Vamos falar da peça de Gil Vicente - Quem tem farelos ? encenada em 1505 em Lisboa durante o reinado de D.Manuel I.
(Vem Apariço e Ordonho, moços de esporas a buscar farelos, e diz logo Apariço)
APARIÇO : Quem tem farelos?
ORDONHO Quién tiene farelos?
APARIÇO Ordonho, Ordonho espera-m'i!
Oh fi de puta ruim!
sapatos tens amarelos?
Já não falas a ninguém! (Criados) 2
ORDONHO Cómo te va, compañero?
APARIÇO Se eu moro c'um escudeiro, como me pode a mi ir bem?
Essa farsa de Gil Vicente conta o percalço sucedido a um triste escudeiro namorador, Aires Rosado, que suscitava a paixão em muitas moças através dos seus dotes musicais. No início da peça aparecem os dois criados que deixam morrer os seus cavalos à fome, e que têm que mendigar por farelos (daí o título da obra). Ao longo do diálogo a pobreza deste Escudeiro é exposta. Entra então em cena o Escudeiro cantando e tocando sob a janela de uma moça. A conversa entre os dois namorados torna-se impossível devido aos inúmeros ruídos. Quando a mãe da moça chega destrata o escudeiro e este, covarde, foge. O espectador assiste a um encadeamento de cenas realistas, através das quais se desenham as personagens, nomeadamente um tipo social bem conhecido no mundo português da época, o escudeiro pretensioso e galante.
A peça é notável pela profunda riqueza inventiva ao nível das situações e dos diálogos.
APARIÇO -
Mas vem comigo e verás,
meu amo, como é pelado,
tão doce, tão namorado
tão doudo que pasmará.
ORDONHO-
Cómo ha nombre tu señor?
APARIÇO
Chama-se Aires Rosado,
eu chamo-lhe asno pelado,
quando me faz mais lavor.
ORDONHO -
Aires Rosado se llama?
APARIÇO -
Neste seu livro o lerás,
escuta tu e verás
as trovas que fez à dama.
(Anda Aires Rosado, só passeando pela casa, lendo no seu cancioneiro desta
maneira)
AIRES -
Cantiga d'Aires Rosado
a sua dama,
e não diz como se chama,
de discreto namorado.
Senhora, pois me lembrais,
não sejais desconhecida,
e dai ó demo esta vida
que me dais.
À semelhança das cantigas de amor do trovadorismo, o nome da amada não é dito.
Aparíço e Ordonho procuram farelos pelas ruas pois não têm melhor forma de ganhar o pão desse dia. Surge então Aires Rosado, o escudeiro a quem serve Apariço, e começa a declamar uma desajeitada serenata à janela de Isabel. Aires mente e exagera em algumas das declarações que faz e ao longo do discurso é frequentemente interrompido pelo barulho de cães, gatos e galos. Apariço escuta as palavras do amo e comenta à parte. Ao fim de algum tempo a velha mãe de Isabel acorda e vem à janela rogar pragas ao escudeiro, que acaba por se ir embora. No fim da peça Isabel e a mãe discutem abertamente, decretando a jovem que se recusa dedicar à tecelagem e costura e antes prefere tratar de si e ser cortejada.
Essa peça é uma farsa, ou seja é um gênero teatral com o intuito de fazer uma caricatura e crítica à sociedade, geralmente num só ato.
Fontes:
literaturabrasileira.ufsc.br
infopedia.pt
livrariapublica.com.brciberduvidas.iscte-iul.pt
wikipedia.org
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