No dia 10 de março de 1884 morria, em Ouro Preto (MG), Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, escritor conhecido pelo livro "A Escrava Isaura".
Sua obra mais conhecida foi publicada pela primeira vez em 1875. A história é sobre a saga de uma bela escrava branca que vivia em uma fazenda do Vale do Paraíba, na região de Campos, no Rio de Janeiro.
A ESCRAVA ISAURA
Bernardo Guimarães
Capítulo 1
"Era nos primeiros anos do reinado do Sr. D. Pedro II. No fértil e opulento município de Campos de Goitacases, à margem do Paraíba, a pouca distância da vila de Campos, havia uma linda e magnífica fazenda. Era um edifício de harmoniosas proporções, vasto e luxuoso, situado em aprazível vargedo ao sopé de elevadas colinas cobertas de mata em parte devastada pelo machado do lavrador. Longe em derredor a natureza ostentava-se ainda em toda a sua primitiva e selvática rudeza; mas por perto, em torno da deliciosa vivenda, a mão do homem tinha convertido a bronca selva, que cobria o solo, em jardins e pomares deleitosos, em gramais e pingues pastagens, sombreadas aqui e acolá por gameleiras gigantescas, perobas, cedros e copaíbas, que atestavam o vigor da antiga floresta. Quase não se via aí muro, cerca, nem valado; jardim, horta, pomar, pastagens, e plantios circunvizinhos eram divididos por viçosas e verdejantes sebes de bambus, piteiras, espinheiros e gravatás, que davam ao todo o aspecto do mais aprazível e delicioso vergel."
"Escrava Isaura" foi adaptada para a TV e virou novela na Rede Globo (1976/1977) e na Rede Record (2004). A versão da Globo foi exportada para cerca de 150 países. Nascido em Ouro Preto, no dia 15 de agosto de 1825, Bernardo Guimarães se formou em Direito em São Paulo, em 1847, época em que se tornou amigo dos poetas Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa. No começou da sua carreira, escreveu alguns poemas pornográficos. Entre os mais conhecidos estão "O Elixir do Pajé" e "A Origem do Mênstruo" - ambas publicadas clandestinamente em 1875.
O Elixir do Pajé de (estrofes I e II)
Benardo Guimarães
Que tens, caralho, que pesar te oprime
que assim te vejo murcho e cabisbaixo
sumido entre essa basta pentelheira,
mole, caindo pela perna abaixo?
Nessa postura merencória e triste
para trás tanto vergas o focinho,
que eu cuido vais beijar, lá no traseiro,
teu sórdido vizinho!
Que é feito desses tempos gloriosos
em que erguias as guelras inflamadas,
na barriga me dando de contínuo
tremendas cabeçadas?
Qual hidra furiosa, o colo alçando,
co'a sanguinosa crista açoita os mares,
e sustos derramando
por terras e por mares,
aqui e além atira mortais botes,
dando co'a cauda horríveis piparotes,
assim tu, ó caralho,
erguendo o teu vermelho cabeçalho,
faminto e arquejante,
dando em vão rabanadas pelo espaço,
pedias um cabaço
Seu livro mais bem aceito pela crítica foi "O seminarista", publicado pela primeira vez em 1872. A história questiona o celibato dos padres.
"No seminário o menino Eugênio era um exemplo de boa conduta e aplicação. Cordato, dócil e obediente, depressa granjeou a benevolência e estima dos padres, e a simpatia de seus companheiros. No estudo, porém, não deu a princípio muito boas contas de si, nem apresentou os progressos que eram de esperar de sua boa memória e inteligência. A imagem de Margarida e a saudade do lar paterno enchiam-lhe de sombra o espírito e o coração para deixarem lugar às fastidiosas lições de gramática latina. O compêndio de Antônio Pereira foi para ele um pesadelo, diante do qual teve de gemer e suar por alguns meses. Lia e relia as páginas da lição a ponto de as esfarelar para conseguir gravar na memória algumas palavras. É que eram seus olhos somente que passeavam por sobre aquelas letras mortas, que nada diziam ao seu espírito."
O seminarista - Capítulo V - parágrafos I e II
Apesar de ter exercido alguns cargos como juiz municipal, jornalista, professor de retórica e poética e ter ensinado latim e de francês, Bernardo Guimarães morreu pobre. Em 1881, foi homenageado pelo imperador Dom Pedro II, além de ter sido membro da Academia Brasileira de Letras.
Fontes:
seuhistory.com
dominiopublico.gov.br
google.com
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