Vamos falar da escritora e poeta Hilda Hilst.
Autora de poesia, prosa, teatro e crônica, Hilda era também considerada uma figura fascinante – em certa fase da vida, por exemplo, deixava gravadores ligados pela casa porque queria captar vozes de espíritos.
Amavisse
Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.
Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.
(II)
* * *
Descansa.
O Homem já se fez
O escuro cego raivoso animal
Que pretendias.
Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.
Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.
(II)
* * *
Descansa.
O Homem já se fez
O escuro cego raivoso animal
Que pretendias.
Nascida em Jaú (SP) em 1930, tinha cinco anos quando viu o pai, que era esquizofrênico, ser internado em um sanatório. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e, após uma temporada na Europa, passando por Grécia, Itália e França, passou a se dedicar à literatura.
Dentre os autores favoritos, estavam Samuel Beckett, Fernando Pessoa e Rainer Maria Rilke. A estreia foi aos 20 anos de idade, com um livro de poesia, "Presságio".
Quando tinha 35, em 1966, passou a morar numa chácara em Campinas (SP), a famosa Casa do Sol. Morou lá até o fim da vida, cercada de cachorros. Produziu muito e recebeu, para períodos de residência artística, autores como Caio Fernando Abreu.
Após o período de intensa produção nas décadas seguintes, Hilda anunciou "adeus à literatura séria" nos anos 1990, porque estava "irritada com o parco alcance de sua escrita".
Tetralogia obscena
Veio, então, a chamada "fase pornográfica", com a polêmica tetralogia obscena, que inclui o famoso "Caderno rosa de Lori Lamby".
Da autora homenageada da Flip 2018, a Companhia das Letras lançou recentemente a "Da poesia", que reúne pela primeira vez a obra poética completa da escritora , e "Da prosa", que reúne em dois volumes toda a ficção de Hilda Hilst, incluindo "A obscena senhora D" e "O caderno rosa de Lory Lamby".
O caderno rosa de Lory Lamb é um livro polêmico, obsceno, repugnante, crítico, engraçado. Como a própria Hilda Hilst o descreve, “é um ato de agressão, não é um livro, é uma banana”. Se alguns acreditaram que a autora estava louca por publicar uma obra tão diferente daquelas que vinha escrevendo, o tempo provou que ela, na verdade, estava mais lúcida do que nunca. Com o Caderno Rosa, primeiro livro de sua tetralogia obscena, seguido por “Contos d’escárnio. Textos Grotescos”, “Cartas de um sedutor” e “Bufólicas”, Hilda Hilst alcançou seu objetivo primeiro. Qual seria esse objetivo? Ser lida.
Antes da Companhia das Letras, a Globo Livros editou a obra de Hilda Hilst até 2016. Em 2014, foi lançado "Pornô Chic", compilação dos títulos da tetralogia obscena. No ano anterior saiu "Fico besta quando me entendem", com vinte entrevistas reunidas com HIlda.
Sobre sua atividade, Hilda certa vez disse em uma entrevista:
"A poesia é um dom divino, uma febre física. É uma espécie de êxtase que vem de repente e acaba também de repente".
Hilda Hilst, que foi casada com o escultor Dante Casarini e não teve filhos, morreu na madrugada do dia 04 de fevereiro de 2004, aos 73 anos, em Campinas (interior de São Paulo). Internada havia 35 dias no Hospital das Clínicas da Unicamp para a realização de uma cirurgia, após sofrer uma queda que causou uma fratura no fêmur, a escritora tinha deficiência crônica cardíaca e pulmonar, o que agravou seu quadro clínico. Hilda Hilst deu entrada no Hospital das Clínicas no dia primeiro de janeiro. A escritora teve falência múltipla de órgãos e sistemas.
Após seu falecimento, o amigo Mora Fuentes liderou a criação do Instituto Hilda Hilst. O IHH tem como primeira missão a manutenção da Casa do Sol, seu acervo e o espírito de ser um porto seguro para a criação intelectual.
Fontes:
g1.globo.com
coolturalblog.wordpress.com
google.com.br
cartapotiguar.com.br
portugues.uol.com.br
wikioedia.org
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