quinta-feira, 18 de julho de 2024

Guerra do Contestado


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A Guerra do Contestado foi um conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 e agosto de 1916, numa região rica erva-mate e madeira, disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina.






Originada nos problemas sociais, decorrentes principalmente da falta de regularização da posse de terras e da insatisfação da população hipossuficiente, numa região em que a presença do poder público era pífia, o embate foi agravado ainda pelo fanatismo religioso, expresso pelo messianismo e pela crença, por parte dos caboclos revoltados, de que se tratava de uma guerra santa.












A região fronteiriça entre os estados do Paraná e Santa Catarina recebeu o nome de Contestado devido ao fato de que os agricultores contestaram a doação que o governo brasileiro fez aos madeireiros e à Southern Brasil Lumber & Colonization Company, do magnata norte-americano, Percival Farquhar.  Como foi uma região de muitos conflitos, ficou conhecida como Contestado, por ser uma região de disputas de limites entre os dois estados brasileiros. O governo brasileiro doou à Companhia Lumber, quinze quilômetros de cada lado  da estrada de ferro, considerando serem terras devolutas. Essas terras, no entanto, eram habitadas por posseiros pobres, cujas terras, eram seu único modo de sobrevivência.



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Para entender-se bem a guerra sertaneja , é preciso voltar um pouco no tempo e resgatar o valor da figura de três monges da região. O primeiro monge que galgou fama foi o Monge João Maria de Agostini, um rezador leigo de origem italiana, que peregrinou pregando e atendendo doentes de 1844 a 1870 por um amplo território que ia de Sorocaba, em São Paulo, até Rio Pardo e Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Fazia questão de viver uma vida extremamente humilde, e sua ética e forma de viver arrebanhou milhares de crentes, reforçando o messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém, que não exerceu influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria posteriormente. João Maria morreu em 1870, em Sorocaba, estado de São Paulo.







O segundo monge adotou o codinome (alcunha) de João Maria mas seu verdadeiro nome era Atanás Marcaf, provavelmente de origem síria. Aparece publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma postura firme e uma posição messiânica. Sobre sua situação política, dizia ele "estou do lado dos que sofrem". Chegou, inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na região entre os rios Iguaçu e Uruguai. É de destacar a sua influência inquestionável sobre os crentes, a ponto destes esperarem a sua volta através da ressurreição, após seu desaparecimento em 1908. Assim como acreditavam os portugueses na volta de D. Sebastião, morto na batalha de Alcácer Quibir em 1581.


D.Sebastião





As entrelinhas do que estava por vir estavam se amarrando entre si. A espera dos fiéis acabou em 1912, quando apareceu publicamente a figura do terceiro monge. Este era conhecido inicialmente como um curandeiro de ervas, tendo se apresentado com o nome de José Maria de Santo Agostinho, ainda que, de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas, Estado do Paraná, ele fosse, na verdade, um soldado desertor condenado por estupro, de nome Miguel Lucena de Boaventura.





José Maria pregava uma vida de respeito ao próximo, aos animais e à natureza, assinalava a existência de fontes de água (que logo a população passou a chamar de "águas santas" ou "águas do monge") e recomendava a edificação de cruzeiros.


Como ninguém conhecia ao certo a sua origem, como aparentava uma vida reta e honesta, não lhe foi difícil granjear em pouco tempo a admiração e a confiança do povo. Um dos fatos que lhe granjearam fama foi a presunção de ter ressuscitado uma jovem (provavelmente apenas vítima de (catalepsia patológica). Supostamente também recobrou a saúde da esposa do coronel Francisco de Almeida, acometida de uma doença incurável. Com este episódio, o monge ganha ainda mais fama e credibilidade ao rejeitar terras e uma grande quantidade de ouro que o coronel, agradecido, lhe queria oferecer.

A partir daí, José Maria passa a ser considerado santo: um homem que veio à terra apenas para curar e tratar os doentes e necessitados. Metódico e organizado, estava muito longe do perfil dos curandeiros vulgares. Sabia ler e escrever e anotava em seus cadernos as propriedades medicinais das plantas encontradas na região. Com o consentimento do coronel Almeida, montou no rancho de um dos capatazes o que chamou de farmácia do povo, onde fazia o depósito de ervas medicinais que utilizava no atendimento diário, até horas tardias da noite, a quem quer que o visitasse.


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Após a conclusão das obras do trecho catarinense da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, a companhia Brazil Railway Company,  que recebeu do governo 15 km de cada lado da ferrovia, iniciou a desapropriação de 6.696 km² de terras (equivalentes a 276.694 alqueires) ocupadas já há muito tempo por posseiros que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina.


O governo brasileiro, ao firmar o contrato com a Brazil Railway Company, declarou a área como devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras. "A área total assim obtida deveria ser escolhida e demarcada, sem levar em conta sesmarias nem posses, dentro de uma zona de trinta quilômetros, ou seja, quinze para cada lado". Isso, e até mesmo a própria outorga da concessão feita à Brazil Railway Company, contrariava a chamada Lei de Terras de 1850.  Não obstante, o governo do Paraná reconheceu os direitos da ferrovia; atuou na questão, como advogado da Brazil Railway, Affonso Camargo, então vice-presidente do estado.


Affonso Camargo




O "santo monge" José Maria rebelou-se, então, contra a recém formada república brasileira e decidiu dar status de governo independente à comunidade que comandava. Para ele, a república era a "lei do diabo", Antonio Conselho, de Canudos, também era contra a república. 

Antonio Maria, nomeou "imperador do Brasil" um fazendeiro analfabeto, nomeou a comunidade de "Quadro Santo" e criou uma guarda de honra constituída por 24 cavaleiros que intitulou de "Doze Pares de França", numa alusão à cavalaria de Carlos Magno na Idade Média.


