terça-feira, 20 de junho de 2023








"— Pois bem, meu príncipe. Génova e Luca mais não são do que apanágios, domínios, da família Bonaparte. Não, previno-o de que, se me diz que não teremos guerra, se se permitir ainda atenuar todas as infâmias, todas as atrocidades desse — Anticristo (palavra de honra, para mim, é o que ele é), desconheço-o, deixo de considerá-lo meu amigo, meu fiel servidor, como costumo dizer. Vamos, vejamos, como está, como está? Bem veio que lhe meto medo. Sente-se e conte-me novidades. Foi com estas palavras que em Julho de 1805 a conhecida dama de honor, íntima da imper, Guerra e Pazatriz Maria Fiodorovna. Ana Pavlovna Scherer, acolheu o príncipe Vassili, pessoa importante e de alta estirpe, o primeiro dos convidados a chegar à sua recepção daquela noite. Havia algum tempo já que Ana Pavlovna tossicava, estava com gripe, como ela dizia — gripe era então um novo vocábulo, que poucas pessoas ainda empregavam. Nessa mesma manhã tinha ela mandado entregar, por um lacaio de libré encarnada, a toda a gente, indistintamente, um bilhetinho redigido nestes termos: Se não tem nada melhor a fazer. Senhor Conde — ou então: meu príncipe —, e se a perspectiva de passar a noite em casa de uma pobre doente não o assusta muito, sentir-me-ei encantada de o ver em minha casa entre as 7 e as 10 horas. Annette Scherer"

Assim começa o grande romance de Leon Tolstoi, Guerra e Paz.


Leon Tolstói


O clássico de Tolstói conta as guerras de Napoleão Bonaparte contra as principais monarquias da Europa. Uma das causas das invasões de Napoleão influenciaram fortemente a história do Brasil, com a fuga da família real portuguesa para o Brasil em 1808.

Família real portuguesa



O primeiro rascunho de "Guerra e Paz" foi completado em 1863. Quando a versão publicada foi terminada, cerca de um terço de todo o trabalho já havia sido publicado em uma revista literária, com o título "1805". Tolstói não estava satisfeito com o final e reescreveu a novela integralmente entre 1866 e 1869. Esta nova versão foi depois publicada como a novela oficial sob o título "Guerra e Paz". Ele, no entanto, não destruiu o manuscrito original, que foi editado na Rússia em 1983. A primeira versão é diferente desta em vários aspectos, especialmente no contundente "final feliz".





Pode-se objetar que o próprio Tolstói nunca pretendeu publicar a versão original; por outro lado, ele revelou mais tarde estar também desapontado com a "versão conhecida" de "Guerra e Paz", que descreveu como "repugnante".





Guerra e Paz mostra como a invasão de Napoleão Bonaparte à Russia em 1812 foi vista pela corte russa. O livro é bem interessante ao retratar a sociedade russa, com suas festas pomposas contrastando com a miséria do povo, com a aristocracia dividida entre o horror e a idolatria à Napoleão, tudo permeado pela religiosidade. O jogo da política, as intrigas da corte e as tramas da sociedade com seus casamentos arranjados e suas paixões proibidas são descritas de forma instigante. Os horrores da guerra vividos pelos mais altos dignatários russos, que mantinham sua fé em Deus e no Czar com a mesma intensidade. Tudo muito bem descrito por Tolstói.

O livro centra-se na vida de Piotr Bezukhov, que recebe uma grande herança e passa a viver nas grandes festas da corte entre Moscou e São Petersburgo ao lado de suas inúmeras esposas interesseiras. Quando Napoleão invade Moscou, Piotr é feito prisioneiro, e por mais paradoxal que possa parecer, quando é liberto descobre que a sua vida de festas na corte era vazia e encontra o real sentido de sua vida quando retorna à sua vida simples ao lado de Natasha Rostov, mulher que sempre amou de verdade. A obra também retrata a vida de Andrei Bolkonski, filho de um príncipe com passado glorioso na área militar. Quando a Rússia é invadida Andrei se sente compelido a lutar pelo seu país e pelo seu Czar, sofre uma série de ferimentos e acaba por falecer nos braços de sua irmã Maria e de sua ex-mulher Natasha Rostov.

