segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

 Vamos falar hoje do poeta Augusto dos Anjos.





Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, conhecido como Augusto dos Anjos, nasceu no engenho "Pau d'Arco", na Paraíba, no dia 22 de abril de 1884. Era filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos.

Recebeu do pai, formado em Direito, as primeiras instruções. No ano de 1900 ingressou no Liceu Paraibano e nessa época compôs seu primeiro soneto, "Saudade".

Augusto dos Anjos estudou na Faculdade de Direito do Recife entre 1903 e 1907. Formado em Direito retornou para João Pessoa, capital da Paraíba, onde passou a lecionar Literatura Brasileira, em aulas particulares.

Saudade

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença, em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

À noute quando em funda soledade
Minh’alma se recolhe tristemente,
P’ra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,
Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.


Nesse poema o autor incorpora a dor da saudade como uma benção, que ao mesmo tempo que lhe faz sangrar a alma, o alimenta sua vida.

Embora influenciado pelos movimentos Simbolistas e Naturalista, o poeta não pertence a nenhum deles. Pertence à classe dos poetas Pré-Modernistas. É tido como o poeta mais sombrio da Literatura Brasileira. Seus versos sofridos e melancólicos expressam sua dor, mas ao mesmo tempo trazem beleza com suas construções originais.


Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!





Em 1908, Augusto dos Anjos foi nomeado para o cargo de professor do Liceu Paraibano, mas em 1910 foi afastado da função por se desentender com o governador. Nesse mesmo ano casou-se com Ester Fialho e mudou-se para o Rio de Janeiro depois que sua família vendeu o engenho Pau d'Arco.

No Rio de Janeiro, Augusto dos Anjos lecionou literatura em diversos cursinhos. Lecionou Geografia na Escola Normal, depois, no Instituto de Educação e no Ginásio Nacional. Em 1911 foi nomeado professor de Geografia no Colégio Pedro II. Durante esse período publicou vários poemas em jornais e periódicos.


"Augusto dos Anjos foi poeta de um livro só, intitulado Eu. Isso se deu em parte por sua morte prematura, em parte pelo gosto literário da época, que deliberadamente ignorou seu volume de poemas, ou o rechaçou veementemente. Olavo Bilac, bastante famoso em sua época, tomou conhecimento da existência do poeta apenas depois de sua morte e ao ouvir declamado um dos poemas de Augusto dos Anjos, disse: “Fez bem em morrer, não se perde grande coisa”.

A arrogância, petulância e insensibilidade do “príncipe dos poetas” parnasiano não poderia se provar mais errada: Augusto dos Anjos obteve fama póstuma. A terceira edição de seu livro de poemas, publicada em 1928, adicionou mais alguns escritos à coletânea, passando a se chamar Eu e outras poesias e vendeu 3 mil exemplares em 15 dias e 5.500 exemplares em dois meses. O livro já ultrapassa as 40 edições e Augusto dos Anjos segue sendo um dos poetas mais lidos do Brasil."






Psicologia de um Vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro da escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – esse operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!


Fontes:

culturagenial.com
ebiografia.com
recantodasletras.com.br
brasilescola.uol.com.br
wp.ufpel.edu.br

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