sexta-feira, 2 de maio de 2025

Vamos falar da peça de Gil Vicente - Quem tem farelos ? encenada em 1505 em Lisboa durante o reinado de D.Manuel I.





(Vem Apariço e Ordonho, moços de esporas a buscar farelos, e diz logo Apariço) 

APARIÇO  : Quem tem farelos? 

ORDONHO Quién tiene farelos? 

APARIÇO Ordonho, Ordonho espera-m'i! 

Oh fi de puta ruim! 

sapatos tens amarelos? 

Já não falas a ninguém! (Criados) 2 

ORDONHO Cómo te va, compañero? 

APARIÇO Se eu moro c'um escudeiro, como me pode a mi ir bem?


Essa farsa de Gil Vicente conta o percalço sucedido a um triste escudeiro namorador, Aires Rosado, que suscitava a paixão em muitas moças através dos seus dotes musicais. No início da peça aparecem os dois criados que deixam morrer os seus cavalos à fome, e que têm que mendigar por farelos (daí o título da obra). Ao longo do diálogo a pobreza deste Escudeiro é exposta. Entra então em cena o Escudeiro cantando e tocando sob a janela de uma moça. A conversa entre os dois namorados torna-se impossível devido aos inúmeros ruídos. Quando a mãe da moça chega destrata o escudeiro e este, covarde, foge. O espectador assiste a um encadeamento de cenas realistas, através das quais se desenham as personagens, nomeadamente um tipo social bem conhecido no mundo português da época, o escudeiro pretensioso e galante.
A peça é notável pela profunda riqueza inventiva ao nível das situações e dos diálogos.

APARIÇO  - 

Mas vem comigo e verás, 
meu amo, como é pelado,
tão doce, tão namorado 
tão doudo que pasmará.

ORDONHO-

Cómo ha nombre tu señor?
APARIÇO Chama-se Aires Rosado,
eu chamo-lhe asno pelado, 
quando me faz mais lavor. 

ORDONHO - 

Aires Rosado se llama?

APARIÇO  - 
Neste seu livro o lerás,
escuta tu e verás
as trovas que fez à dama. 

(Anda Aires Rosado, só passeando pela casa, lendo no seu cancioneiro desta maneira)

AIRES - 

Cantiga d'Aires Rosado
a sua dama, 
e não diz como se chama,
de discreto namorado.  

Senhora, pois me lembrais, 
não sejais desconhecida, 
e dai ó demo esta vida 
que me dais. 

À semelhança das cantigas de amor do trovadorismo, o nome da amada não é dito.

Aparíço e Ordonho procuram farelos pelas ruas pois não têm melhor forma de ganhar o pão desse dia. Surge então Aires Rosado, o escudeiro a quem serve Apariço, e começa a declamar uma desajeitada serenata à janela de Isabel. Aires mente e exagera em algumas das declarações que faz e ao longo do discurso é frequentemente interrompido pelo barulho de cães, gatos e galos. Apariço escuta as palavras do amo e comenta à parte. Ao fim de algum tempo a velha mãe de Isabel acorda e vem à janela rogar pragas ao escudeiro, que acaba por se ir embora. No fim da peça Isabel e a mãe discutem abertamente, decretando a jovem que se recusa dedicar à tecelagem e costura e antes prefere tratar de si e ser cortejada.

Essa peça é uma farsa, ou seja  é um gênero teatral com o intuito de fazer uma caricatura e crítica à sociedade, geralmente num só ato.


Fontes:


literaturabrasileira.ufsc.br
infopedia.pt
livrariapublica.com.br
ciberduvidas.iscte-iul.pt
wikipedia.org

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