sábado, 25 de agosto de 2018




Quem diz que gostaria de ter uma vida de conto de fada não sabe do que está falando. O mundo dos livros infantis é cheio de violência, crueldade e – principalmente – pobreza. Peguemos João e Maria, por exemplo. A história narra a vida de uma família que é tão, mas tão pobre que a madrasta (em versões mais antigas da história, a própria mãe) resolve abandonar os filhos na floresta porque os pais não conseguem mais alimentá-los. As crianças vagam pela floresta escura até encontrar a casa de uma bruxa que decide comê-las. Os irmãos Grimm, no prefácio do seu livro de historinhas, contam que João e Maria não era uma peça de ficção – é uma história baseada na realidade, de tão comuns que eram os abandonos de crianças na floresta no século 19.


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Mesmo a bruxa comedora de criancinhas não era uma licença poética. A fome nos séculos – e milênios – passados era extrema e não são raros os registros de gente que partiu para o canibalismo para sobreviver. Arqueólogos descobriram que nossos ancestrais pré-históricos, por exemplo, bem que curtiam comer uns aos outros. Foram encontrados ossos humanos com marcas de dentes, em padrões muito parecidos com os achados em ossos de animais – sinal de que algum ancestral nosso andava roendo restos de carne humana. Também foi encontrado sangue humano em panelas pré-históricas e nas fezes fossilizadas de nossos ancestrais. O hábito de comer pessoas era tão comum que há até marcas genéticas de mecanismos de defesa no nosso DNA, desenvolvidos especificamente para proteger contra doenças que surgem quando se come carne humana.



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Cinderela teve uma, bem cruel. Branca de Neve também. Assim como João e Maria. Poucos personagens são tão frequentes nos contos quanto as madrastas más. Elas são as vilãs favoritas dos contos infantis – mas não são apenas personagens da ficção. Nos séculos passados, boa parte das crianças foi criada por mulheres que não eram as suas mães. E que não necessariamente se preocupavam com seu bem-estar.

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Pouca gente percebe, mas ser obrigado a passar o resto da vida com uma fera monstruosa era um risco real na Europa dos séculos passados. Assim como Bela, de A Bela e a Fera, muitas mulheres se viam forçadas a se casar com seres terríveis e assustadores: maridos arranjados. Durante a maior parte da existência humana, os casamentos foram organizados por conveniência. Juntavam-se duas pessoas por interesses econômicos, políticos e sociais – e não por amor ou afinidade. Mulheres nobres eram cedidas a partir dos 12 anos de idade em troca de alianças políticas entre reinos vizinhos, por exemplo. Para os reis, era muito mais prático presentear o inimigo com uma filha em vez de entrar em guerra com ele. Mas as mulheres mais pobres também não escapavam dos casamentos forçados. Nas camadas populares, elas eram trocadas como mercadoria, já que costumavam vir acompanhadas do dote – um montante de dinheiro que a família da noiva era obrigada a pagar à do noivo. Da Idade Média ao século 18, a transferência do dote correspondia ao maior afluxo de dinheiro que um homem recebia em toda sua vida. Isso tornava as mulheres reféns dos interesses alheios.


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Para piorar, uma vez que se casavam com seus noivos arranjados, elas se tornavam posse dos maridos. A missão das esposas era servir e obedecer aos cônjuges. Em algumas regiões da Europa, as mulheres perdiam inclusive os direitos de possuir terras ou de fazer dívidas ao se casar. Aos homens eram atribuídos os direitos de manter a mulher sob controle – mesmo que à força. “Um cão, uma nogueira e uma mulher – quanto mais se bate, melhores eles ficam”, dizia um ditado inglês do século 16. Bater nas esposas não era crime, e até os séculos 8 e 9 d.C. os maridos tinham o direito de matar as suas esposas em casos de desavenças. Claro que nem todos os maridos eram cruéis e violentos – mas se dar bem na roleta dos casamentos era puramente uma questão de sorte. O medo de se casar com “feras” era presente na vida de todas as moças – das camponesas às princesas. A Bela e a Fera é um lembrete dessa realidade. Na história, o monstro aprisiona e se apaixona pela mocinha, que se recusa a casar com ele, porque o acha repugnante. Ao final de tudo, quando a Fera está à beira da morte, e se demonstra bondosa, a protagonista se pergunta: “Por que me recusei a casar com ele? Eu seria mais feliz com o monstro do que as minhas irmãs são com seus maridos. Nem inteligência, nem beleza fazem uma mulher feliz, mas virtude, doçura e complacência, e a Fera tem todas essas qualidades”. Menos mau, né, Bela?

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Fontes:
super.abril.com.br
google.com.br



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