Paris é uma Festa - Ernest Hemingway, título original The Moveable Feast.
Ernest começou a escrever este livro em Cuba, no outono de 1957; trabalhou nele em Ketchum, Idaho, no inverno de 1958-1959; levou os originais para a Espanha, em abril de 1959; trouxe-os de volta para Cuba e mais tarde, no fim do outono daquele ano, de novo para Ketchum. Terminou de escrevê-lo na primavera de 1960, em Cuba.
O livro apresenta as memórias de Hemingway a respeito do tempo em que viveu em Paris, na década de 20. Na época, o autor (hoje considerado um dos maiores escritores americanos de todos os tempos, vencedor de prêmios como Pulitzer e Nobel) tinha apenas vinte e poucos anos e ensaiava seus primeiros textos. Havia deixado o jornalismo para se dedicar à literatura, mas ainda não se encorajava a escrever romances. Seus contos despertavam pouco interesse e raros eram publicados. Como resultado, o dinheiro estava sempre curto. Ainda assim, Hemingway era feliz. Estava apaixonado por sua esposa, Hadley Richardson, sua primeira esposa, com quem tinha se casado em 1921. Conhecia gente interessante e morava em uma cidade linda.
É possível sentir em cada página o carinho de Hemingway por esse tempo já distante de sua vida. Como o livro foi escrito na década de 50, fica perceptível a saudade com que o autor lembra da rotina que vivia, dos lugares que frequentava (entre eles a famosa livraria Shakespeare and Company, ponto de encontro de escritores que anos depois se tornariam pilares da literatura mundial) e das pessoas que conhecia andando a esmo, entrando em um café aqui, em um bar ali e que, eventualmente, se tornavam amigos. Entre elas, James Joyce, Gertrude Stein, Ezra Pound, Ford Madox Ford e, claro, Scott Fitzgerald (que na época começava a ser reconhecido pela crítica – embora não pelo público – por “O Grande Gatsby”). Este último ganha um capítulo à parte no qual Hemingway fala sobre a convivência com o amigo, deixa clara sua admiração ao colega escritor, e discorre um pouco a respeito do complicado relacionamento de Scott e Zelda. Foi nessa época também que Hemingway passou a ler nomes como Simenon, Tolstói e Dostoiévski (revelando apreço pela obra dos primeiros, nem tanto pela do último).
Havia dias em que Hemingway não tinha dinheiro ao menos para almoçar e não devia ser menos frustrante não ter quase ninguém interessado em seus textos, mas apesar das dificuldades, fica claro que aqueles eram tempos leves e felizes. Tempos em que ele ainda não enfrentava problemas como alcoolismo e depressão.
Se você não se alimentava bem em Paris, tinha sempre uma fome danada, pois todas
as padarias exibiam coisas maravilhosas em suas vitrinas e muitas pessoas comiam ao ar
livre, em mesas na calçada, de modo que por toda a parte via comida ou sentia o seu
cheiro. Se você abandonou o jornalismo e ninguém nos Estados Unidos se interessa em
publicar o que está escrevendo, se é obrigado a mentir em casa, explicando que já
almoçara com alguém, o melhor que tem a fazer é passear nos jardins do Luxembourg,
onde não via nem cheirava comida, desde a Place de l'Observatoire até a rue de
Vaugirard. (Cap. VIII - p.27)
Hemingway, viveu na Paris dos anos 20, após a Primeira Guerra Mundial, onde a nata dos intelectuais e dos artistas se reuniam. O bairro de Montparnasse, conhecido pelos seus cafés e bares, era um importante centro de atividade artística e intelectual.
Também o bairro de Montmartre, com o seu ambiente boêmio e os seus estúdios de artistas, atraía muitos artistas. O Quartier Latin, que é um dos bairros mais antigos de Paris, também era um local onde muitos intelectuais e artistas se reuniam.
Moulin Rouge
Hemingway convivia com artistas e escritores como Scott Fitzgerald, Gertrud Stein. Ezra Pound, dentre outros.
