sexta-feira, 12 de novembro de 2021

 

Vamos falar hoje do primeiro livro de poemas de Manuel Bandeira, as cinzas das horas.





Manuel Carneiro de Souza Bandeira, nasceu em 19 de abril de 1886 no Recife, e morreu na cidade do Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1968.




Em 1913 foi para o sanatório de Clavadel, na Suíça, na esperança de cura sua tuberculose. Lá começou escrever seu primeiro e mais amargurado livro de poesias "As cinza das horas".

O título do livro tem a ver com o pessimismo e a desilusão do autor naquela época com as sequelas da doença e a internação num país distante sem estar próximo dos amigos.


EPÍGRAFE


Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugia e como um furacão,

Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó -
Ah, que dor!
Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu:

Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.
- Esta pouca cinza fria.

A tuberculose é bastante presente em alguns de seus poemas desse livro como em Desencanto.

"Eu faço versos como quem chora
De desalento...de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa...remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

                            Teresópolis - 1912




Crepúsculo de outono




O crepúsculo cai, manso como uma bênção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito…
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.

O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.

Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura inânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.

Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale… o horizonte purpúreo…
Consoladora como um divino perdão.

O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.

A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.

Clavadel, 1913



Bandeira disse que não tinha intenções de ingressar na vida literária quando escreveu esse livro. Pensou que a atividade lhe seria útil para preencher seu tempo e sua solidão.

Cinza das horas, representa o fim de uma existência. Uma fogueira ardente e magnânima que vai pouco a pouco, à medida do passar das horas, transformar-se em cinzas.

Para encerrar essa linda canção da Adriana Calcanhoto, que cita as cinzas das horas.

Vambora - Adriana Calcanhoto


Fontes:
disal.com.br
maxwell.vrac.puc-rio.br
umlivrodepoesiapordia.blogspot.com
passeiweb.com
youtube.com

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