Em 13 de fevereiro de 1900 nasceu Gregório Bezerra no pequeno município de Panelas, que hoje abriga pouco mais de 25 mil habitantes nas proximidades de Caruaru, região Agreste de Pernambuco.
De família humilde, precisou começar a trabalhar no corte de cana de açúcar já aos 4 anos de idade. Aos 9 anos já era órfão de pai e mãe. Os proprietários do engenho o levaram para o Recife com a promessa de colocá-lo na escola, o que nunca fizeram. Gregório foi empregado doméstico e depois deixado na rua.
Viveu nas ruas, dormiu sobre os sepulcros do cemitério de Santo Amaro. Trabalhou como carregador de bagagens na Estação Recife de trens, ajudante de pedreiro e jornaleiro. Seus amigos da venda dos diários liam as notícias para ele, analfabeto, que começou a se interessar em política.
Em 1917 trabalhava como ajudante de pedreiro e participou de manifestações por direitos trabalhistas e em apoio à Revolução Soviética, que colocava trabalhadores e pobres da Rússia no centro do poder do outro lado do mundo. Em duas ocasiões acabou detido por participar das manifestações. Passou cinco anos preso na antiga Casa de Detenção, atual Casa da Cultura, no centro do Recife. Deixou a prisão aos 22 anos decidido a se tornar militar. Se alfabetizaria aos 25 anos de idade, já no Exército, onde passaria 13 anos e chegaria à patente de sargento.
Em 1935, participou da fundação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização de massas orientada pelo PCB. Com o fechamento da ANL pelo governo federal, a organização passou a funcionar na clandestinidade. Assim, Bezerra foi encarregado de participar da preparação de uma insurreição militar no Recife. Quando eclodiu o levante em Natal, em 23 de novembro de 1935, recebeu ordens para desencadear a luta na capital pernambucana no dia seguinte, desarticulada pelos militares locais. Preso, Bezerra foi submetido a torturas. Em 1937, foi condenado a 27 anos e meio de prisão, sendo anistiado em abril de 1945.
Com a legalização do PCB, ainda em 1945, foi o principal candidato do partido a deputado por Pernambuco à Assembleia Nacional Constituinte. Permaneceu na Câmara somente até janeiro de 1948, quando os parlamentares eleitos pelo PCB tiveram seus mandatos cassados. Uma semana depois de ter deixado a Câmara, Gregório Bezerra foi preso sob a acusação de ter incendiado um quartel em João Pessoa. Absolvido por falta de provas, ainda assim viveu na clandestinidade durante nove anos.
Foi novamente preso por ocasião do golpe militar que depôs o presidente João Goulart, em 31 de março de 1964. Ficou famosa a sua fotografia amarrado pelo pescoço, sendo arrastado pelas ruas do Recife.
Difícil não se perturbar com a narração das torturas. Da “coiçada de fuzil no estômago” aos golpes do cano de ferro na cabeça, dos pés mergulhados em ácido de bateria de carro (“A dor que senti não sei descrever”, conta ele) ao quase degolamento provocado pelas três cordas amarradas em seu pescoço, pelas quais era arrastado, “num desfile macabro”, pelo bairro de Casa Forte, na capital pernambucana.
Em abril, teve seus direitos políticos cassados por dez anos, com base no primeiro Ato Institucional, editado naquele mês. Em 1967, foi condenado a 19 anos de prisão. Dois anos depois, foi solto em troca do embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado por grupos de oposição armada. Ficou cerca de dez anos exilado.
Gregorio Bezerra foi um ícone da luta contra a ditadura. Existem relatos de que quando o avião Hércules pouso em Recife para pegá-lo como um dos presos trocados pelo embaixador americano, ele entrou no avião algemado. Com sua altivez chamou o cabo e pediu que afrouxasse suas algemas, no que foi imediatamente atendido.
Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil. Nas eleições de 1982, candidatou-se à Câmara dos Deputados por Pernambuco, na legenda do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), obtendo apenas a suplência. Em 1979, Gregório Bezerra publicou o livro “Memórias”, relançado em 2011, pela Boitempo Editorial. Faleceu no dia 21 de outubro de 1983, em São Paulo.
Fontes:
wikipedia.org
brasildefato.com.br
memoriasdaditadura.org.br
google.com
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