"O imperador calou-se, a multidão comprimiu-se à sua roda e exclamações de entusiasmo irromperam de todos os lados. «Sim, e o que é mais precioso ainda... é a palavra do czar», dizia, soluçando, nas ultimas filas, Ilia Andreitch, que nada ouvira e tudo compreendera à sua maneira. Da sala da nobreza o imperador passou à dos comerciantes. Esteve ali perto de dez minutos. Pedro, e como ele tantos outros, viram-no abandonar a sala com lágrimas de reconhecimento a bailar-lhe dos olhos. Como depois veio a saber-se, mal principiara c seu discurso aos comerciantes, as lágrimas saltaram-lhe dos olhos e foi em voz trémula que pronunciou as últimas palavras. Quando Pedro o viu saía ele da sala acompanhado por dois dos assistentes, Um deles era seu conhecido, um grande produtor de álcool; o outro era administrador local, de rosto magro e amarelento, barba rala. Ambos choravam. O magro tinha lágrimas nos olhos, mas o outro soluçava como uma criança, repetindo constantemente: «Majestade! Ofereço-vos a minha vida e a minha fortuna!» Naquele momento Pedro não desejava outra coisa senão mostrar que para ele não havia obstáculos e que estava disposto a tudo sacrificar. Lamentava o seu discurso de tendências constitucionais. Procurava uma oportunidade para o fazer esquecer. Ao saber que o conde Mamonov oferecia um regimento inteiro, declarou imediatamente ao conde Rostoptchine que daria mil homens e se encarregaria da sua manutenção. O velho Rostov não pôde contar sem lágrimas, à mulher, que o ouvia, o que se tinha passado, dando desde logo a Pétia o consentimento que ele pedia e indo ele próprio alistá-lo. No dia seguinte o imperador partiu. Todos os nobres que tinham sido convocados despiram o uniforme, retomando os seus hábitos, tanto em casa como no clube, e foi resmungando que deram ordem aos intendentes respectivos para a formação das milícias, surpreendidos eles próprios dos seus oferecimentos."


Além desses dois personagens, as batalhas travadas são levemente detalhadas. O autor ressalta, além das batalhas e de suas consequências, principalmente como elas foram relatadas pelos autores posteriores, que tendem a enaltecer o gênio de Napoleão e de seus marechais, mas que se esquecem que a Rússia só não caiu de joelhos perante Bonaparte porque este deixou sua genialidade militar e diplomática de fora de suas decisões.


Livro Um

A novela começa na cidade russa de São Petersburgo, numa festa dada em julho de 1805 por Anna Pavlovna Scherer - dama de honra e confidente da Czarina viúva e mãe Maria Feodorovna. Os principais personagens e famílias aristocráticas da novela são conhecidos aqui. Pierre Bezukhov é filho ilegítimo de um conde abastado à beira da morte e é inesperadamente envolvido em uma disputa pela herança. Educado na França, com a mãe morta, Pierre é essencialmente bondoso mas sem tato social, de natureza aberta, e sente dificuldades para se integrar à sociedade de São Petersburgo.


Livro Dois

O Livro Dois começa com Nicolau Rostov voltando para sua casa em Moscou para uma visita breve, no início de 1806. Nicolau encontra a família às voltas com a ruína financeira devido à má administração do patrimônio. Com Denisov, passa um inverno agitado em Moscou. Natasha transformou-se numa bela moça e é assediada por Denisov mas não o aceita. Apesar dos pedidos da mãe para encontrar um partido com boas perspectivas financeiras para casar-se, Nicolau rejeita essa sugestão e promete casar-se com seu amor de infância, sua prima Sônia, órfã e sem fortuna.

Batalha de Austerlitz - Quadro de François Gérard

Livro Três

Natasha rompe seu compromisso com André. Envergonhada por sua quase-sedução, ela contrai uma doença séria mas, com a ajuda de sua família, de Pierre e com sua fé religiosa, consegue perseverar através deste período nefasto de sua vida.

Nesse interim, toda a Rússia é afetada pelo iminente embate entre as tropas russas e as de Napoleão. Pierre convence-se, através da numerologia, que Napoleão é o Anticristo do Apocalipse. O velho príncipe Bolkonsky, pai de André, morre de um acidente vascular cerebral e, em Moscou, Pétia, o filho mais novo dos Rostov, convence os pais a deixá-lo alistar-se no exército.

Livro Quatro

O Livro Quatro é o climax da invasão de Napoleão à Russia. Quando o Grande Exército de Napoleão ocupa uma Moscou abandonada e queimada, Pierre parte numa missão quixotesca para assassinar o imperador francês. Ele torna-se um anônimo em meio ao caos da cidade destruída, disfarçando-se de servo e escondendo sua posição e estilo de vida. A única pessoa a descobrir o disfarce de Pierre é Natasha, que o reconhece, e ele percebe então a dimensão total do seu amor por ela.

Batalha de Borodino

O livro foi publicado entre 1865 e 1869.

A obra foi levada às telas de cinema em 1956, com direção de King Vidor, estrelando :  Audrey Hepburn, Henry Fonda e Melk Ferrer.







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Guerra e Paz, Tolstoi, Leon

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