quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

 A República de Platão.



A palavra República vem do latim (res-publica) ou seja, coisa pública.

Escrita por volta de 380 a.C., 

A República é o segundo diálogo mais extenso de Platão (428-347 a.C.), composto por dez partes (dez livros) e aborda diversos temas como: política, educação, imortalidade da alma, etc. Entretanto, o tema principal e eixo condutor do diálogo é a justiça.

No texto, Sócrates (469-399 a.C.) é o personagem principal, narra em primeira pessoa e é responsável pelo desenvolvimento das ideias. Essa é a principal e mais complexa obra de Platão, onde estão presentes os principais fundamentos de sua filosofia.

A República (Politeia) idealizada pelo filósofo se refere a uma cidade ideal, chamada de Kallipolis (em grego, "cidade bela"). Nela, deveria ser adotado um novo tipo de aristocracia. Diferente da aristocracia tradicional, baseada em bens e na tradição, a proposta do filósofo é que esta possua como critério o conhecimento.

A Kallipolis estaria dividida em estratos sociais baseados no conhecimento e seria governada pelo "rei-filósofo". Os magistrados, responsáveis pelo governo da cidade, seriam aqueles que possuíssem uma aptidão natural para o conhecimento, e, somente após um longo período de formação, estariam preparados para ocupar os devidos cargos.




Esse sistema de governo é chamado de sofocracia, que vem das palavras gregas sophrós (sábio) e kratia (poder) e é representado como "o governo dos sábios".


A morte de Sócrates

Sócrates debate com outros personagens sobre o que é a justiça, concluindo que uma sociedade justa é aquela em que cada indivíduo cumpre sua função sem interferir nas dos outros.




É importante perceber que a morte de Sócrates foi muito importante para a continuidade da filosofia platônica. Motivou-o em parte à proposição de uma cidade ideal e sua crítica à democracia, presentes na obra.

Sócrates foi condenado à morte, acusado de heresia e corrupção da juventude ateniense. Foi julgado em um tribunal democrático no qual participaram os cidadãos de Atenas.

Para o filósofo, a democracia é injusta por permitir que uma pessoa ignorante tenha o mesmo valor que um sábio, dentro das deliberações políticas.

Deste modo, injustiças são cometidas. Para ele, o critério da maioria, base da democracia, não possui qualquer tipo de validade já que, em muitos casos, como o de Sócrates, a maioria pode estar errada e ser democraticamente injusta.

Para Platão propõe uma sociedade utópica, governada por filósofos-reis, onde a sociedade é dividida em três classes:

Governantes (filósofos-reis) : responsáveis por tomar decisões e governar com sabedoria.

Guardas (soldados) : encarregados da proteção e segurança da cidade.

Produtores (trabalhadores, artesãos e comerciantes) : que sustentam a sociedade economicamente.

Como vemos; Platão com toda sua sapiência ainda estratificava a sociedade entre os poderosos e os vassalos.

Alguns trabalhavam para sustentar outros (poucos) que comandavam de acordo com aquilo que achavam que era o correto.






A justiça é o principal conceito desenvolvido em A República. Todo o texto se desenvolve ao redor da tentativa de definição desse conceito por Sócrates e seus interlocutores.

Platão acredita que a justiça é a maior de todas as virtudes e compreende que, para que se possa praticá-la, é necessário defini-la. Os dois primeiros livros são dedicados ao tema e mostram a dificuldade de se definir um conceito tão importante e complexo como a justiça.

O primeiro dos dez livros da obra A República, que consiste em um diálogo socrático criado por Platão, tem início com a ida de Sócrates à casa de Céfalo.



Lá, Sócrates, inspirado pelos jogos olímpicos que estavam acontecendo, busca definir o que é a justiça. Sem sucesso, seus interlocutores tentam encontrar a melhor definição que dê conta do conceito.




Céfalo, um velho comerciante "no limiar da velhice", que vivia comodamente em Atenas, é o anfitrião do encontro. Ao ser questionado, afirma que a justiça é dizer a verdade e restituir o que é do outro.


Procris e Céfalo



Sócrates refuta essa definição. Céfalo se retira e deixa o debate com seu filho, Polemarco. Este, depois de algum debate, define a justiça como o ato de dar benefícios aos amigos e prejuízos aos inimigos.




Novamente, a definição é refutada por Sócrates, que afirma que o mal nunca será um ato de justiça. Portanto, o prejuízo não é um ato positivo como exige a justiça.


Após esse debate, Trasímaco, um dos sofistas, acusa Sócrates de não querer encontrar definição nenhuma e apenas jogar com as palavras e discordar sem apresentar soluções.


Trasímaco diz ter uma boa resposta e afirma que a justiça é o que é vantajoso para o mais forte. No caso, o governo.


Sócrates, novamente, discorda e mostra que todo o debate foi desvirtuado do caminho sobre a natureza da justiça. Ele diz que as discussões foram acerca do que é vantajoso: a justiça ou a injustiça e que permanece sem nada saber sobre o tema.


