Dando prosseguimento às comemorações do centenário da Semana de arte Moderna de 1922 falaremos hoje de alguns personagens importantes do Movimento.
Anita Catarina Malfatti, esse era o nome de batismo da artista plástica paulista que nasceu no dia 2 de dezembro de 1889.
Anita foi uma brasileira com origens europeias: seu pai (Samuel Malfatti) era um engenheiro italiano e a mãe (Betty Krug) era uma norte-americana com descendência alemã. Foi provavelmente da mãe que Anita herdou o gosto pelas artes uma vez que Betty dava aulas de pintura e línguas.
Com um histórico de depressões, Anita tentou se suicidar quando tinha apenas treze anos, o plano foi se colocar debaixo da linha do trem. Apesar do susto, nada aconteceu com a pintora.
Aos dezenove anos, Anita tornou-se professora e logo depois foi estudar na Alemanha. A jovem também chegou a estudar em Nova Iorque.
De volta ao Brasil, Anita continuou pintando e, incentivada por alguns amigos, participou da Semana de Arte Moderna de 1922. A partir de então, a sua carreira decolou de vez, tendo Anita exposto em Berlim, Nova Iorque e Paris. Além de ser celebrada no próprio país, a artista teve a sorte de receber em vida reconhecimento internacional.
Entre as suas telas mais famosas estão: A Boba (1916), O Homem Amarelo (1916) e Mário de Andrade I (1922).
Homem amarelo
Mário de Andrade
Pioneiro, Mário de Andrade foi autor do livro de poemas Pauliceia Desvairada, inaugural da primeira fase do Modernismo.
Além de escrever ficção, o intelectual também foi crítico de arte em jornais e revistas. Polivalente, amante da música, Mário chegou igualmente a dar aulas particulares de piano.
Em termos literários, a sua maior criação foi provavelmente o romance Macunaíma (1928), que chegou a ser mais tarde adaptado para o cinema. Já nessa produção, vemos uma característica fundamental do autor: Mário procurava uma linguagem nacional, queria conhecer a fundo a cultura de cada região do país e valorizar a nossa terra.
“Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.
Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante.
Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé.
Porém, a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
— Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:
— Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!”
(trecho sobre a questão racial no Brasil)
Macunaíma
Não à toa, ele empreendeu uma série de viagens pelo Brasil, a investigação fazia parte do seu projeto nacionalista. Um dos maiores articuladores do Modernismo, Mário participou ativamente da Semana de Arte Moderna.
Oswald de Andrade
Oswald de Andrade
A vida de Oswald era definitivamente uma agitação: foi militante político, ajudou a criar manifestos, vivia cercado de amigos, tinha uma personalidade divertida e irônica. Filho único, desde cedo soube que seria escritor porque um professor do Ginásio de São Bento assim o disse.
Sua porta de entrada no jornalismo foi no Diário Popular, onde começou a escrever em 1909. Logo depois, virou crítico teatral e fundou uma revista. Em 1912, a vida do escritor virou de ponta-cabeça depois de uma ida à Europa.
Entusiasmado com o que viu, Oswald trouxe na mala ideias que vieram a tomar corpo nos seus Manifestos. Entre os seus trabalhos o mais famoso certamente foi o Manifesto Pau-Brasil (1924).
Muito próximo de diversos artistas, Oswald foi um dos agitadores que esteve a frente da organização da Semana de Arte Moderna.
O autor chegou a ser casado com a pintora Tarsila do Amaral , o casamento realizado em 1926 durou cerca de três anos.
Escreveu Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar, em prosa e Pau Brasil em versos, entre outras obras.
3 . GARE DO INFINITO
"Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem e o carro ficava esperando no jardim. Levaram-me para uma casa velha que fazia doces e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma figueira na janela. No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que carregou meu pai."
Memórias Sentimentais de João Miramar.
Vacina Obrigatória
"Delegacia da autoridade que tem a cara arguta das 23 horas e procura um esparadrapo para o pudor da Lalá. Entre uma maioridade de soldados — nosso herói. Brasileiro. Professor de geografia e ginástica. Nas horas vagas, 7? escriturado. Serafim Ponte Grande. Lalá atirou-se do viaduto do escândalo ao primeiro sofá. A autoridade — Estais no hall do templo da justiça! Peço compostura ou pôr-vos-ei no xilindró nº 7! de cócoras! Benevides — Doutor! Minha senhora sabe que terá de conter sua dor de progenitora diante de V. Exa!"
Serafim Ponte Grande.
Menotti Del Picchia
Menotti Del Picchia
Menotti foi filho de imigrantes italianos, mas nasceu aqui, em São Paulo. Escritor, jornalista, advogado, tabelião e político, Menotti ficou famoso especialmente pelas inovações que promoveu nos seus trabalhos a nível da linguagem.
Um dos responsáveis pela Semana de Arte Moderna, o intelectual abriu a segunda noite do evento. Dois anos mais tarde, ao lado de Plínio Salgado, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo, o grupo criou o Movimento Verde e Amarelo como uma resposta a postura nacionalista propagada principalmente pelo intelectual Oswald de Andrade.
Menotti ocupou a partir de 1943 a cadeira número 28 da Academia Brasileira de Letras. Seu trabalho mais famoso provavelmente foi Juca Mulato (1917).
"Sofre, Juca Mulato, é tua sina, sofre…
Fechar ao mal de amor nossa alma adormecida
é dormir sem sonhar, é viver sem ter vida…
Ter, a um sonho de amor, o coração sujeito
é o mesmo que cravar uma faca no peito.
Esta vida é um punhal com dois gumes fatais:
não amar é sofrer; amar é sofrer mais"!
Juca Mulato
Tarsila do Amaral
Obapuru
Tarsila do Amaral nasceu em Capivari, interior de São Paulo, no dia 1 de setembro de 1886.
Filha de família abastada, passou a infância e adolescência com seus pais e sete irmãos na sua cidade natal.
Sua família havia herdado fazendas de seu avô, José Estanislau do Amaral, conhecido como “o milionário”.
Morou em São Paulo, onde esteve matriculada no Colégio de Freiras e no Colégio Sion.
Mais tarde, mudou-se para Barcelona, na Espanha, a fim de terminar seus estudos. Com apenas 16 anos, Tarsila pinta seu primeiro quadro.
Quando retorna ao Brasil, casa-se com André Teixeira Pinto, com quem teve uma filha, Dulce.
Ao lado de Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Mário de Andrade e Menotti del Picchia, eles formaram o “Grupo dos Cinco”.
Teve uma relação tumultuada com Oswald de Andrade com quem teve José Oswald Antônio de Andrade (Nonê).
A pintura a óleo Obapuru que significa "O homem que come carne humana" é dado para seu marido na época Oswald de Andrade, sendo um dos marcos no Movimento Antropofágico.
Mais tarde Tarsila pinta outro de seus quadros famosos "Os Operários"
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