terça-feira, 30 de maio de 2023

Vamos falar de um marco cultural importante na luta pela democracia e contra a ditadura militar, a peça Roda Viva de Chico Buarque de Holanda.




A peça é primeira obra teatral de Chico Buarque, e estrou no Rio de Janeiro, no teatro Princesa Isabel,  sob direção de José Celso Martinez em 1968, com Marieta Severo, Heleno Prestes e Antônio Pedro.







Num jeito inovador para época os atores interagiam com a plateia, causando por vezes atritos. Em São Paulo a peça foi apresentada no Teatro Ruth Escobar e contou com Marília Pera, André Valli e Rodrigo Santiago.

Nessa ocasião o grupo terrorista de extrema direita denominado CCC (Comando de Caça aos Comunistas) invadiu, o camarim do teatro, com cerca de 20 marginais, e de forma covarde  e abjeta, agrediram os atores e quebraram o teatro.


Camarim destruído 


No decorrer dos anos 60, muitos artistas, especialmente jovens talentos, produziram uma arte preocupada com a situação política e social do país, tratava-se de uma arte que se colocava contra o regime autoritário e opressor, havia profundo posicionamento crítico.

Bastante próximo desse grupo de “frente de oposição” estava Chico Buarque de Holanda, dono de uma produção artística vasta e de repercussão. Sua carreira nas artes começou no ano do último golpe militar, 1964. Suas obras produzidas durante o regime militar, sobretudo o teatro, dialogaram com o contexto histórico de seu tempo, fazendo com elas tenham um caráter de biografia de uma geração. Sua trajetória como dramaturgo iniciou em 1967 com a escrita de Roda viva, que foi montada no ano seguinte, 1968, sob a direção de José Celso Martinez Correa, mais conhecido como “Zé Celso”.


Teatro Ruth Escobar - Rua dos Ingleses



A peça, que possui dois atos, denuncia os bastidores do show business, o que causou enorme escândalo devido à encenação. Nela, temos Benedito da Silva, um cantor sem nenhum talento, mas que é tragado pela indústria do entretenimento. Graças ao Anjo, que é uma espécie de empresário abusivo e de mau caráter, Benedito torna-se um cantor famoso, um ídolo cultuado por inúmeros fãs. Acaba mudando de nome duas vezes, para o “bem” de sua imagem e propaganda, e é levado a cometer suicídio. Tendo isto acontecido, sua esposa, Juliana, que no início não gostava da ideia de seu marido como estrela e nem gostava de seu Anjo, substitui-o na condição de estrela moldada e fabricada, mantendo assim o jogo de interesses financeiros e mercadológicos de empresários do show business.





Os personagens da peça são: Benedito da Silva, um artista absoluto, cantor magnífico e ator principal. Bem Silver, pseudônimo de Benedito, é um nome de propaganda, um nome americanizado (porque isso faz sucesso). Benedito Lampião, por sua vez, nasce com a morte de Benedito da Silva e Ben Silver, é músico brasileiro, ídolo nacional, reacionário e alienado, revisionista e passivo, um homem do povo que vai cantar nos Estados Unidos. Anjo: responsável por fazer de Benedito um homem famoso, estiloso, de boa aparência e um ídolo, sobretudo para as mulheres; ele cobra por este “serviço”: 20% de tudo e é o “velho amigo” do Capeta, vive dando dinheiro a ele para que ele não suje a imagem de Benedito. Juliana é a mulher de Benedito, ela julga o Anjo indecente e aproveitador, acha que a mudança de Benedito fez com que ele virasse uma cintilante “bicha louca”. Capeta, “velho amigo” do Anjo, passa o tempo todo tentando estragar a imagem de Benedito e, para que isso não aconteça, vive “ganhando” dinheiro do Anjo para ficar quieto. Mané é amigo de Benedito de longa data e vive bebendo em bares. Coro, Vozes Femininas, Voz, Músicos e Povo, embora pareçam ser meros figurantes, atores, pessoas que cantam “Roda Viva” e pessoas que integram a procissão, são os responsáveis, dentro da peça, por exercer comentários, crítica e até julgamentos, ou seja, dão à peça um viés crítico, mas não de modo explícito.


Roda Viva - Festival de 1967 - TV Record
Chico Buarque e MPB 4





O nome da peça, partindo do sentido do texto, remete a um fatalismo dos dias, devido ao fato de que o sistema capitalista tudo devora, e sempre em proporções gigantescas, sobretudo os sonhos, as ideias e modos de pensar das pessoas. Essa “Roda viva” também remete à ditadura militar e toda a sua opressão.




Cenas como um soldado defecando num capacete militar, uma atriz representando a virgem Maria de biquíni, e o coro devorando um fígado de boi ao vivo, espirrando sangue,  numa alusão à violência da ditadura militar e ao conservadorismo da sociedade da década de 60, irritaram os reacionários gerando conflitos e críticas.



Fontes:

wikipdia.org
google.com
memoriasdaditadura.org.br
homolitaratus.com
metropoles.com
youtube.com

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