O Livro I de A República se encerra com essa afirmação.

Livro II


O segundo livro de A República tem início com a mesma tentativa de estabelecer a natureza da justiça. Um dos interlocutores, Glauco, faz uma apologia à injustiça, citando o Mito do Anel de Giges.


Com ele, Glauco mostra que as pessoas sofrem pelas injustiças praticadas contra elas, mas se beneficiam pela prática da injustiça e pela corrupção. Desse modo, todas as pessoas que têm oportunidade se corrompem e praticam injustiças em benefício próprio.


No Mito do Anel de Giges, um pastor de ovelhas em meio à tempestade encontra um cadáver que usa um anel. Ele toma para si esse anel e ao regressar à cidade, percebe que esse anel lhe dá o dom da invisibilidade.

O Mito do anel de Giges



Giges, o pastor, entra no palácio, seduz a rainha e conspira com ela a morte do rei. Após o assassinato do rei, ele assume seu lugar e governa tiranicamente.

O mito do Anel de Giges, de Platão, inspirou o autor J.R.R. Tolkien a criar o Um Anel, de O Senhor dos Anéis.


A partir do mito narrado, Glauco espera ter convencido Sócrates de que a justiça não é em si uma virtude, mas sim o parecer ser justo, já que todos são corruptíveis.

Entretanto, a refutação a esse argumento, desta vez, não parte de Sócrates, mas do irmão de Glauco, Adimanto. Ele afirma que se pode pensar de forma diferente da que pensa o irmão, que a justiça é uma virtude (não em si mesma, mas nos efeitos que ela gera), e que, por fim, os justos são recompensados, seja pelos deuses ou pelo reconhecimento dos que ficam após sua morte.

Sócrates tece elogios aos jovens, mas não acredita que haja resolução para o problema da justiça enquanto não abandonarem o pensamento sobre questões pontuais e pensarem de forma mais ampla, dando conta do todo da justiça para compreender o que ela é na alma.

Ambos concordam que a justiça é preferível às injustiças e, sendo assim, precisam de criar uma ordenação para que a justiça seja possível. O filósofo encaminha a conversa para a idealização de uma cidade perfeita.

Somente no Livro IV, Sócrates parece chegar a uma definição de justiça como sendo o equilíbrio e a harmonia entre as partes da cidade.


A Cidade Ideal de Platão

Nos próximos livros de A República, orientados pela ideia de justiça, os três (Sócrates, Glauco e Adimanto) buscam definir a cidade ideal.

Para isso, definem que a cidade deveria ser dividida em três partes, e que a perfeição estaria na integração harmônica entre elas.

A primeira classe de cidadãos, mais simples, seria dedicada às ações mais triviais relativas ao sustento da cidade, como o cultivo da terra, o artesanato e o comércio. Os responsáveis por essas atividades seriam aqueles que possuíssem na constituição de sua alma, o feno, o ferro e o bronze.

Os cidadãos de uma segunda classe, de acordo com Platão, seriam um pouco mais hábeis por possuírem prata na mistura de suas almas. Estes, chamados de guerreiros, protegeriam a cidade e constituiriam o exército e seus auxiliares na administração pública.

A terceira classe de cidadãos, mais nobres, estudaria por cinquenta anos, se dedicaria à razão e ao conhecimento, e constituiria a classe dos magistrados. A estes caberia a responsabilidade de governar a cidade, pois só eles teriam toda a sabedoria que a arte da política exige.

A justiça entendida como uma virtude só poderia ser praticada pelo detentor do conhecimento dedicado à razão. Este poderia controlar suas emoções e seus impulsos e governar a cidade de forma sempre justa.

Os cidadãos são divididos em grupos de acordo com sua atuação e o nível de conhecimento necessário para o desempenho de suas atividades. Somente a atuação em conformidade com a determinação natural da alma pode trazer o equilíbrio e a harmonia entre as partes.

A Atlântida é uma civilização fictícia descrita por Platão nos diálogos Timaeus e Crítias, do século IV a.C. A história de Atlântida está relacionada com a ideia de que a vida em um estado pode deteriorar-se, conforme examinado por Platão em A República.


Relação entre Atlântida e A República

A República é uma obra de Platão que examina o ciclo de deterioração da vida em um estado. A história de Atlântida é uma parábola que mostra como uma cidade pequena e justa vence uma cidade poderosa e agressiva.


Descrição de Atlântida

Platão descreve Atlântida como uma ilha rica e sofisticada que foi destruída por desastres naturais. A ilha teria sido localizada próximo do Estreito de Gibraltar e teria sido engolida pelo mar.


Para Platão, a parte racional da alma é a parte mais desenvolvida pelos filósofos, que a partir dela, controlam as demais.

Em outro texto, Platão faz uma alusão que afirma que a razão é como as rédeas responsáveis pelo controle de dois cavalos numa carruagem.

