quarta-feira, 19 de abril de 2017

Olá, pessoal !

Hoje é aniversário de nascimento de uma dos maiores poetas brasileiros, Manuel Bandeira.



Manuel Carneiro de Souza Filho, nasceu no Recife, Pernambuco em 19 de abril de 1886 e morreu no Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1968.

Sua casa na Rua da União, 263, bairro de Boa Vista  em Recife onde passou a infância é citada no poema "Evocação ao Recife".

Hoje o local é um centro cultural chamado de Espaço Pasárgada, em alusão ao local mítico do poema "Vou me embora de Pasárgada"

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água.
Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


Mudou-se para o Rio de Janeiro, com a família, e estudou no famoso colégio Pedro II. Depois de terminar o curso de Humanidades foi para São Paulo estudar arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo, curso que precisou interromper, devido à tuberculose.

Passou por várias clínicas em Petrópolis, Teresópolis e Campanha no Rio de Janeiro, para cuidar da enfermidade. Mais tarde foi para Suíça, onde ficou internado no Sanatório Clavadel, de junho de 1913 até outubro de 1914.

Devido ao início da Primeira Guerra Mundial, volta ao Brasil.
Em 1917, lança o livro "A Cinza das Horas" com 200 exemplares, custeado por ele mesmo.

Livro com  tom fúnebre e melancólico devido a doença do poeta, com estilo parnasiano-simbolista.

Abaixo o poema "Epígrafe" do livro Cinza das Horas.


EPÍGRAFE

Sou bem nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugiu como um furacão,

Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó -
Ah, que dor!
Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu.

Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.

- Esta pouca cinza fria.

1917

A linda Canção "Vambora" de Adrina Calcanhoto, cita o livro "Cinza das Horas"



Foi professor de Literatura no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Em 1940 foi eleito para Academia Brasileira de Letras.

Participou, mesmo que de forma discreta, da Semana de Arte Moderna. Ele não concordava muito com toda aquela "modernidade", mas o poema "Os sapos" de sua autoria foi lido no palco do Teatro Municipal de São Paulo, por Ronald de Carvalho, em 15 de Fevereiro de 1922, segunda noite do evento.
O poema pertence ao Livro "Carnaval" de 1919

Os Sapos

Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 

Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 

Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 

O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 

Vai por cinquüenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 

Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 

Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 

Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 

Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 

Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 

Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 

Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...



O poema é uma crítica ao estilo "parnasiano", cheio de regras e estilos.

Seu estilo é simples e direto, sua obra denota a melancolia devido a sua doença. No livro "Libertinagem" de 1930, encontramos o poema"Vou me embora pra Pasárgada", onde o poeta idealiza um lugar imaginário, onde ele poderia realizar tudo aquilo que desejava, e não podia devido à doença. "tomar banho de mar", montar cavalo brabo"...

Em "Ritmo Dissoluto" de 1924, seu terceiro livro e um dos que mais gosto, o erotismo, e o desejo, às vezes inatingível, e o lirismo fazem parte das poesias.

Carinho Triste

A tua boca ingênua e triste
E voluptuosa, que eu saberia fazer
Sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegrias,
A tua boca ingênua e triste
É dele quando ele bem quer.

Os teus seios miraculosos,
Que amamentaram sem perder
O precário frescor da pubescência,
Teus seios, que são como os seios intactos das virgens,
São dele quando ele bem quer.

O teu claro ventre,
Onde como no ventre da terra ouço bater
O mistério de novas vidas e de novos pensamentos,
Teu ventre, cujo contorno tem a pureza da linha de mar e
[céu ao pôr do sol,
É dele quando ele bem quer.

Só não é dele a tua tristeza.
Tristeza dos que perderam o gosto de viver.
Dos que a vida traiu impiedosamente.
Tristeza de criança que se deve afagar e acalentar.
(A minha tristeza também!...)
Só não é dele a tua tristeza, ó minha triste amiga!
Porque ele não a quer.

O poema "Pneumotórax" do livro "Libertinagem" de 1930, também fala da doença que o acompanhou pelo resto da vida.


Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. 
A vida inteira que podia ter sido e que não foi. 
Tosse, tosse, tosse. 

Mandou chamar o médico: 
- Diga trinta e três. 
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três... 
- Respire. 

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. 
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? 
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. 

O último poema

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.


Manuel Bandeira morreu em 13 de outubro de 1968, de hemorragia gástrica, e foi enterrado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.


Fontes:

wikipedia.org
espaco-pasargada.blogspot.com.br
lercomereamar.blogspot.com.br
poemasdebandeira.blogspot.com.br
releituras.com/mbandeira_ultimo
youtube.com
estrela da vida inteira - José Olympio - 6ª edição - 1976

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vamos falar hoje de objeto direto e objeto indireto. O objeto direto e o indireto são termos integrantes da oração que completam o se...