílio. Na verdade, era vítima de um complô entre três pessoas interessadas: o juiz de Villefort, filho do destinatário da carta de Napoleão, que, mesmo atestando sua inocência, quis silenciá-lo; seu amigo, Danglars, que desejava o posto de capitão do navio, já que Dantès recebeu o posto por mérito; Fernand Mondego, catalão interessado em Mercédès (noiva de Dantès), que invejava Dantès por ser o alvo de seu amor, tornando-se o futuro marido da catalã (que, porém, nunca o esqueceu).
Após 14 anos na prisão do Castelo de If, Edmond consegue fugir, angariando uma grande fortuna, devido a ajuda de um amigo, vizinho de cela, o abade Faria, um preso político que lhe indicou o local do tesouro do Cardeal Spada, além de tê-lo educado por vários anos sobre diversas artes e ciências (química, esgrima, línguas e história em geral).
Capítulo 20
cemitério do castelo de If
"Mas agora irão me
esquecer aqui, e só sairei da minha masmorra como Faria.
Ao dizer isso, contudo, Edmond ficou imóvel, os olhos esbugalhados,
como um homem golpeado por uma ideia súbita, mas a quem essa ideia
apavora; levantou-se de repente, levou a mão à testa como se fosse vítima
de uma vertigem, deu duas ou três voltas ao redor da cela e voltou a parar
diante da cama...
— Oh, oh! — murmurou. — Quem me envia esse pensamento? Sereis
vós, meu Deus? Já que apenas os mortos saem livremente daqui,
ocupemos o lugar dos mortos.
E sem se dar tempo de voltar atrás nessa decisão, como que para não dar
chance ao pensamento de destruir aquela resolução desesperada, debruçou-se em direção ao saco hediondo, abriu-o com a faca que Faria fabricara,
retirou o cadáver do saco, levou-o para sua cela, deitou-o em sua cama,
vestiu-o com o farrapo de pano que ele próprio tinha o costume de usar,
cobriu-o com sua coberta, beijou uma última vez aquela fronte gelada,
tentou fechar aqueles olhos rebeldes, que insistiam em permanecer
abertos, aterradores pela ausência de pensamento, girou a cabeça para a
parede, de modo a que o carcereiro, ao trazer a refeição da noite, julgasse
que ele estava deitado, como era seu hábito, voltou a entrar no túnel,
puxou a cama para a muralha, entrou na outra cela, pegou no armário a
agulha, a linha, tirou seus andrajos para que sentissem claramente a carne
nua sob a lona, enfiou-se no saco rasgado, assumiu a postura do cadáver e
fechou a costura por dentro.
Se porventura alguém entrasse naquele momento, poderia ouvir seu coração batendo.''
Mesmo não acreditando muito, Edmond investe na aventura e confirma a história de seu velho amigo de prisão, tornando-se milionário. Até lá, sobrevive trabalhando com piratas, incluindo Jacopo, marinheiro do navio "The Young Amelia". Junta ao seu séquito, o corso Bertuccio e a princesa grega, Haydée, cujo pai, o sultão Ali Paxá, foi destronado.
Anos depois, Edmond cria uma grande teia para se vingar dos seus inimigos, assumindo vários nomes: Lord Wilmore na Inglaterra; Simbad, na Itália, e também o misterioso abade Busoni. Salva a família de seu ex-patrão, Morrel, da miséria. Salva Albert, Visconde de Morcerf, filho de Mondego, agora Conde de Morcerf, de um sequestro em Roma, para se aproximar da sociedade parisiense. No papel de Conde de Monte-Cristo (o tradicional "nobre de toga" — noble de robe — da época, ou burguês que compra título de nobreza), é imediatamente reconhecido por Mercédès, criando divisões entre seus inimigos. Em sua vingança, provoca o seguinte :Faz com que Danglars, agora Barão, desmanche o noivado de sua filha Eugénie com Albert (do qual não se gostavam) para casar com o Marquês Andrea Cavalcanti. Danglars, com suas várias ações que faliram, foge para Roma, é capturado e passa um tempo sob cativeiro de Luigi Vampa, sendo depois perdoado por Monte-Cristo.
Mondego, oficial do exército francês, é julgado por má conduta e Haydée o acusa como testemunha. Desonrado, arruinado e abandonado pela família, suicida-se.
Cavalcanti é preso por falsa identidade (seu nome seria Benedetto) e uma série de crimes, e revela no tribunal que é o filho de Villefort, o que enlouquece o juiz, além da suposta morte da filha, Valentine.
A história não acaba sem Edmond juntar Valentine e Maximilien, filho de monsieur Morrel, na Ilha de Monte-Cristo, onde terá seu romance com a grega Haydée.