sábado, 30 de agosto de 2025

 Morre o Analista de Bagé.




Poucos personagens, em toda a história da literatura brasileira, alcançaram a repercussão e a admiração popular do analista de Bagé, que se declara “freudiano de colá decalco” e“ mais ortodoxo do que rótulo de Maizena”. Apenas oito meses depois que Luis Fernando Verissimo lançou “O Analista de Bagé“, em 1981, a obra atingiu a marca da 50ª edição e de 160 mil exemplares vendidos.


Irônicos e diretos, com algumas pitadas de reflexão social, os textos de “O Analista de Bagé” trazem à tona os bastidores do consultório de um hilário psicanalista gaúcho, que faz uso de conhecimentos pseudocientíficos aliados à sabedoria popular dos pampas para auxiliar seus pacientes a resolver seus anseios.


`Contam que outra vez um casal pediu para consultar, juntos, o analista de Bagé. Ele, a princípio, não achou muito ortodoxo. - Quem gosta de aglomeramento é mosca em bicheira... Mas acabou concordando. - Se abanquem, se abanquem no más. Mas que parelha buenacha, tchê. Qual é o causo? - Bem - disse o home - é que nós tivemos um desentendimento... - Mas tu também é um bagual. Tu não sabe que em mulher e cavalo novo não se mete a espora? - Eu não meti a espora. Não é, meu bem? - Não fala comigo! - Mas essa aí tá mais nervosa que gato em dia de faxina. - Ela tem um problema de carência afetiva... - Eu não sou de muita frescura. Lá de onde eu venho, carência afetiva é falta de homem. - Nós estamos justamente atravessando uma crise de relacionamento porque ela tem procurado experiências extra-conjugais e... - Epa. Opa. Quer dizer que a negra velha é que nem luva de maquinista? Tão folgada que qualquer um bota a mão? - Nós somos pessoas modernas. Ela está tentando encontrar o verdadeiro eu, entende? - Ela tá procurando o verdadeiro tu nos outros? - O verdadeiro eu, não. O verdadeiro eu dela. - Mais isto tá ficando mais enrolado que linguiça de venda. Te deita no pelego. - Eu? - Ela. Tu espera na salinha.

O analista de Bagé




Luís Fernando Veríssimo, o famoso criador do Analista de Bagé, morreu hoje, aos 88 anos, o escritor, cartunista e humorista Luis Fernando Verissimo, filho do também escritor Érico Verissimo e de Mafalda Verissimo. Segundo a assessoria do Hospital Moinhos de Vento, onde o escritor estava internado, Verissimo morreu às 0h40 deste sábado (30), em decorrência de complicações causadas por uma pneumonia.



Conhecido principalmente por suas crônicas, o autor também publicou romances de sucesso, como O clube dos anjos. O humor é a principal característica de suas obras, que apresentam fina ironia, além de crítica sociopolítica. Na contemporaneidade, é um dos autores que mais vendem livros no Brasil.

Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre em 26 de setembro de 1936. Viveu nos Estados Unidos em parte da infância e juventude porque seu pai foi professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e diretor cultural da União Pan-americana em Washington. Na fase final da vida, Luis Fernando só falava curtas frases em inglês, disse sua esposa à Folha de S. Paulo em agosto.

Em 1963, casou-se com Lúcia Helena Massa, sua companheira até o fim da vida. Da união, nasceram três filhos: Fernanda, em 1964, Mariana, em 1967, e Pedro, em 1970.

Lucia Helena e Luís Fernando Veríssimo



Luis Fernando Verissimo lançou seu primeiro livro em 1973. "O popular: crônicas, ou coisa parecida" é uma coletânea de textos que ele havia publicado em jornais, acompanhados de desenhos feitos pelo próprio autor. Luis Fernando guardou uma cópia da primeira edição com uma dedicatória a si mesmo: "Para o autor dos meus dias e outras grandes obras? Um abraço, Luis Fernando. Porto Alegre, 11/12/73". O exemplar hoje faz parte do acervo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, na capital gaúcha.

Outro personagem icônico criado por ele foi a `velhinha de Taubaté´.



A Velhinha de Taubaté — criada durante o último governo militar, do presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985) — era uma alma inocente, que acreditava em tudo que lhe diziam, principalmente se a fonte era Brasília. “Ela acredita em anúncio, acredita em nota de esclarecimento, acredita até nos ministros da área econômica”, segundo Veríssimo.

Veríssimo disseque a velhinha de Taubaté morreu, porém não é difícil encontrá-la em várias personagens da vida atual, principalmente àquelas velhinhas, cuja única forma de o firmação é o WhatsApp.


Nos últimos anos, enfrentou problemas de saúde. Em 2020, teve um câncer ósseo na mandíbula, que tratou com uma cirurgia bem-sucedida. No ano seguinte, no entanto, sofreu um AVC que o fez parar de escrever. As sequelas, combinadas com o avanço da doença de Parkinson, aceleraram a deterioração de sua saúde.


Fontes:

uol.com.br/splash/noticias
guiadoestudante.abril.com.br
ufrgs.com
brasilescola.uol.com.br
veja.abril.com.br
google.com

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