sexta-feira, 12 de maio de 2023

 Vamos falar da obra de José de Alencar "Til".

Til faz parte da fase regionalista de Alencar ao lado de O Gaucho, tronco de ipê e o sertanejo, e foi publicado em 1872.




“Daí em diante aquele sinal, que para o idiota era o símbolo da graça, da gentileza e do prazer, tornou-se a imagem de Berta, e não se cansava Brás de o repetir, não por palavras, mas por acenos com os meneios mais extravagantes. Dias depois, chamando-a ele pelo nome, a menina respondeu-lhe: — Não me chamo mais Berta; meu nome agora é Til” (p. 56).


Brás era sobrinho de Luís Galvão, filho de sua irmã, e com certo retardo intelectual.

Dona Ermelinda, em princípio ficou indignada com a presença do menino no seio0 de sua família, mas aceitou, por não ter mais nada oque fazer, uma vez que o menino necessitava de ajuda.

Berta, por sua vez era filha de Besita, filha bastarda de Luís Galvão e Besita. Após a morte de sua mãe, passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Muito bonita e graciosa, atrai o carinho e o amor de todos, tendo contato inclusive com as pessoas mais desprezadas da região. Berta é cortejada tanto por Afonso, filho de Luís Galvão, como por Miguel, filho de Nhá Tudinha, e irmão de criação de Berta. Afonso não sabe que é irmão de sangue de Berta. Além deles Brás também é apaixonado por ela.



"No ano de 1846 era de recente fundação a fazenda das Palmas, que Luís Galvão,
seu proprietário, recebera de herança paterna, ainda nas condições de simples situação,
com um velho casebre de caipira, dois cafezais e alguma pouca roça.
Tinha Luís Galvão o gênio empreendedor e gosto para a lavoura; casando com a
filha de um capitalista de Campinas, que lhe trouxe de dote algumas dezenas de contos
de réis, além do crédito, pode ele, dando alas à sua atividade, fundar uma importante
fazenda, que a muitos respeitos servia de norma e escola ao agricultor brasileiro.
Ao passo que ia se adiantando a lavra das terras, erguia-se na chapada fronteira
ao rio uma bela casa de morada em dois lances abarracados, com um pequeno mirante
no centro, sobreposto à larga portada; esta abria para o patamar, ladrilhado, de uma
pequena escada de seis degraus, que descia ao terreiro.
Formava o edifício uma face da vasta quadra, onde se fora levantado
sucessivamente casas para o administrador e feitores, senzalas para os escravos, o
engenho de cana, a fábrica do café, tulhas de feijão e milho, além de outros acessórios
do grande estabelecimento rural, que veio a tornar-se depois a fazenda das Palmas.
Do terreiro da casa partia o caminho principal da fazenda, que se estendia pelo
espigão da colina, e bifurcava-se de espaço a espaço para serventia das várias jeiras de
lavoura. O ramo principal, fugindo os alagados e descrevendo uma grande curva, ia
entroncar-se, a meia légua de Santa Bárbara, na estrada geral da Constituição a
Campinas." (p.9)


Luís Galvão, poderoso fazendeiro local, casado com Dona Ermelinda, mas dado à aventuras amorosas. Numa delas engravidou Besita, que era casada com Ribeiro.

Ribeiro ou Barroso, era casado com Besita, mas logo após a noite de núpcias parte para uma viagem, ficando anos afastado. na volta descobre que sua esposa teve uma filha, Berta, com Luís Galvão.

Jão Fera ou Bugre: capanga dos ricos da região, é um homem temido. Sem conseguir salvar Besita, por quem era apaixonado, passa a proteger Berta após a morte de sua mãe. 





"O fim da noite foi para Jão Fera um pesadelo horrível.
A todo instante fulgurava em sua alma, ao clarão de uma chama satânica, a cena atroz
do assassinato de Besita.
Mais de cem vezes, no resto da noite, reviveu esse momento de acerba angústia, no qual
toda sua existência submergia-se, como rio caudal pela estreita gorja de um precipício.
Revia com a mesma ânsia o vulto do Ribeiro, e sentia que após vinte anos ainda não cicatrizara em sua
alma o golpe que a tinha dilacerado, quando foi ele, Jão, obrigado a rasga-la, ficando junto de Besita, e
não perseguindo o assassino.
A voz da mísera mãe ressoava-lhe constantemente no íntimo, com aquele pungente grito
de desespero: - “Minha filha, Jão!... Ele... matá-la...”.
Revolvia-se o capanga na dura laje que lhe servia de leito; e tentava subtrair-se à
obsessão, lembrando que não passava aquela visão de um desvario de seu espírito.
Mas surgia-lhe a imagem de Besita, que descia do céu para implorar-lhe a salvação da
filha; e o capanga, impelido por força misteriosa, erguia-se de um ímpeto; e vagava à
toa pelo ermo, à busca do ignoto perigo que ameaçava Berta".
(p.134)



