Olá, pessoal !
Hoje vamos falar dos desfiles das escolas de samba do carnaval carioca.
A fundação do primeiro rancho do Rio, o Reis de Ouro, foi em 1894, quando o militar Hilário Jovino Ferreira adaptou de sua Bahia natal as procissões realizadas durante o Dia de Reis.
Essa manifestação logo caiu no gosto popular e se multiplicou, atraindo famílias e representando o lado popular da festa. Os cortejos, caracterizados pelas fantasias e músicas feitas especialmente para a ocasião, aconteciam nas segundas-feiras.
A trilha sonora que embalava esses desfiles era bem diferente do samba-enredo, gênero que nem existia na época. As pessoas cantavam os principais sucessos do ano anterior, muitas vezes em versões adaptadas para a polca ou o maxixe. Os ranchos eram animados pelas marchas-rancho, canções de andamento lento cujas grandes referências são Ó Abre-Alas, de Chiquinha Gonzaga, e As Pastorinhas, de Noel Rosa e Braguinha.
O abre alas - Linda e Dircinha Batista
As pastorinhas - Noel Rosas e Braguinha
Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma festa de origem portuguesa que, na colônia, era praticada pelos escravos. Estes saíam pelas ruas com seus rostos pintados, jogando farinha e bolinhas de água de cheiro nas pessoas.
Por volta de meados do século XIX, no Rio de Janeiro, a prática do entrudo passou a ser criminalizada, principalmente após uma campanha contra a manifestação popular veiculada pela imprensa. Enquanto o entrudo era reprimido nas ruas, a elite do Império criava os bailes de carnaval em clubes e teatros. No entrudo, não havia músicas, ao contrário dos bailes da capital imperial, onde eram tocadas principalmente as polcas.
As marchinhas de carnaval surgiram também no século XIX, e o nome originário mais conhecido é o de Chiquinha Gonzaga, bem como sua música O Abre-alas. O samba somente surgiria por volta da década de 1910, com a música Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida, tornando-se ao longo do tempo o legítimo representante musical do carnaval.
Pelo telefone - Donga
Nesse vídeo histórico vemos: Chico Buarque, Donga, Hebe Camargo, Pixinguinha, Joel de Almeida.
Locais do Rio como Praça Onze e Cidade Nova se tornaram grandes berços do samba. Com a sua popularidade, compositores, músicos e passistas se reuniam regularmente para exibir seus talentos, formando associações e clubes que competiam uns contra os outros. A formação desses grupos levou ao surgimento das escolas de samba, com o primeiro desfile oficial em 1932.
Praça Onze
Conforme o gosto pelo samba crescia, crescia também a competição, levando à formação da Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro, entidade que organiza os desfiles das escolas de samba no Carnaval do Rio. A primeira escola de samba a ser formada foi a “Deixa Falar” em 1928. Desde então, as escolas de samba evoluíram ao longo dos anos, formando grandes organizações que se assemelham às empresas modernas.
As escolas de samba e o carnaval carioca passaram a se tornar uma importante atividade comercial a partir da década de 1960. Empresários do jogo do bicho e de outras atividades empresariais legais começaram a investir na tradição cultural. A Prefeitura do Rio de Janeiro passou a colocar arquibancadas na avenida Rio Branco e a cobrar ingresso para ver o desfile.
Em 1959, o Salgueiro inovou ao contratar o casal de artistas plásticos Dirceu e Marie Louise Nery para organizar seu desfile. Com fantasias e alegorias mais bem acabadas, a escola foi aplaudida pelo público, mas ficou com o vice-campeonato. No ano seguinte, persistiu na inovação ao dar espaço para que Fernando Pamplona iniciasse uma revolução estética e temática nos desfiles. O professor da Escola Nacional de Belas Artes começou a transformá-los no espetáculo luxuoso que são atualmente e, ao mesmo tempo, aproximou-os mais do povo ao criar enredos sobre elementos da cultura afro-brasileira, rompendo com temas que apenas celebravam figuras da história oficial.
Em 1984 foi inaugurado o Sambódromo, com duas noites de desfiles, no domingo, onde a campeã foi a Portela e na segunda-feira onde a campeã foi a Mangueira, que foi também a escolhida a campeã do Carnaval de 1984. Nesse ano a Globo não transmitiu o carnaval e a Rede Manchee fez a transmissão.