Quando já não havia luz no Luxembourg, podia voltar pelos jardins e dar um pulo ao apartamento-estúdio onde Gertrude Stein morava, na rue de Fleurus, 27. Minha mulher e eu já nos havíamos apresentado a Miss Stein, e tanto ela como a amiga com quem vivia tinham sido muito cordiais e amistosas conosco; ficámos apaixonados pelo estúdio e seus quadros maravilhosos. Era como uma das melhores salas do mais belo museu, com a vantagem de haver uma enorme lareira que nos proporcionava calor e conforto e delas nos oferecerem boas coisas para comer, além de chá e licores de destilação natural, feitos de ameixas escuras, ameixas amarelas ou amoras silvestres. Eram bebidas alcoólicas fragrantes, incolores, guardadas em garrafas de cristal lapidado e servidas em cálices; fossem de quetsche, micabelle ou framboise todas tinham o sabor das frutas de que eram feitas e, convertidas em fogo brando ao tocar nossas línguas, aqueciam-nos e nos tornavam comunicativos.
( Cap.II p. 8 e 9)
Gertrud Stein e Alice B.Toklas
Também tem um capítulo dedicado ao poeta Ezra Pound, um de seus melhores amigos.
Ezra Pound foi sempre um amigo generoso, e vivia procurando ajudar a todo mundo.
O estúdio em que morava com Dorothy, sua mulher, na rue Notre-Dame-des-Champs,
era tão pobre quanto o de Gertrude Stein era rico. Mas possuía ótima luz, tinha uma boa
estufa para aquecê-lo, e nas paredes havia quadros de pintores japoneses, que Ezra
apreciava. Creio que esses artistas eram todos nobres, lá em sua terra, e usavam
cabelos compridos. Compridos e de um negro brilhante, cabelos que se derramavam
para a frente quando os japoneses se curvavam em suas mesuras; confesso que esses
orientais me impressionavam muito mais do que suas pinturas. Eu não as entendia bem,
mas não tinham qualquer mistério; quando acabei por compreendê-las, verifiquei que
não me diziam coisa alguma. Não gostei de chegar a essa conclusão, mas era assim
mesmo e não tinha remédio.
Os quadros que Dorothy pintava já me agradavam bastante: além disso, era uma
mulher bonita e tinha um corpo perfeito. (Cap.XII p.42)
Ezra Pound e Dorothy
Outro grande amigo ao qual Hemingway dedica um capítulo no livro é Scott Fitzgerald.
Uma coisa muito estranha aconteceu quando travei conhecimento com Scott
Fitzgerald. Muitas coisas estranhas aconteciam com Scott, mas jamais me poderia
esquecer daquela primeira. Ele entrara no Dingo, um bar na rue Delambre, onde eu
bebericava com alguns tipos totalmente inexpressivos, apresentou-se e apresentou-nos a
um sujeito alto e simpático que o acompanhava, informando que ele era Dunc Chaplin,
o grande craque de beisebol. Eu jamais acompanhara o beisebol de Princeton, mas ele
era extraordinariamente simpático, calmo, despreocupado e simples, o que de pronto
me levou a gostar mais dele do que de Scott.
Scott era nessa época um homem de aspecto juvenil, com um rosto entre simpático e
bonito. Seus cabelos eram claros e ondulados, a testa era alta, erguendo-se acima de
olhos matreiros e cordiais e de uma boca de lábios tão delicados e longos como os de um
irlandês; se fossem de moça, seriam os lábios da própria beleza. O queixo era bem
construído, as orelhas eram perfeitas e o nariz, de linhas finas, era quase elegante.
Tudo isso não bastaria para compor um rosto bonito, mas a impressão de beleza era
acentuada pelos cabelos muito claros e pela boca delicada. Tão delicada que nos
intrigava enquanto não o conhecíamos e, então, nos intrigava ainda mais. (Cap. XVII p. 57)
Paris é uma festa é uma narrativa de Hemingway sobre sua estadia em Paris nos anos 20, embora no começo do livro ele dizer que o leitor poderia considerar como um trabalho de ficção.
Quem assistiu o filme de Woddy Allen, Meia-noite em Paris, vai reconhecer que o livro serviu de inspiração para o filme.
Fontes:
alemdacontracapa.blogspot.com
doceru.com
Hemingway, Ernest - Paris é uma festa
tudosobreparis.com
nationalgeographicbrasil.com
google.com
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