quinta-feira, 18 de maio de 2023

Vamos falar hoje do poema lírico do escritor, representante do arcadismo luso-brasileiro,  Tomás Antonio Gonzaga, Marília de Dirceu.





" Eu, Marília, não sou algum vaqueiro;
que viva de guardar alheio gado,
Do tosco trato, d´expressões grosseiros,
Dos frios gelos, e dos sois queimado.

Tenho próprio casal, e nelle assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite,
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília, bella,
Graças à minha Estrella"

O Arcadismo brasileiro foi um movimento do século XVIII, e teve como principais artistas, expoentes de Vila Rica, atual Ouro Preto em Minas Gerais.

Suas características no estilo lírico foram o sentimentalismo, o amor não correspondido, a terra natal, a vida campesina. Os principais expoentes dessa época foram : Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Santa Rita Durão e Basílio da Gama.

O poema Marília de Dirceu conta a história de amor de dois pastores de ovelhas.



No decorrer da obra, o eu lírico expressa seu amor pela pastora Marília e fala sobre suas expectativas futuras.

Dentro do contexto do Arcadismo, Dirceu revela a ambição de ter uma vida simples e bucólica ao lado de sua amada.

A natureza torna-se, portanto, uma forte característica, a qual é descrita em diversos momentos. No entanto, esse amor não pode ser consumado, visto que Dirceu foi exilado de seu país.

A primeira parte do poema exalta a beleza da amada.


D E  D I R C E 0. 

 Os tens olhos espalhão luz d ivin a,
 A quem a luz   do So! em vão se atreve :
Papoula, ou rosa delicada, e fina, 
Te cobre as faces , que são cor da neve.
 Os teus cabellos são huns fios d’ ouro ;
 Teu lindo corpo balsamos vapora. 
A l i ! nao , nao o  fez o Ceo , gentil Pastora 
. Graças, Marilia bella , 
■ Graça a minlia Estrella !


Na segunda parte, o tom de solidão já começa a aparecer, uma vez que o eu lírico vai para a prisão. Isso porque Dirceu esteve envolvido no movimento da Inconfidência Mineira, em Minas Gerais.


Nesta cruel masmorra tenebrosa
 Ainda vendo estou teus olhos bellos, 
A testa formosa.
 Os dentes nevados,
 Os negros cabellos.
 Vejo , Marilia , sim , e vejo ainda
 A chusma dos Cupidos, que pendentes
 Dessa bocca linda, 
Nos ares espalhão
 Suspiros ardentes. 



E, por fim, na terceira parte, o tom de melancolia, pessimismo e solidão é notório.

Exilado na África, o eu lírico revela a saudade que sente de sua amada:

Parte III, Lira IX




“Chegou-se o dia mais triste
que o dia da morte feia;
caí do trono, Dircéia,
do trono dos braços teus,
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Ímpio Fado, que não pôde
os doces laços quebrar-me,
por vingança quer levar-me
distante dos olhos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!”

A obra foi publicada em Lisboa em 1792. Está estruturada em três partes.

Primeira parte: composta por 33 liras que foram publicadas em 1792.

Segunda parte: composta por 38 liras que foram publicadas em 1799.

Terceira parte: composta por 9 liras e 13 sonetos que foram publicadas em 1812.

Os protagonistas da história são os pastores de ovelhas: Marília e Dirceu. Ele representa a voz do poema (eu lírico).

A lira é um instrumento musical de cordas. Na literatura, ela designa uma poesia cantada. Na Grécia antiga, as poesias eram acompanhadas pela lira.







De caráter autobiográfico, Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) escreveu essa obra inspirado na sua própria história de amor.

O poeta nasceu na cidade do Porto, Portugal e morreu no exílio em Moçambique na África.

Conheceu sua musa inspiradora quando estava morando e trabalhando como Ouvidor Geral na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Seu nome era Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão.

Tomaz Antonio Gonzaga



Chegaram a ficar noivos, entretanto, Tomás foi acusado de conspiração, uma vez que estava envolvido com o movimento da Inconfidência Mineira.


Tomás e Doroteia


Sendo assim, ele foi preso e exilado na África, se afastando de sua amada. Nesse tempo, escreveu a obra que o consagraria.

O nome da cidade de Marilia, interior de São Paulo foi dado em homenagem ao poema de Tomás Antonio Gonzaga.



Fontes:

todamateria.com.br
google.com
wikipedia.org
digital.bbm.usp.br
todoestudo.com.br
portugues.com.br
Gonzaga, Tomás Antonio - Marília e Dirceu


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