Passados quinze anos, Ribeiro volta de Portugal, agora conhecido como Barroso, e deseja terminar a sua vingança. Vai para Santa Bárbara e contrata Jão Fera para matar Luís Galvão. Nenhum dos dois se reconhece, mas Luís Galvão é salvo por intermédio de Berta. Vendo seu plano inicial fracassar, Ribeiro planeja uma vingança mais engendrada: matar Berta e Luís Galvão e tomar o lugar dele como marido de dona Ermelinda. Para isso, maquina junto com dois escravos de Luís Galvão, Faustino e Monjolo, para, na noite de São João, trancarem os negros na senzala e atearem fogo no canavial. Assim que Luís Galvão saísse para apagar o incêndio, eles o jogariam ao fogo; Ribeiro apareceria para salvar a plantação e tentaria conquistar o amor de dona Ermelinda. Jão Fera descobriu a trama e, na noite de São João, quando Luís Galvão tentava apagar o incêndio, matou Monjolo, Faustino e outro jagunço contratado por Ribeiro, o Pinta, salvando a vida de Luís Galvão. Após esse episódio, perseguiu o Ribeiro, que só sobreviveu por intermédio de Miguel e Berta. Ribeiro fugiu, mas, alguns dias depois, voltou para matar Berta. Jão Fera, que há pouco havia escapado da Justiça, pois havia se entregado às autoridades, salvou Berta e matou o Ribeiro. Berta, ainda sem saber de sua história, ficou horrorizada e Jão Fera fugiu, se entregando novamente às autoridades.



"Em véspera de partir para Campinas, impressionado um momento com os
pressentimentos de D. Ermelinda a propósito de tocaias, escreveu ele seu testamento
reconhecendo Berta. Fora esse o papel esquecido, à cata do qual voltou a pretexto de
amostrar, levando-o consigo para faze-lo aprovar por um tabelião.
Essa resolução serenara de todo seu ânimo; e o remordimento que às vezes o confrangia
de todo aplacar-se quando sobreveio a ocorrência da noite de São João perturbar, não
somente o sossego de seu espírito, como a calma felicidade de sua mulher." (p.138)



Dias depois, Luís Galvão e sua família vão para a festa do Congo na vila de Piracicaba, para onde Inhá Tudinha, Miguel e Berta também vão. Afonso escapa de seus pais para ir falar com Berta, porém aparece um homem estranho que diz: "Teu pai matou a mãe dela; tu queres matar a filha, e duas vezes!". Após isso, o estranho dirige-se a Luís Galvão e diz: "Teu sangue mau quer teu sangue bom! Toma cautela...". Então, ouve-se que a cadeia fora arrombada. O estranho era Jão Fera, que havia escapado da cadeia. No caminho de volta, Luís Galvão conta acerca do seu passado à sua esposa, e depois Berta descobre o seu passado.



"D. Ermelinda chegou-se com um triste, porém meigo sorriso, e apertando a mão do
marido, murmurou-lhe ao ouvido:
- Meu amigo, é preciso reconhecer a sua... a nossa filha!...
Arrasaram-se de lágrimas os olhos de Luís, que apertou estremecidamente a mulher ao
coração, erguendo os olhos ao céu.
- Que santa me deste tu, meu Deus, a mim que não mereço!
Logo depois do almoço, D. Ermelinda foi à casa de nhá Tudinha e pediu-lhe que
preparasse Berta para a revelação que o pai ia fazer-lhe de seu nascimento. Com o tato
de mulher e mãe quis a boa senhora poupar à enjeitada a dor que havia de curtir se
viesse a conhecer a desgraça de Besita." (p.147)



 Berta não aceita como pai Luís Galvão, por conta do que ele fez no passado, e diz que o único pai que ela conheceu fora Jão Fera, que sempre zelou por sua segurança. A única coisa que ela pede é que ele dê permissão para que Miguel se case com Linda, contra a vontade de dona Ermelinda. Miguel é enviado para estudar em São Paulo e, ao final de dois anos, voltar para se casar com Linda. Ele ainda tenta convencer Berta a ir com ele para serem felizes juntos, mas ela, por amor à amiga, não o faz. O livro acaba com Berta e Inhá Tudinha acenando para Miguel e Jão Bugre roçando a terra.


Nesse instante Miguel voltou-se além, na extrema do caminho onde ia sumir-se, e a
brisa trouxe um eco de sua voz:
- Adeus, Inhá!...
Os lábios de Berta murmuraram frouxamente:
- Para sempre! (p.151)


Fontes:

wikipedia.org
google.com
guiadoestudante.abril.com.br
livrosgratis.com.br
coladaweb.com
Alencar, José - Til - 1830




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