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O governo brasileiro, então comandado pelo marechal Hermes da Fonseca, responsável pela Politica de Salvações, caracterizada por intervenções político-militares que em diversos Estados do país pretendiam eliminar seus adversários políticos, sentiu indícios de insurreição neste movimento e decidiu reprimi-lo, enviando tropas para "acalmar" os ânimos.


Antevendo o que estava por vir, José Maria parte imediatamente para a localidade de Irani com todo o seu carente séquito. A localidade nesta época pertencia à Palmas, cidade que estava na jurisdição do Paraná, e que tinha com Santa Catarina questões jurídicas não resolvidas por conta de divisas territoriais, e acabou vendo nessa grande movimentação uma estratégia de ocupação daquelas terras.

A guerra do Contestado inicia-se neste ponto: em defesa de suas terras, várias tropas do Regimento de Segurança do Paraná são enviadas para o local, a fim de obrigar os invasores a voltar para Santa Catarina. 




Em 22 de outubro de 1912, a polícia do Paraná deu início a um ataque que resultou na batalha do Irani, em um lugar chamado "Banhado Grande", na qual morreram 11 sertanejos, entre eles o monge José Maria, e 10 soldados, inclusive o coronel João Gualberto Gomes de Sá Filho

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Um ano após o primeiro combate, uma menina de 11 anos, chamada Teodora, passou a relatar que tinha sonhos com José Maria e que este ordenava a todos os seus seguidores a dirigirem-se para Taquaruçu. Depois formam-se outras "cidades santas" ou redutos dos sertanejos, como Caraguatá, Santo Antônio, Caçador Grande, Bom Sossego, Santa Maria (a maior cidade, com mais de 20 mil habitantes), Pedra Branca, São Miguel e São Pedro.


Em 8 de fevereiro de 1914, numa ação conjunta de Santa Catarina, Paraná e governo federal, foi enviado a Taquaruçu um efetivo de 700 soldados, apoiados por peças de artilharia e metralhadoras. Estes logram êxito na empreitada, incendeiam completamente o acampamento dos jagunços, mas sem muitas perdas humanas, já que os caboclos e fiéis da causa do Contestado se refugiaram em Caraguatá, local de difícil acesso e onde já viviam cerca de 20.000 pessoas.

Os fiéis que mudaram para Caraguatá, interior do atual município de Leblon Régis, eram chefiadas por Maria Rosa, uma jovem com quinze anos de idade, considerada pelos fiéis como ''uma Joana  D' Arc do sertão, já que "combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil".






Após a morte de José Maria, Maria Rosa afirmava receber, espiritualmente, ordens do mesmo, o que a fez assumir a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos, então cerca de 6.000 homens.
Com o passar do tempo, general Fernando Setembrino de Carvalho adotou  uma nova postura de guerra, evitando o combate direto, que era o que os revoltosos esperavam e para o que estavam se preparando, optando por cercar o reduto dos fanáticos com tropas por todos os lados, evitando que entrassem ou saíssem da região onde estavam. Para isto, o general dividiu seu efetivo em quatro alas com nomes dos quatro pontos cardeais e, gradativamente, foi avançando e destruindo qualquer resistência que encontrasse pelo caminho.

Com esta nova ''estratégia, rapidamente começou a faltar comida nos acampamentos dos revoltosos. Isto teve como consequência imediata a rendição de dezenas de caboclos. Contudo, a maioria dos que se entregavam eram velhos, mulheres e crianças - talvez uma contra estratégia dos fiéis para que sobrasse mais comida aos combatentes que ficaram para trás e que ainda defenderiam a causa.


Neste ponto da guerra do Contestado, começa a se destacar a figura de Deodato Manuel Ramos, vulgo "Adeodato", considerado pelos historiadores como o último líder dos contestadores. Adeodato transferiu o núcleo dos revoltosos para o vale de Santa Maria, que contava ainda com cerca de 50.000 homens. Só que aí, à medida que ia faltando o alimento, Adeodato passou a revelar-se cada vez mais autoritário, não aceitando a rendição. Aos que se entregavam, aplicava sem dó a pena de morte.

Adeotado, preso



Cerco fechado, sem pressa e deixando os revoltosos nervosos lutarem contra si mesmos, em 8 de fevereiro de 1915 a ala Sul, comandada pelo tenente-coronel Estillac, chegou a Santa Maria. De um lado as forças do governo, bem armadas, bem alimentadas, de outro, rebeldes também armados, mas famintos e sem ânimo para resistir muito tempo. A luta inicial foi intensa e, à noite, o tenente-coronel ordenou a retirada, afinal, já contabilizara só no seu lado 30 mortos e 40 feridos.
Essa foi a primeira vez que o Exército Brasileiro usou aviões planadores na guerra.





Em dezembro de 1915, o último dos redutos dos revoltosos foi devastado pelas tropas de Setembrino. Adeodato fugiu, vagando com tropas no seu encalço. Conseguiu, no entanto, escapar de seus perseguidores e, como foragido, ficou ainda 8 meses escondendo-se pelas matas da região. Mas a fome e o cansaço, além de uma perseguição sem trégua, fizeram com que Adeodato se rendesse. Encerrava-se então, em agosto de 1916, com a prisão de Adeodato, a Guerra do Contestado.

Adeodato foi capturado e condenado a 30 anos de prisão. Entretanto, em 1923, 7 anos após ter sido preso, Adeodato foi morto pelo próprio diretor da cadeia numa tentativa de fuga.




Fontes:

brasilescola.uol.com.br
wikipedia.org
google.com
redesuldenoticiais.com.br
mundoeducacao.uol.com.br
todamateria.com.br

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