sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Outro clássico da literatura mundial é "A religiosa" de Denis Diderot, escrita em 1760.



Denis Diderot, escritor e filósofo francês, nasceu em Langres em 8 de outubro de 1713, e morreu em Paris em 31 de julho de 1794.

Educado num colégio jesuíta, foi um aluno dedicado e brilhante, recebendo sólida educação humanística.






A religiosa narra o trágico destino de Suzanne Simonin, forçada pela família a tornar-se freira devido a sua origem bastarda. Depois de professar, Suzanne recorre à Justiça para romper seus votos, perde o processo, acaba evadindo-se do convento, refugia-se em Paris, pede socorro ao marquês de Croismare, que supostamente se interessara por ela durante a ação judicial, e para ele escreve sua história, em forma de memórias.





Um argumento simples: uma religiosa sem vocação, em luta contra a sentença do destino.

Trata-se de um romance anticlerical? Mais que isso, anticristão? O romance não prega a antirreligião, nem o anticristaníssimo, nem sequer o anticlericalismo. O alvo principal de Diderot, segundo suas próprias declarações, é a instituição do claustro. Contra os conventos, o romance sustenta duas acusações diferentes, ambas materialistas: a de serem cúmplices de uma ordem social e política iníqua e a de fundarem-se num regime que contesta a ordem da natureza. Para Diderot, a sociabilidade é o mais forte pendor da natureza humana.

O romance pode ser lido, assim, como o estudo clínico que prova como a clausura leva necessariamente ao desarranjo da “delicada máquina” humana. Esta é mais ou menos uma das leituras clássicas de A religiosa.

Outra leitura mais recente, de Catherine Cusset, no romance Diderot examinaria “as relações entre o corpo, a razão e o imaginário” e redefiniria sua noção de liberdade. É por intermédio do corpo que as jovens religiosas e as superioras enlouquecem.

A essa linguagem afetiva que vem do corpo se opõe “a linguagem racional” dos personagens masculinos. O poder dos homens se exerce pela palavra regida por um código, o da justiça humana ou divina. Ora, contra “a alienação histérica” e as paixões desregradas, Suzanne alia-se à “lei”, à civil ou àquela que rege a vida monástica. Essa espécie de “ceticismo racional” a leva a resistir a todas as seduções. A instituição monástica é desumana porque contraria aquilo que Diderot chama de “a inclinação geral da natureza”, “os germes das paixões”, “a natureza” ou “a economia animal”.


Suzanne é não só uma religiosa exemplar como desconhece completamente a “economia animal”, sobretudo na última parte do livro, quando Diderot insiste em sua “inocência”. Para Cusset, não se pode explicar esse “paradoxo” com a alegação de que Diderot escolheu uma personagem pura de qualquer desejo a fim de tornar moralmente inatacável seu desejo de liberdade. Essa “incoerência” se aprofundará justamente no convento de Saint-Eutrope, quando o bem e o mal, até então claramente distinguidos, passam a se confundir. A relação da heroína com a superiora já não é mais uma simples relação de poder, mas uma relação de desejo.
 É por intermédio do olhar inocente de Suzanne, Diderot se põe a descrever cenas de prazer, fazendo de A religiosa um “romance erótico” e do leitor uma espécie de voyeur.




O romance pode ser lido, assim, como o estudo clínico que prova como a clausura leva necessariamente ao desarranjo da “delicada máquina” humana. Diante da resistência de Suzanne, a supersticiosa e despótica madre Cristina entrega-se a uma fúria que tem sido comparada às figuras do marquês de Sade; madre de Moni,   sucumbe cada qual a seu modo: a superiora iluminada, a quem o dom de consolação jamais faltara, não resiste à absoluta falta de vocação de Suzanne, interpretando-a como o insondável ocultamento de Deus; quanto à libertina, ela se perde diante da inocência e virtude inflexíveis de Suzanne: enlouquece, primeiro de amores, em seguida aterrorizada pelas penas do inferno. Em contraste com esses casos de desregramento, pode-se dizer que a inabalável integridade de Suzanne assume proporções quase inverossímeis, como se verá em seguida.


Fontes:
A religiosa, Diderot, Denis - tradução: Antônio Bulhões e Miécio Tati - Editora Abril Cultural  - 1980
aterraeredonda.com.br/a-religiosa/
artepensamento.ims.com.br
google.com

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