Vamos falar de um reduto da boêmia e dos compositores cariocas e brasileiros na primeira metade do século XX, o Café Nice.
Memórias do Café Nice - Milton Carlos
Fundado em 18 de agosto de 1928, o estabelecimento seguia o processo de reurbanização da então capital brasileira, feita a seguir os moldes parisienses, o que influenciou no nome e estilo francês do "Nice".
Tinha uma localização privilegiada na Avenida Rio Branco, no centro da cidade, o que lhe favoreceu a frequência; naquela região a lei obrigava que os frequentadores trajassem vestimentas formais, então mesmo os mais simples clientes trajavam terno e gravata, uma vez que a maioria deles era de homens. Sobre ele registrou Osmar Frazão: “Em frente ao Café Nice ficava o Cinema Parisiense. Foi o primeiro a ser instalado na Rio Branco, em 1907. Ao lado ficava o Cineac Trianon. Nesse trecho ainda tinha a Rádio Clube do Brasil e o Theatro Municipal mais à frente. Então, era um ponto de encontro maravilhoso, que teve uma representatividade muito grande na história do Rio de Janeiro, para a boemia e o lazer”.
Apesar disto, o estabelecimento fechou na metade da década de 1950.
O Café Nice, no Rio de Janeiro, foi um ponto de encontro dos principais músicos da chamada Época de Ouro da música brasileira. Ataulfo Alves, Cartola, Dorival Caymmi, Orlando Silva, Silvio Caldas, Noel Rosa, Ary Barroso e Francisco Alves eram presenças garantidas por lá.
Nestor Holanda, jornalista e assíduo frequentador do Café Nice, relata que ali se realizava, talvez, o maior mercado de música popular do mundo. As transações se davam a qualquer hora, já que o Café Nice abria cedo e fechava bem tarde. Segundo ele, o pianista e violonista Augusto Vasseur quando estava sem dinheiro ia para o Café Nice, levando lápis e papel de música. Logo aparecia quem precisasse de uma partitura escrita, pela qual cobrava dez cruzeiros, por peça. Se fosse orquestração cobrava bem mais caro, cem cruzeiros.
Assim como ele era comum deparar-se, nas mesas do Café Nice, com músicos como Pixinguinha, Benedito Lacerda, Osvaldo Borba, Guerra Peixe, Raul de Barros transcrevendo melodias para o pentagrama, orquestrando, consultando métricas e melodias. Figura curiosa de gênio analfabeto em música era Lamartine Babo. Afinadíssimo já trazia tudo praticamente pronto na cabeça, mas não sabia colocar no papel, aí a turma do Café Nice resolvia o impasse.
Do lado de fora do Café Nice, ficavam, nas calçadas, as mesas e cadeiras de vime. O interior tinha dois ambientes. Um mais requintado, onde se serviam lanches, chás e bebidas finas, e outro onde eram vendidos cafezinhos, a tradicional média pão com manteiga e bebidas mais simples, local preferido pelos artistas. Foi esse lado do Café Nice que o tornou famoso, uma espécie de sede da música brasileira. Lá rolavam amizades, encontros, contratos, compra e venda de músicas, imperando a conhecida máxima de Sinhô de que "Samba é igual a passarinho, é de quem pegar!".
O folclore do Café Nice dizia que as paredes tinham ouvidos. Conta-se que: "Certa vez o compositor Frazão, que vivia em Paquetá, fez uma melodia na travessia da barca da Cantareira e, chegando ao Rio de Janeiro, foi direto para o Café Nice e pediu ao primeiro músico que encontrou, para escrevê-la. Boêmio e disperso, saiu, em seguida, para uma pescaria com os amigos, por vários dias. Resultado: quando retornou ouviu sua melodia já gravada, em nome de outro, que comprara do tal músico. Por essas e outras é que alguns frequentadores diziam, 'até as paredes do Nice têm ouvidos para roubar ideias..."
Fontes:
wikipedia.org
youtube.com
google.com
eternas-musicas.blogspot.com
senado.leg.br
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