Vamos falar da obra do escritor Jerome David Salinger, mais conhecido como J.D. Salinger, foi um escritor norte-americano tido como um dos mais influentes do período pós-guerra. Ficou conhecido em 1948 por conta de suas novelas, publicadas na revista The New Yorker, sobretudo pelo aclamado conto A Perfect Day for Bananafish, Mas foi com o romance The Cather in the Rye (Br: O Apanhador no Campo de Centeio) que se tornou conhecido mundialmente.
J.D.Salinger
“O Apanhador” narra um fim-de-semana na vida de Holden Caulfield, jovem de 17 anos vindo de uma família abastada de Nova York. Holden, estudante de um pomposo internato para rapazes, volta para casa mais cedo no inverno depois de ter levado bomba coletiva em quase todas as matérias. Na volta para casa, ao se preparar para enfrentar o inevitável esporro da família, Holden vai refletindo sobre tudo o que (pouco) viveu, repassa sua peculiar visão de mundo e tenta enxergar alguma diretriz para seu futuro. Antes de se defrontar com os pais, procura algumas pessoas importantes para si (um professor, uma antiga namorada, sua irmãzinha) e tenta lhes explicar a confusão que passa por sua cabeça.
"...Esqueci de falar sobre isso - eu tinha sido chutado do colégio. Não ia mesmo voltar depois das férias de
Natal porque tinha sido reprovado em quatro matérias e não estava estudando nada. Eles tinham me avisado
mais de uma vez que eu devia me dedicar aos estudos - principalmente na época das parciais, quando meus
pais foram chamados para uma conversa com o velho Thurmer - mas nem liguei. E aí fui reprovado. Eles
reprovam um bocado de gente no Pencey, porque o colégio tem um alto nível de ensino. Tem mesmo, no
duro.
Enfim era dezembro, estava fazendo um frio de rachar, principalmente no alto daquele morro idiota. Eu
estava só com um paletó, sem luvas nem nada. Uma semana antes alguém tinha entrado no meu quarto e
roubado meu casaco de pelo de camelo, com as luvas forradas de pele no bolso e tudo. O Pencey estava cheio
de vigaristas. A maioria dos alunos vinha de famílias riquíssimas, mas assim mesmo o colégio estava cheio
de ladrões. Quanto mais caro um colégio, mais gente safada tem, no duro. De qualquer maneira, eu
continuava ao lado daquele canhão maluco, olhando o jogo lá embaixo, e gelado até o rabo. Só que não
estava prestando muita atenção à partida. Só estava zanzando por ali para ver se conseguia sentir uma espécie
qualquer de despedida, porque já deixei uma porção de colégios e lugares sem ao menos saber que estava indo
embora. Odeio isso. Não importa que seja uma despedida ruim ou triste, mas, quando saio de um lugar,
gosto de saber que estou dando o fora. Se a gente não sabe, se sente pior ainda." (p. 3)
O livro foi publicado em 1951, e a história se passa num único fim de semana agitado, no qual Holden acaba se colocando em algumas situações adversas e de excessos, além de reencontrar antigos conhecidos e também conhecer pessoas novas, enquanto adia seu constrangedor retorno para a casa dos pais.
Assim como Joyce no seu Odisseia fez do dia 16 de julho sua narrativa da vida de Leopold Bloom (Bloom day);
Caulfield é um jovem de 16 anos de idade que pode ser descrito como rebelde, inconformado, sarcástico e teimoso, sendo descrente com a vida e cético com as pessoas que o cercam. Por trás da personalidade indomável existe um adolescente fragilizado por uma série de traumas: a precoce morte de seu irmão mais novo, e o suicídio de um colega seu do internato, além de outras questões que o narrador só se permite revelar ao final da trama.
Composto por vinte e seis capítulos, o livro é narrado em primeira pessoa pelo protagonista, em linguagem bastante irreverente e informal. Os capítulos curtos somados ao linguajar despojado do protagonista tornam a leitura bastante fluida, mesmo que a trivialidade do enredo resulte num desenrolar arrastado e anticlimático. Atualmente o enredo pode não soar revolucionário, visto que obras com narrativas coming-of-age foram se tornando cada vez mais comuns nas últimas décadas, mas o Apanhador tem seu mérito em ter sido precursor desse estilo. Escrito num contexto de imediato pós Segunda Guerra e publicado no alvorecer da conservadora década de 1950, o livro foi extremamente inovador para a época com o seu ineditismo em colocar o jovem num papel de tanto protagonismo, e utilizando uma linguagem jovem direcionada para os próprios jovens. A postura questionadora do protagonista ao longo da trama representa uma crítica ao american way of life, em expansão neste período, e ele é muitas vezes tido como uma das mais emblemáticas encarnações dos anseios de várias gerações de adolescentes. Por estes motivos, o Apanhador é considerado um dos pilares da formação de uma cultura juvenil durante a segunda metade do século XX, sendo cultuado por uma legião cativa de leitores – e criticado por outra, além de ter sido objeto de controvérsias acerca de seu conteúdo – ao ter aberto as portas para mais obras de mesmo pano de fundo, sendo influência inconteste para produções subsequentes sobre os dramas da adolescência.
''- Você não sente nenhum remorso por deixar o Pencey?
- Ah, sinto sim, de verdade... Mas não muito. Pelo menos até agora não. Acho que a coisa ainda não me
tocou de fato. É preciso algum tempo para que um troço me atinja realmente. Só estou pensando agora em
voltar para casa quarta-feira. Sei que não tenho jeito mesmo.
- Você não se preocupa nem um pouco com o seu futuro, rapaz?
- Me preocupo, sim, evidentemente. Pensei um bocado no assunto. Mas não muito, eu acho. Não
muito.
- Pois você ainda vai se preocupar. Vai mesmo, rapaz. Você vai se preocupar quando já for tarde
demais.
Não gostei de ouvi-lo dizer isso. Era como se eu estivesse morto ou coisa que o valha. Deprimente pra
burro.
- É, acho que sim - respondi.
- Eu gostaria de pôr um pouco de juízo nesta sua cabeça, rapaz. Estou tentando ajudá-lo. Estou tentando
ajudá-lo, tanto quanto posso.
E estava mesmo, isso a gente podia ver. Mas o caso é que vivíamos em mundos diferentes.
- Sei que o senhor está tentando me ajudar, Professor. Muito obrigado. No duro, estou muito agradecido
ao senhor -. Aí tratei de me levantar da cama. Puxa, não aguentava ficar sentado ali mais dez minutos, nem
que fosse para salvar minha vida. - Acontece que eu preciso ir andando, agora. Tenho uma porção de troços
no ginásio e preciso apanhar tudo para levar pra casa.'' (p.7)
Apesar de ser uma história comum na vida de um adolescente, o livro foi um fenômeno de vendas, principalmente nos EUA.
Até então não havia sido escritos livros para esse público.
Histórias e lendas que menos tem a ver com literatura envolvem o romance. Numa delas diz que o assassino de John Lennon, Mark David Chapman, tinha um exemplar no bolso quando matou Lennon. O assassino da atriz Rebecca Shaeffer, Robert Bardor, também era um admirador do livro,
John Hinckley, Jr, que tentou matar o presidente Ronald Regan, também tinha um livro no quarto de seu hotel. Mas é claro, tudo isso não passa de curiosidades.
O fato é que o livro conta a história de um jovem de classe média alta, que procura sua identidade e um objetivo na vida; como tantos outros jovens de 17 anos.
Fontes:
revistabula.com
wikipedia.org
google.com
dopropriobolso.com.br
tribunapr.com.br
letras.biblioteca.ufrj.com.br
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