quinta-feira, 7 de agosto de 2025

 Primo Levi





Primo Levi (Turim, 31 de julho de 1919 — Turim, 11 de abril de 1987) foi um químico e escritor italiano. Escreveu memórias, contos, poemas e novelas. É mais conhecido por seu trabalho sobre o Holocausto, em particular, por ter sido um prisioneiro em Buma-Monowitz ( Auschwitz III). Seu livro Se questo è un uomo ( Brasil) : É isso um Homem / Porrtugal: Se Isto É um Homem) é considerado um dos mais importantes trabalhos memorialísticos do século XX. Seu livro Il sistema periódico (A Tabela Periódica), por sua vez, foi considerado o melhor livro de ciência já escrito pela Royal Instituion.

Nesse livro, Levi, que também era químico, reúne uma coleção de 21 contos autobiográficos, cada um nomeado em referência a um elemento químico, onde a química serve como metáfora para a experiência humana, incluindo o período de Levi em um campo de concentração nazista.




Levi cresceu em Turim, na Itália, em uma família judia. Ele se formou em química na Universidade de Turim, em 1941, apesar de o governo fascista ter promulgado a lei racial proibindo os cidadãos judeus de estudarem em faculdades públicas. Em 1943 se juntou à resistência contra o fascimo, mas foi preso algumas semanas mais tarde.


Ao revelar sua origem judaica, foi deportado para Auschwitz, um dos mais famosos campos de concentração do nazismo. Levi viajou em fevereiro de 1944, a bordo de um trem com 650 mulheres, homens e crianças. Apenas 120 deles foram admitidos como prisioneiros, todos os outros foram assassinados imediatamente em câmaras de gás. No final da guerra, Levi era um dos únicos sobreviventes de seu trem.

Ele considera sua sobrevivência um caso de sorte: graças a seus conhecimentos em química, Levi foi convocado para trabalhar em um dos laboratórios do campo de concentração, o que permitiu que ele ficasse em um ambiente fechado e sobrevivesse ao inverno rigoroso – e escapasse da câmara de gás.






Primo Levi sobreviveu à estada no campo de concentração de Auschwitz só graças ao acaso e à sorte. Ele viu outros seres humanos sendo degradados, humilhados, destruídos e aniquilados, e escreveu suas vivências em 1947, logo após retornar ao seu país natal, a Itália. Era um dos primeiros testemunhos literários dos abismos de desumanidade do Holocausto.

No entanto, seu pesadelo de detento de campo de concentração tornou-se realidade: ninguém acreditava nele, nem queria ler sua história. Por muito tempo, Levi não encontrou uma editora. A primeira tiragem de seu relato autobiográfico foi de apenas 1.400 exemplares.

Hoje, É isto um homem? é uma das grandes obras da literatura mundial. Após o lançamento pela conceituada editora italiana Einaudi, em 1958, a tradução para o alemão chegou três anos mais tarde. Foi necessário, portanto, uma década e meia até o mundo da literatura reconhecer o valor extraordinário das palavras desse sobrevivente.




"Autor à revelia" para livrar-se do "fardo de lembranças pavorosas", ele observou e descreveu em É isto um homem? o que atravessara em seus 11 meses em Auschwitz: frio, fome, privação de sono e higiene, trabalho escravo, sofrimento físico extremo. O tom narrativo é frio, sem comentários, sem jamais perder o controle.

O autor não acrescenta nenhuma poesia, renuncia a manifestações emocionais, colocando-se, em vez disso, no papel de pesquisador, que ele bem conhecia. Sua descrição não visa expressar o próprio horror – isso cabe ao leitor. Essa objetividade seca o distingue de outros escritos autobiográficos sobre o Holocausto, tornando-o um escritor admirado.

