Vamos falar de outra peça teatral de Chico Buarque de Holanda, (Ópera do malandro).
Tango do Covil - MPB4
Ópera do Malandro é uma peça musical escrita por Chico Buarque de Holanda, que estreou em 1978, em meio à ditadura civil-militar e com sua primeira montagem dirigida por Luís Antônio Martinez Corrêa (irmão de Zé Celso).
O musical foi inspirado na peça de Bertolt Brecht e Kurt Weill, Ópera dos três vinténs (1928). O texto alemão, no entanto é uma paródia da obra do inglês John Gay, Ópera dos mendigos (1728).
John Gay escreve sua peça no século XVIII, numa crítica direta à corrupção de costumes que era comum na sociedade inglesa.
Usando de um linguajar próximo ao das camadas populares, o dramaturgo satiriza uma “nova era” em que riqueza e ruína caminhavam lado a lado.
Brecht em sua forma genial de ser e comemorando o bicentenário da obra de Gay, escreve em 1928 Ópera dos três vinténs, uma peça precursora em termos de inovação estética, por lançar, além da forma épica de teatro e das técnicas de distanciamento, a música como elemento central do universo burguês. Na peça de Brecht, a ação se passa, em cabarés ingleses, tendo como temática a corrupção a partir das relações entre gangsters e policiais.
Ópera de Três Vinténs atinge o público ao traçar um paralelo entre as fraudes e crimes da ralé submundo à corrupção mais profunda e respaldada na lei, vigente nos altos escalões da sociedade.
Se eu fosse teu patrão - Turma do funil
Na versão de Chico Buarque, a história se passa na Lapa, famoso bairro boêmio do Rio que, nos anos 40, entra em processo de decadência. Malandros, prostitutas, contrabandistas, policiais desonestos e empresários inescrupulosos compõem a trama. Chico identifica suas personagens às de Gay, inclusive por meio de um diálogo recheado de vulgarismo do dia-a-dia, e usa da estrutura dramática de Brecht para adaptar uma ópera, de acordo com o cenário político e social brasileiro.
Geni, interpretado pelo ato Emiliano Queirós (em pé)
Um cafetão de nome Duran, que se passa por um grande comerciante, e sua mulher Vitória, que do nome nada herdou. Vitória era uma cafetina que, na realidade, vivia da comercialização do corpo. A sua filha Teresinha era apaixonada por uma patente superior, Max Overseas, que vive de golpes e conchavos com o chefe de polícia Chaves. Outras personagens são as prostitutas, apresentadas como vendedoras de uma butique, e a travesti Geni, que só serve para apanhar, cuspir e dar para qualquer um.
A peça se passa na década de 1940, tendo como pano de fundo a legalidade do jogo, a prostituição e o contrabando. Mostra um contexto bem parecido com nosso terceiro milênio, em que temos o jogo do bicho, entre outros tantos; as prostitutas do calçadão de Copacabana, o contrabando nas ruas de CDS e DVDs.
Todas as músicas são da autoria de Chico Buarque que, por sua genialidade, consegue harmonizá-las com o texto. Na música Geni e o Zepelim, Geni, é uma travesti, fato que só descobrimos assistindo à peça. Geni, a princípio, não serve para nada. Todavia, quando o comandante de um zepelim reluzente resolve bombardear a cidade, mudando de ideia apenas se tiver uma noite de amor com a travesti, todos resolvem pedir-lhe para ceder aos caprichos do comandante.
Geni e o Zepelim - Chico Buarque
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: “Mudei de ideia!”
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
CENSURA: A censura exigiu que a primeira montagem fosse exibida com cortes. Por exemplo, a letra cantada pela personagem Terezinha teve de ser adaptada.
O texto era: Meu amor tem um jeito de me beijar o sexo, e o mundo sai rodando, e tudo vai ficando solto e desconexo, e passou a ser (como hoje é conhecida pelo grande público): O meu amor tem um jeito de me beijar o ventre e me deixar em brasa, desfruta do meu corpo como se o meu corpo fosse a sua casa.
Marieta Severo e Elba Ramalho
Elenco (por ordem de entrada
O Produtor: Ary Fontoura
A Patronesse: Maria Alice Vergueiro
João Alegre: Nadinho da Ilha
Duran: Ary Fontoura
Vitória: Maria Alice Vergueiro
Teresinha: Marieta Severo
Max Overseas: Otávio Augusto
Lúcia: Elba Ramalho
Geni: Emiliano Queiroz
Barrabás: Ivens Godinho
Johnny Walker: Vander de Castro
Phillip Morris: Paschoal Villamboim
Big Bem: Ivan de Almeida
General Electric: Vicente Barcelos
Dóris Pelanca: Ilva Nino
Fichinha: Cidinha Milan
Dorinha Tubão: Elza de Andrade
Shirley Paquete: Neuza Borges
Jussara Pé de Anjo: Maria Alves
Mimi Bibelô: Claudia Gimenez
Elba Ramalho, Tony Ferreira, Ari Fontoura, Marieta Severo, Otávio Augusto e Maria Alice Vergueiro.
Fontes:
wikipedia.org
youtube.com
google.com
teatroemescala.com
folhapress.folha.com
letras.mus.br
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