Simão Bacamarte resolveu criar um local onde todos aqueles que fossem diagnosticados com distúrbios mentais pudessem conviver com seus iguais, dessa forma, segundo ele, o tratamento seria mais eficaz.
Chamou esse local de Casa Verde, e mandou para lá todos que ele considerava loucos.
Na cidade, foi uma agitação total, com todos comentando a loucura de juntar todos os loucos num só lugar.
Em princípio, Simão decidiu expor a sua ideia ao padre Lopes, que achou a ideia absurda.
A despeito das opiniões em contrário, Simão começa colocar seu plano em funcionamento, e começa a internar os diagnosticados por ele com algum distúrbio.
Os primeiros internados na Casa Verde foram os com mania de discursar, como Martim Brito,(Martim Brito fez um discurso em homenagem à ilustre dama, enfatizando que, na criação dos homens, “Deus quis vencer a Deus e criou d. Evarista”. O alienista viu ali um caso típico de lesão cerebral, e o moço foi recolhido... )
aqueles ditos como vaidosos a exemplo do alfaiate Matheus, os que eram gentis demais, como Gil Bernardes e até os que emprestavam dinheiro não escaparam do doutor. Numa noite, a mulher de Simão estava indecisa quanto ao colar o qual deveria usar para o baile. Para Bacamarte não lhe restaram dúvidas: internou a própria esposa classificando o seu comportamento como uma insanidade.
Todos os critérios eram regidos pelo alienista, contando também com o apoio e a ordem da Igreja e dos poderes da época. Seguindo esse conceito, o Dr. Simão internou um número alarmante de pessoas. O povo indignado resolve tramar uma rebelião contra as injustiças cometidas. O levante foi liderado pelo barbeiro Porfírio o qual promete pôr abaixo as paredes do manicômio. Todavia, Porfírio entra em acordo com Simão. O consentimento foi suficiente para uma nova revolta liderada, agora, por João Pina, outro barbeiro da cidade. Milícias de outro território deram um fim às discórdias e o doutor prosseguiu seus estudos.
Com o tempo os critérios para a internação são modificados.
Simão passa a considerar outra teoria: louco seria aquele que possui a mente em perfeito equilíbrio e não o que tem o juízo doentio. A parte desta nova descoberta, Bacamarte libera os antigos loucos e interna agora o padre Lopes, a esposa de Crispim e Porfírio. Depois de um breve tempo, até que os novos internados pudessem revelar algum tipo de desequilíbrio, Simão Bacamarte libera-os.
Contudo, o alienista não estava satisfeito. Chegou à conclusão de que ninguém estava realmente doente e os desequilíbrios notados já faziam parte do comportamento dos mesmos.
Simão decide pôr-se a estudar seu próprio estado mental. Por fim, declara-se o único equilibrado da vila, trancando-se na Casa Verde. Morre depois de 17 meses.
A sátira e a ironia presentes na obra machadiana, se repete nessa obra.
Num contexto histórico a obra de Machado de Assis se desenvolve no final do século XIX, uma era que se dava o despertar da ciência e suas teorias mais avançadas.
No Rio de Janeiro em 1841, surge o asilo provisório, e no mesmo local em 1852, surge o Hospício D.Pedro II, que segue o modelo das instituições francesas, idealizadas pelos Dr Pinel e Dr. Esquirol.
Machado faz uma sátira e uma crítica à tentativa das explicações científicas para todas as mazelas da sociedade da época.
Assim Simão Bacamarte, é um esteriótipo do médico e cientista que detém o poder do conhecimento e arrogância de não admitir discussões sobre suas ideias e seus métodos .
Outra crítica, bastante hilária da Machado é a respeito das patologias encontradas pelo Dr. Bacamarte, para diagnosticar a loucura nas pessoas.
Assim o homem mais honesto da cidade foi internado, porque não era "normal" tamanha honestidade naquela sociedade. Assim como aquele que não mentia, ou outro que mentia demais, o ganancioso, o indeciso, o que orava muito, o muito obediente, o muito rebelde, para tudo o Dr. Simão Bacamarte tinha uma explicação para internação.
Ao contar a história de um doutor que procura explicar, por meio de teoria, a loucura; Machado mostra uma ciência que por si só é incerta, isto é, nos mostra o quanto somos frágeis diante de certas situações, pois, se os médicos, que detém o conhecimento, não conseguem explicações lógicas para certas ocorrências da vida, como poderia, então, encontrá-las, os seres meramente “comuns”? Dessa forma, a obra de Machado consegue ultrapassar o seu tempo e está bem presente na atualidade, uma vez, que ela permite a reflexão, mostra-nos a literatura como uma fonte de consciência que nos leva ao questionamento dos desmandos cometidos por quem detém o poder. Assim como faz o protagonista do conto, usa a ciência como sua “arma” única para explicar os seus desmandos, “– A ciência, disse ele a sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo” (Assis, 2009, p. 09). A obsessão de Bacamarte em estudar e entender o estágio da loucura humana torna-se tão intensa, que chega a um ponto em que a população já não consegue mais definir quem realmente estava louco, ou se alguém realmente era louco.
Em 1993 a Globo exibiu uma minissérie com Marco Nanine e Giulia Gam, com o título de "O Alienista e as aventuras de um Barnabé" baseado na obra de Machado de Assis.
O filme "Azyllo muito louco" de Nelson Pereira dos Santos de 1970 com Nelson Dantas, Nildo Parente, Isabel Ribeiro e Leila Diniz.