A detenção de Primo Levi ocorreu em 13 de dezembro de 1943, quando foi enviado para um Campo em Fóssoli, perto de Modena, Itália. Dali, em 22 de fevereiro de 1944, foi transportado para a estação de Cárpi onde, como parte de um grupo de 650 judeus, embarcou em um dos doze vagões destinados a Auschwitz.

A respeito dessa experiência ele narra: 

Ali estava, então, sob nossos olhares, sob nossos pés, um dos famosos comboios alemães, desses que não retornam, dos quais, com um calafrio e com uma pontinha de incredulidade, tantas vezes tínhamos ouvido falar. Era isso mesmo, ponto por ponto: vagões de carga, trancados por fora, e, dentro, homens, mulheres e crianças socados sem piedade, como mercadoria barata, a caminho do nada, morro abaixo, para o fundo. (LEVI, 1988, p. 17) 


Segundo seu relato, das 45 pessoas de seu vagão, apenas quatro sobreviveram e este foi o “mais afortunado” dos vagões. Espremidos como animais enjaulados, sofreram fome, frio, sede, fadiga, exaustão emocional, agressividade mútua, pelas mais diversas razões, e enfrentaram a absurda crueldade dos transportadores através de todas as humilhações e ofensas ao pudor possíveis. Desse período de tempo encerrado pela viagem de trem, Levi nos deixa duas importantes considerações. 

A primeira diz respeito à noite de 21 para 22 de dezembro de 1944, quando os judeus se prepararam para a viagem, quando o tempo de interrogação ainda era passível de raciocínio:

  “Falamos de muitas coisas naquelas horas; fizemos muitas coisas; mas é melhor que não permaneçam na memória” (LEVI, 1988, p.16). 

Essa é a primeira clara manifestação de como a memória poderá e será manipulada pelas consciências sobreviventes, tanto no aspecto físico, quanto no moral e no intelectual. Levi e todos os sobreviventes que se dispuseram a testemunhar, oficialmente ou não, mantiveram a sanidade mental ao manusear as reminiscências nos mais diferentes períodos de tempo. Lembrar, rememorar e contar permitiram que, mesmo nos apagamentos oficiais, as vivências fossem tornadas públicas para a inserção na história de horror do período nazista.

A segunda, já na obra Os afogados e os sobreviventes (2004), Levi alude à viagem para Auschwitz dizendo que:

  “Era efetivamente um prólogo. Na vida que devia vir, no ritmo cotidiano do Lager, a ofensa ao pudor representava, pelo menos no início, uma parte importante do sofrimento global” (LEVI, 2004, p. 96). 

Na mesma obra, o autor afirmou, ainda, que adaptar-se a isso significava que “a transformação de seres humanos em animais já estava a meio caminho” (LEVI, 2004, p. 97).

O Campo seria um microcosmo da sociedade alemã em todas as suas ocorrências e tal como foi instalado, foi destruído pelo ódio e pela cegueira de uma guerra sem inimigos; luta ilógica preenchida apenas pela violência de um movimento nacionalista alimentado pela capacidade de multiplicar o mal pelo mal em si. Nas palavras de Levi: 

Reproduzia-se assim, dentro dos Lager, em escala menor mas com caraterísticas ampliadas, a estrutura hierárquica do Estado totalitário, no qual todo o poder emana do alto e um controle de baixo para cima é quase impossível. Mas esse “quase” é importante: jamais existiu um Estado que fosse realmente “totalitário” sob esse aspecto. Uma forma qualquer de reação, um corretivo ao arbitrário total, jamais deixou de haver, nem no Terceiro Reich nem na União Soviética de Stalin [...] Só dentro do Lager o controle a partir de baixo era nulo, e o poder dos pequenos sátrapas era absoluto. (2004, p. 40) (Grifos do autor.)




Fontes:

wikipedia.org
google.com
revistagalileu.globo.com
dw.com/pt
O silêncio audível em É isto um homem?, de Primo Levi Neiva Kampff Garcia Cláudia Mentz Martins 






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