Vamos falar hoje do primeiro livro de poemas de Manuel Bandeira, as cinzas das horas.
Manuel Carneiro de Souza Bandeira, nasceu em 19 de abril de 1886 no Recife, e morreu na cidade do Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1968.
Em 1913 foi para o sanatório de Clavadel, na Suíça, na esperança de cura sua tuberculose. Lá começou escrever seu primeiro e mais amargurado livro de poesias "As cinza das horas".
O título do livro tem a ver com o pessimismo e a desilusão do autor naquela época com as sequelas da doença e a internação num país distante sem estar próximo dos amigos.
EPÍGRAFE
Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.
Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugia e como um furacão,
Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó -
Ah, que dor!
Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu:
Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.
- Esta pouca cinza fria.
A tuberculose é bastante presente em alguns de seus poemas desse livro como em Desencanto.
"Eu faço versos como quem chora
De desalento...de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa...remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Teresópolis - 1912
Crepúsculo de outono
O crepúsculo cai, manso como uma bênção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito…
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.
O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.
Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura inânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.
Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale… o horizonte purpúreo…
Consoladora como um divino perdão.
O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.
A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.
Clavadel, 1913
Bandeira disse que não tinha intenções de ingressar na vida literária quando escreveu esse livro. Pensou que a atividade lhe seria útil para preencher seu tempo e sua solidão.
Cinza das horas, representa o fim de uma existência. Uma fogueira ardente e magnânima que vai pouco a pouco, à medida do passar das horas, transformar-se em cinzas.
Para encerrar essa linda canção da Adriana Calcanhoto, que cita as cinzas das horas.
Vambora - Adriana Calcanhoto
Fontes:
disal.com.br
maxwell.vrac.puc-rio.br
umlivrodepoesiapordia.blogspot.com
passeiweb.com
youtube.com
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