Vamos falar hoje do poema lírico do escritor, representante do arcadismo luso-brasileiro, Tomás Antonio Gonzaga, Marília de Dirceu.
" Eu, Marília, não sou algum vaqueiro;
que viva de guardar alheio gado,
Do tosco trato, d´expressões grosseiros,
Dos frios gelos, e dos sois queimado.
Tenho próprio casal, e nelle assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite,
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília, bella,
Graças à minha Estrella"
O Arcadismo brasileiro foi um movimento do século XVIII, e teve como principais artistas, expoentes de Vila Rica, atual Ouro Preto em Minas Gerais.
Suas características no estilo lírico foram o sentimentalismo, o amor não correspondido, a terra natal, a vida campesina. Os principais expoentes dessa época foram : Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Santa Rita Durão e Basílio da Gama.
O poema Marília de Dirceu conta a história de amor de dois pastores de ovelhas.
No decorrer da obra, o eu lírico expressa seu amor pela pastora Marília e fala sobre suas expectativas futuras.
Dentro do contexto do Arcadismo, Dirceu revela a ambição de ter uma vida simples e bucólica ao lado de sua amada.
A natureza torna-se, portanto, uma forte característica, a qual é descrita em diversos momentos. No entanto, esse amor não pode ser consumado, visto que Dirceu foi exilado de seu país.
A primeira parte do poema exalta a beleza da amada.
D E D I R C E 0.
Os tens olhos espalhão luz d ivin a,
A quem a luz do So! em vão se atreve :
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces , que são cor da neve.
Os teus cabellos são huns fios d’ ouro ;
Teu lindo corpo balsamos vapora.
A l i ! nao , nao o fez o Ceo , gentil Pastora
. Graças, Marilia bella ,
■ Graça a minlia Estrella !
Na segunda parte, o tom de solidão já começa a aparecer, uma vez que o eu lírico vai para a prisão. Isso porque Dirceu esteve envolvido no movimento da Inconfidência Mineira, em Minas Gerais.
Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos bellos,
A testa formosa.
Os dentes nevados,
Os negros cabellos.
Vejo , Marilia , sim , e vejo ainda
A chusma dos Cupidos, que pendentes
Dessa bocca linda,
Nos ares espalhão
Suspiros ardentes.
E, por fim, na terceira parte, o tom de melancolia, pessimismo e solidão é notório.
Exilado na África, o eu lírico revela a saudade que sente de sua amada:
Parte III, Lira IX
“Chegou-se o dia mais triste
que o dia da morte feia;
caí do trono, Dircéia,
do trono dos braços teus,
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Ímpio Fado, que não pôde
os doces laços quebrar-me,
por vingança quer levar-me
distante dos olhos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!”
A obra foi publicada em Lisboa em 1792. Está estruturada em três partes.
Primeira parte: composta por 33 liras que foram publicadas em 1792.
Segunda parte: composta por 38 liras que foram publicadas em 1799.
Terceira parte: composta por 9 liras e 13 sonetos que foram publicadas em 1812.
Os protagonistas da história são os pastores de ovelhas: Marília e Dirceu. Ele representa a voz do poema (eu lírico).
A lira é um instrumento musical de cordas. Na literatura, ela designa uma poesia cantada. Na Grécia antiga, as poesias eram acompanhadas pela lira.
De caráter autobiográfico, Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) escreveu essa obra inspirado na sua própria história de amor.
O poeta nasceu na cidade do Porto, Portugal e morreu no exílio em Moçambique na África.
Conheceu sua musa inspiradora quando estava morando e trabalhando como Ouvidor Geral na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Seu nome era Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão.
Chegaram a ficar noivos, entretanto, Tomás foi acusado de conspiração, uma vez que estava envolvido com o movimento da Inconfidência Mineira.
Sendo assim, ele foi preso e exilado na África, se afastando de sua amada. Nesse tempo, escreveu a obra que o consagraria.
O nome da cidade de Marilia, interior de São Paulo foi dado em homenagem ao poema de Tomás Antonio Gonzaga.
Fontes:
todamateria.com.br
google.com
wikipedia.org
digital.bbm.usp.br
todoestudo.com.br
portugues.com.br
Gonzaga, Tomás Antonio - Marília e Dirceu
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