Decameron de Bocacccio
"Esta peste foi de extrema violência: pois ela atirava-se contra os sãos, a partir dos doentes, sempre que doentes e sãos estivessem juntos"
"Em Florença, apareciam no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou na axila, algumas inchações. Algumas delas cresciam como maçãs; outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o populacho de bubões."
"Eram todas bem comportadas e de sangue nobre; bonitas de forma, costumes prendados, e de comportamento honesto."
Tinham entre 18 e 28 anos, e o autor querendo omitir suas verdadeiras identidades dá-lhes outras denominações. Lembremos que elas estavam na Igreja sozinhas, ou por que tinham sido abandonadas por suas famílias ansiosas para se salvarem da pandemia, ou mesmo porque seus familiares sucumbiram perante a peste.
"Agrupadas ali, não por prévia combinação, mas por acaso, em uma das dependências da igreja, sentaram-se formando quase um círculo."
Ficaram conhecidas então como: Pampinéia ( a mais velha); Fiammetta; Filomena; Emília; Laurinha; Neífile e Elisa.
"Não pode haver nenhuma censura ao ato de se seguir o meu conselho...". "... Lembro-lhes que o ato de nos afastarmos honestamente desta cidade não nos traz nenhum desdouro mais do que à maioria das demais mulheres o de aqui ficarem desonestamente."
Filomena, que era a mais discreta de todas exclamou, então:
"Recordo-lhes que somos todas mulheres. Nenhuma mulher há tão tola, que não saiba bem como as mulheres, quando se juntam. são pouco providas de juízo, e mal sabem governar-se sem o auxílio de um homem."
Ao que concluiu Elisa:
"- Realmente são os homens a cabeça das mulheres; sem a ordem deles, raramente chega alguma obra nossa a um fim digno de elogio"
Nos dias de hoje essas palavras fariam estarrecer quaisquer mulheres, mas naquela época o homem era realmente tido como superior, pela sociedade, pela igreja e pelas próprias mulheres. Encontramos aqui um traço da sátira do autor, retratando o pensamento feminino do século XIV.
No momento em que as mulheres discutiam, entraram na igreja três rapazes, sendo que o mais novo devia beirar os 25 anos, não sendo assim, para época, tão jovens assim.
Seus nomes eram : Pânfilo; Filóstrato; e Dionéio, os três procuravam refúgio e por acaso, encontraram dentre as sete mulheres, três que eram suas amadas. Todos eram conhecidos, e alguns parentes entre si.
Estava pois resolvido o receio das mulheres de procurarem refúgio desprotegidas.
Combinaram, no dia seguinte irem para um sítio, sem que as aflições sobre os costumes a honestidade e a honra delas e o que as outras pessoas iriam falar, importasse mais que a própria sobrevivência.
No sítio, começa realmente a novela. Lá, Pampinéia, foi eleita a primeira chefe, a rainha, como se estivessem num castelo, distribui as tarefas corriqueiras de cada um para a boa convivência de todos. Cada um tinha uma tarefa específica na cozinha, na arrumação em conseguir alimentos e água. Também foi acertado que deveriam tentar viver sem as lembranças terríveis que deixaram pra trás. Assim a forma que acharam para se divertirem foi contar histórias um para o outro.
A primeira novela coube a Pânfilo, e ele contou sobre um certo Senhor Ciappelletto que engana um santo frade fazendo-lhe uma falsa confissão; e morre. Em vida tendo sido um homem muito mau, e considerado santo após a morte, passando a ser chamado São Ciappelletto.
Outra crítica de Boccaccio contra a Igreja e suas famosas indulgências que tornava santo os poderosos ou seus filhos, desde que pudessem pagar.
A Segunda Jornada (Segundo Dia) de Decameron começa sob o império de Filomena.
Nesse dia mais dez novelas são contadas, coube a Laurinha contar a quarta novela, sobre Landolfo Ruffolo que depois de ficar muito pobre torna-se corsário. Preso pelos genoveses, foge para o mar. Salva-se em cima de uma caixa cheia de joias caríssimas. Em Corfu salva-o uma mulher; e ele retorna para casa riquíssimo.
Durante os dias dias em que passam no sítio 100 histórias (novelas) são contadas, algumas eróticas que chegam a corar as moças presentes, como a contada por Filóstrato, sobre Masetto de Lamporecchio que finge-se de mudo e torna-se jardineiro num convento de mulheres que disputam entre si para deitarem-se com ele.
"Pobre de mim! exclamou a outra - que coisas diz você? Ignora, então, que prometemos a nossa virgindade a Deus ?
Ora! comentou a outra - quantas contas que lhe são prometidas todos os dias, sem que se cumpram nenhuma promessa ?"
" A jovem, como companheira leal, assim que recebeu o que queria receber cedeu o seu posto à outra; e Mansetto, mesmo continuando a parecer simplório, fez a vontade das duas; pois, antes de se afastarem dali, mais de uma vez elas quiseram constatar que o mudo sabia cavalgar.."
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