Hoje vamos falar do jornalista e humorista Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, mais conhecido como o barão de Itararé, o que foi sem nunca ter sido.
Nasceu no dia 29 de janeiro de 1895 em trânsito. A família vinha da fazenda do seu avô, no Uruguai, com destino ao Rio Grande do Sul. A mãe, Maria Amélia, filha de um estadunidense descendente de russos. O pai, João Aparício Torelly, filho de um italiano com uma gaúcha. “Uma verdadeira Liga das Nações”, dizia Torelly.
Oficialmente nasceu na cidade de Rio Grande, no litoral sul do Rio Grande do Sul.
Nunca foi barão, é claro! Ele mesmo atribui o título honorífico a si mesmo, e arrematava - "O que foi sem nunca ter sido", baseado na história da chamada maior batalha da Revolução de 30, onde tropas leais ao presidente deposto Washington Luís iriam se encontrar com as tropas leais a Getúlio Vargas, na fronteira entre São Paulo e Paraná, exatamente na cidade Itararé. Seria a maior e mais sangrenta batalha da Revolução, porém nunca aconteceu. Assim a batalha de Itararé só ficou no nome e Aparício num de seus chistes deu a si mesmo o título de Barão de Itararé.
Em 1925 entra para o Jornal "O Globo", de Irineu Marinho, com a morte desse é convidado Mário Rodrigues, pai do dramaturgo Nelson Rodrigues para trabalhar no jornal "A Manhã". Suas criticas bem humoradas começaram aí. Em 1926 cria o jornal "A Manha" sem o til, em referência ao jornal que trabalhava na época.
Dizia ele :
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Mas como ele próprio anunciara semanas depois, "como prova de modéstia, passei a Barão."
Certa vez escreveu em seu jornal sobre a Revolta da Chibata o que desagradou a Marinha.
Na manhã de 19 de outubro de 1934, o jornalista saía de casa em Copacabana, no número 188 da rua Saint-Romain, rumo ao Centro, onde trabalhava, quando seu carro, um Chrysler, foi interceptado por dois veículos. Cinco homens, alguns deles armados, sequestraram o editor do Jornal do Povo.
"Tem família?", perguntou um dos sequestradores, já com os carros batendo em retirada. "Isso não vem ao caso", respondeu o sequestrado. "Nem é da conta dos senhores". "Escreva despedindo-se", continuou o sujeito. "É um favor que lhe prestamos". "Dispenso-o", retrucou a vítima.
Logo, Torelly descobriu que os homens que se diziam policiais eram, na verdade, oficiais da Marinha. Estavam indignados com a publicação de um folhetim sobre a Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Cândido (1880-1969), o Almirante Negro. Como Torelly se recusou a suspender a publicação, que denunciava os maus-tratos na Marinha, foi espancado.
Os sequestradores cortaram seus cabelos, furaram os pneus de seu carro, deram uma surra nele e o abandonaram, quase nu, num local deserto. Na tarde daquele mesmo dia, uma sexta-feira, depois de voltar para a redação, Torelly pendurou, na porta de sua sala, uma placa com os dizeres: "Entre sem bater."
Alguma das famosas frases do Barão:
De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
O fígado faz muito mal à bebida.
Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…
Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.
Certa vez, o professor de português pediu a Apparício que conjugasse um verbo qualquer no tempo mais que perfeito. "O burro vergara ao peso da carga", respondeu o jovem. Nada demais, não fosse Oswaldo Vergara o nome do tal professor.
Em outra ocasião, durante uma prova oral, o professor, vendo que Apparício não sabia as respostas, pediu, irônico, a um funcionário da faculdade: "Me traga um pouco de alfafa, por favor". "E, para mim, um cafezinho", completou o aluno que, no entanto, não chegou a concluir o curso e largou a faculdade em 1919.
No dia 9 de dezembro de 1935, Apparício Torelly sofreu a primeira de suas muitas prisões. O motivo da detenção nunca foi totalmente esclarecido. Uma das hipóteses é pelo fato de ele ter sido um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora (ANL), no Rio de Janeiro. Na manhã seguinte, Torelly foi levado para um navio-presídio ancorado na Baía de Guanabara. Nem mesmo preso perdeu sua verve cômica. A certa altura, o comandante afirmou: "O senhor está convidado a depor". Nisso, o Barão respondeu, cínico como sempre: "Depor o governo? Me admira muito que o senhor tenha a coragem de fazer um convite desses".
Noutra ocasião, durante um interrogatório, ouviu do juiz Castro Nunes: "A que o senhor atribui sua prisão?". "Só posso atribuir ao fato de estar tomando um cafezinho", respondeu. "Na minha família, sempre disseram que café faz mal". No exato momento da prisão, Torelly estava em uma padaria, na avenida Rio Branco, tomando cafezinho.
No dia 21 de março de 1936, Apparício Torelly foi transferido para a Casa de Detenção, na rua Frei Caneca. Lá, dividiu cela, entre outros, com o jornalista e escritor Graciliano Ramos (1892-1953). "Aporelly contava piadas satirizando a situação política do país", conta o escritor e biógrafo Dênis de Moraes em O Velho Graça - Uma Biografia de Graciliano Ramos (2012). "Só se referia, por exemplo, ao carrancudo general Góis Monteiro como 'Gás Morteiro' e adorava compor paródias para músicas famosas como Cidade Maravilhosa".
Morreu em seu apartamento no Rio de Janeiro em 27 de novembro de 1971.
Fontes:
wikipedia.org
google.com
bbc.com/portuguese
revistabula.com
averdade.org.br
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