quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Hoje vamos falar do livro Moll Flanders de Daniel Defoe, mesmo autor de Robinson Crusoé.


Daniel Defoe nasceu em Londres em 1660 e faleceu no mesmo local em 24 de abril de 1731.

Com a revolução Gloriosa (1688) e a ascensão ao trono do holandês Guilherme de Orange, Defoe foi favorecido com empregos lucrativos e iniciou atividades comerciais que o levaram a Portugal e Espanha. Moll Flanders é considerado sua obra prima.











Filha de mãe ladra que foi deportada (na época, os ladrões da Inglaterra eram deportados para as colônias) Moll passou a viver às custas do Estado ainda criança. Ela não se demora muito nessa parte, talvez por nem lembrar tanto da fase. Apesar dessa vida não ser das melhores, ela acaba dando sorte e vai morar com uma senhora que ensina muitas coisas sobre os costumes das mulheres da época. Ela aprende tudo rapidamente e começa a sonhar em ser uma ‘dama da sociedade’.





Moll Flanders, a personagem principal e narradora, coloca em evidências as intempéries e os preconceitos sofridos – contra os quais se impôs como mulher ávida e capitalista -, que com suas habilidades próprias lutou para se impor numa sociedade absolutamente machista e mercantilista na qual ela vivia nos idos do século XVIII. E que, convenhamos, está aí bem viva até os dias de hoje.


Damas da sociedade eram aquelas que tinham muito dinheiro e viviam de ir a festas e serem vistas como mocinhas bonitas. Algo como as socialites que vemos hoje. Só que para Flanders, ser uma dama da sociedade significava ganhar seu próprio sustento e não ser criada de ninguém. Ser criada era a única perspectiva na época para mulheres mais pobres (porque certas coisas não mudam). Esse discurso fazia as damas de verdade se divertirem e elas lhe davam dinheiro como que por caridade . Ainda que não percebesse, Moll era quase como a boba da corte.

Quando sua benfeitora morre, Moll acaba acolhida por uma senhora rica para que seja companhia de suas filhas. Ela acaba por aprender francês e mais algumas coisas da alta sociedade por tabela. Aos 18 anos, ela já é uma jovem muito bonita e começa a chamar a atenção dos moços da casa. Ela aceita, muito ingenuamente, as investidas do filho mais velho e torna-se sua amante acreditando que ele pretende casar-se com ela mais tarde.

As coisas ficam mais complicadas quando o filho mais novo diz que deseja casar-se com ela de verdade. Depois de muita dor de cabeça e tristeza pela traição de seu amante (ela diz realmente gostar do filho mais velho de sua Senhora), ela casa com o mais novo e assim fica por 5 anos e 2 filhos. Quando o marido morre, Moll não tem nada em seu nome além de uns trocados e os filhos são tomados pelos sogros. Sozinha e desamparada financeiramente, ela parte para encontrar nova companhia. Casa-se novamente com um comerciante que gasta mais do que pode e acaba falindo. Ela sai da cidade para fugir dos credores e com medo de ser presa.

Mas é no terceiro casamento que os problemas chegam a níveis tensos. Moll agora está mais pobre e seu dote não é suficiente para que consiga um bom marido. Ela precisa, portanto, ser muito astuta para enganar o futuro esposo (amor de verdade começa sempre com umas mentirinhas, afinal). Acontece de eles irem para os Estados Unidos viver da plantação do marido e lá, ela descobre algumas verdades sobre sua família que são não apenas incômodas. São tenebrosas.

Daqui para frente, Moll encontra apenas mais dores de cabeça até sair de seu quinto casamento e enfrentar a decisão de deixar para trás os vários filhos que tivera. Sua vida parecia tomar o inevitável rumo daquele que sua mãe conheceu.

Enquanto transita por seus problemas e tristezas, Moll de vez em quando solta alguns pensamentos fantásticos sobre ser mulher e estar na sua situação. Como, por exemplo: “Eu não posso deixar de lembrar às minhas leitoras a que ponto elas se rebaixam na condição de esposas – a qual, se posso dizer com toda imparcialidade, já é bem baixa -, colocando-se abaixo do estado natural, aceitando ser insultadas pelos homens, o que, confesso, não vejo necessidade de acontecer.”

A condição de esposa naquela época, século XVIII, era uma posição de subserviência, sendo tratada como propriedade pelo marido.

São percepções bem apuradas das relações sociais da época, ditas por alguém que segue à margem – ainda que representando um papel importante nessa mesma sociedade. Querida Moll já tinha pensamentos bem avançados notando, por exemplo, que os homens exigiam das mulheres, muitas vezes, coisas que eles próprios não podiam oferecer em retorno e que aproveitavam-se de certas vantagens sociais para seus próprios benefícios em detrimento da livre escolha das mulheres. Ela sabia desde cedo que as mulheres não eram livres. Ou, pelo menos, não tão livres quanto os homens.

O dinheiro e o debate sobre ter ou não um pé de meia permeia o livro todo – alguns inclusive acreditam que a história poderia ser uma crítica ao sistema que mais tarde ficaria conhecido como capitalismo (o termo ainda não havia sido cunhado na época). Seria viável, pois a vida de Moll e todas suas escolhas – e seus erros, consequentemente – giram em torno de conseguir um bom dote e uma maneira de viver bem – ser a ‘dama da sociedade’. Com isso, ela deixa de lado a moral cristã e comete alguns dos piores crimes que uma “dama” da época poderia cometer. Suas escolhas provam que algumas pessoas são realmente capazes de tudo em nome do dinheiro e do que imaginam ser ‘a vida ideal’.







Moll Flanders foi transformado em filme de 1995 com direção de Pen Densham.

Estrelando: Brenda Fricker, John Lynch, Morgan Freeman, Robin Wright Penn, Stockard Channing, Aisling Corcoran.



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Daniel Defoe



Em Moll Flanders de 1722, Daniel Defoe continuou a problematizar narrativamente os percursos de personagens solitárias e em crise. Uma outra obra significativa é A Journal of the Plague Year, também de 1722, na qual constrói um relato de uma epidemia de peste com admirável e original realismo.




Fontes:
wikipedia.org
google.com.br
opoderosoresumao.com
Defoe, Daniel - Moll Flanders - Ed. Abril - 1980
nonada.com.br

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