Em 1985 a campeão foi a Mocidade Alegre com o samba enredo "Ziriguidum".
O antológico enredo da Beija-Flor “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia” perdeu para o inesquecível “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”, da Imperatriz. A Arquidiocese proibiu a presença de uma reprodução do Cristo Redentor em um dos carros que iria compor o desfile da Beija-Flor, de Joãozinho Trinta. A alegoria entrou na passarela mesmo assim, coberta por um plástico preto e com uma faixa dizendo: "Mesmo proibido, olhai por nós". Neste ano, Enoli Lara foi protagonista do primeiro nu frontal da Sapucaí, a conhecida “genitália desnuda”, na União da Ilha, com enredo “Festa Profana”. Na política, Fernando Collor foi eleito presidente do Brasil meses depois do carnaval.
O Salgueiro foi campeão com o famoso samba “Explode coração”, em um dos desfiles mais arrebatadores de todos os tempos. O enredo era “Peguei um Ita no Norte”, que narrava a viagem de um navegante do Pará até o Rio de Janeiro. Aquele foi o primeiro carnaval do Sambódromo, até então, sem a presença do carnavalesco Joãozinho Trinta, que havia saído da Beija-Flor. Neste ano, uma sentença da juíza Denise Frossard mandou para cadeia diversos presidentes e patronos de escolas de samba que tinham envolvimento com o jogo do bicho.
Explode coração - Salgueiro
Em 1982 a vencedora foi a Império Serrano, com o samba "Bum-bum paticumbum prugurundum", mas o samba mais tocado foi "É Hoje" da União da Ilha, regravado mais tarde po Caetano Veloso.
Em 1978 a União da Ilha também veio com um grande samba "O amanhã" regravado ais tarde pela cantora Simone.
A década de 90 foi de grandes carnavais. No centenário da abolição da escravatura, a maior parte dos enredos foi sobre a libertação. E a Vila Isabel conquistou seu primeiro campeonato no Grupo Especial com Kizomba, a Festa da Raça. Um samba que a Avenida inteira cantou.
"O país estava vivendo uma crise muito grande, na época. Eu falei pro João o seguinte: eu vejo um Cristo mendigo saindo de dentro de uma favela ou abraçando a favela para amenizar a dor do nosso povo. O João como sempre ficou calado, não falou nada. Na reunião, o João na minha frente falou: eu tive uma ideia que vocês vão ficar maravilhados, de trazer um Cristo mendigo. Aquilo veio abaixo! Eu quietinho, mordido mas fiquei quieto”, afirmou o carnavalesco Laíla.No ano seguinte, 1989, um desfile que marcaria o final da década: a frase famosa de Joãosinho 30 dizia: Pobre gosta de luxo e riqueza, quem gosta de miséria é intelectual. Joãosinho iria mudar de ideia e fazer um desfile sem luxo algum. E um banquete de mendigos iria invadir a Avenida.
Uma alegoria representaria o Cristo Redentor cercado de mendigos. Mas a Arquidiocese do Rio de Janeiro vetou o Cristo. Estava criada a polêmica, bem ao gosto de Joãosinho. “Não se preocupe, que eu tenho a solução! Nós vamos cobrir o Cristo e eu tenho a frase. "O Cristo mendigo é meu. E a frase é minha”, contrariou Laíla. A frase ficou famosa: “Mesmo proibido, olhai por nós.” E o Cristo entrou para a história do carnaval. Mas a amizade entre os dois criadores nunca seria a mesma.
Mas quem venceu aquele carnaval não foi o desfile do lixo. A Imperatriz Leopoldinense entrou na Avenida com muito luxo. E um samba que já nasceu um clássico. “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz." Com um desfile impecável, conquistou o campeonato.
Em 2018 a escola de samba Paraíso do Tuiuti , veio com o tema sobre a escravidão, e uma crítica social contra as mudanças das leis trabalhistas, e as manifestações pelo golpe de 2016, e os patos de plantão.
Paraíso do Tuiuti
Fontes:
cifrantiga2.blogspot.com.br
multirio.rj.gov.br
g1.globo.com/rio-de-janeiro
youtube.com
google.com.br
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