Por esse motivo, os filósofos deveriam ser os responsáveis pelo governo da cidade, por não estarem suscetíveis às emoções e aos desejos.

Platão afirma que a alma, assim como a cidade, obtém sua plenitude através da relação harmônica entre as partes que integram o todo.

No livro, Platão desenvolve a ideia de imortalidade da alma e sua relação com o conhecimento, dando continuidade à teoria da reminiscência socrática.

O filósofo afirma que a alma, por ser imortal e eterna, pertence ao mundo das ideias e lá pode apreender todas as ideias existentes e assim possui todo o conhecimento possível.

No momento da união da alma com o corpo, a alma se esqueceria desse conhecimento. Somente através da busca pelo conhecimento é que a alma é capaz de relembrar aquilo que já soube.

Deste modo, no Livro IV de A República, Platão busca conciliar as filosofias opostas de Heráclito (c.540-470 a.C.) e Parmênides (530-460 a.C).

Heráclito afirmou que o universo estava em um constante movimento de mudança (devir). Platão associa essa constante transformação ao mundo sensível, onde tudo sofre a ação do tempo e possui uma duração: nasce, cresce, morre e se renova.

De Parmênides, extraiu a ideia da permanência e associou-a ao seu mundo das ideias, onde tudo é eterno e imutável (permanente).

Essas são as bases do dualismo platônico e sua distinção entre o corpo (mundo sensível) e a alma (mundo das ideias).


A Educação na República

Na república, a educação ficaria ao encargo do Estado e as famílias não teriam participação sobre a criação. O Estado seria o responsável por educar os indivíduos e direcioná-los às atividades mais adequadas ao seu tipo de alma (bronze, prata ou ouro).

É nesse momento que Platão faz uma dura crítica à educação grega, sobretudo à poética. Para ele, a poesia desvirtuaria os indivíduos a partir da ideia de que os deuses seriam detentores de características humanas como: compaixão, predileção, inveja, rancor, etc.

Esses deuses, humanizados pela poética, serviriam de modelo de corrupção aos indivíduos. A humanização faria com que os deuses questionassem o seu papel dentro da sociedade e tivessem como objetivo uma transformação social.

Platão propõe que todos os indivíduos recebam uma educação geral baseada nos valores da cidade. Essa educação moldaria o caráter de cada um de seus alunos, conscientizando-os de seu papel dentro da sociedade.

Após um período de vinte anos, os primeiros indivíduos formados seriam aqueles que possuem feno, ferro e bronze na constituição de suas almas. Eles seriam os responsáveis pela fabricação de artefatos, a produção de alimentos e o comércio.

Os guerreiros receberiam mais dez anos de formação e após esse período, estariam aptos à defesa da cidade e a cargos auxiliares da administração pública. A prata misturada em suas almas determina sua aptidão para esse tipo de ação.

Com cinquenta anos de formação e diversas provas, os possuidores de almas com ouro, dedicados aos estudos e à razão, assumiriam os cargos de magistrados e seriam responsáveis pelo governo da cidade.

Platão mostra que somente os mais esclarecidos podem governar de maneira justa, baseados na razão.

No livro sete, encontramos o Mito da Caverna. Representa o mundo sensível, onde os indivíduos estão acorrentados e vêm a realidade somente através das sombras, ou seja a realidade que lhes é apresentada é aquela que lhes é permitida ver.

Como vemos Platão achava que o modelo ideal de governo era a aristocracia, ou um governo liderado por alguém que tivesse capacidade de governar com sabedoria e abnegação, conduzindo o governo para benefício de toda sociedade.

Essa forma um tanta ingênua e utópica, certamente não daria certo. Ele questionava a democracia, dizendo que  um processo para decidir o que fazer, não era muito positiva.


Até votar em um líder parecia arriscado para ele, pois os eleitores eram facilmente influenciados por características irrelevantes, como a aparência dos candidatos. Para ele, o povo não percebia que as qualificações são necessárias tanto para governar quanto para navegar.




Para nós, que estamos acostumados a ouvir elogios à democracia e a defendê-la, soa estranha a ideia da contagem de governos que, passando das formas superiores às inferiores, ela ocupa o terceiro lugar, depois da aristocracia e da oligarquia.


Não só isso: na República de Platão, Sócrates aponta que essa democracia, uma "forma agradável de anarquia", por sua vez, como qualquer outro regime, entraria em colapso devido às suas próprias contradições.


A partir da aristocracia nasceria a oligarquia e desta, a democracia — e esse "governo do povo" daria lugar a uma tirania.

Platão



Isso porque, assim como a busca cega por riqueza causa uma sede de igualdade, "o desejo insaciável de liberdade causa uma demanda por tirania".

Mesmo assim, com todas os seus defeitos a democracia supera quaisquer outros regimes de governo por uma razão: Sempre existe a chance de trocar um mau governante através das eleições livres e democráticas.


Fontes:

todamateria.com.br
baixelivros.com.br
bbc.com
wikipedia.org
google.com
suapesquisa.com

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