Como as democracias morrem, livro publicado em 2018 de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, ambos professores da conceituada Universidade de Havard.
O livro traça um paralelo entre diversos casos de declínio democrático, identificando semelhanças, como um cenário economicamente ou politicamente em crise e a cegueira da comunidade nacional – que só é capaz de perceber que algo está errado quando já não se pode mais voltar atrás. Talvez a face mais interessante da ascensão de um outsider para uma posição de liderança política seja o apoio dos governantes mais experientes. É natural que, em um país em crise, o surgimento de uma figura carismática, que desafia a velha ordem, pareça uma oportunidade de formar alianças para recuperar a confiança popular. E é nesse ponto que o (candidato a) tirano se apoia, levando o insider político a pensar que será capaz de recuperar o poder através da dominação do demagogo – como na fábula “O javali, o cavalo e o caçador” – mas as coisas nem sempre acontecem dessa forma e assim, em vez de assegurar que as grades de proteção da democracia se mantenham de pé, os políticos da velha ordem acabam contribuindo para a legitimação de um potencial ditador.
“O javali, o cavalo e o caçador” Fábulas de Esopo
“Surgira uma séria disputa entre o cavalo e o javali; então, o cavalo foi a um caçador e pediu ajuda para se vingar. O caçador concordou, mas disse: ‘Se deseja derrotar o javali, você deve permitir que eu ponha esta peça de ferro entre as suas mandíbulas, para que possa guiá-lo com estas rédeas, e que coloque esta sela nas suas costas, para que possa me manter firme enquanto seguimos o inimigo’. O cavalo aceitou as condições e o caçador logo o selou e bridou. Assim, com a ajuda do caçador, o cavalo logo venceu o javali, e então disse: ‘Agora, desça e retire essas coisas da minha boca e das minhas costas’. ‘Não tão rápido, amigo’, disse o caçador. ‘Eu o tenho sob minhas rédeas e esporas, e por enquanto prefiro mantê-lo assim.’
Levitsky e Ziblatt caracterizam ainda os autocratas em potencial e suas estratégias para centralizar o poder, salientando que nem todos começam como autoritários, podendo iniciar sua carreira democraticamente [leia neste dossiê artigo de Douglas Donin sobre a trajetória de Viktor Orbán]. No entanto, ao longo de sua trajetória, passam a usar artifícios para acumular mais poder, muitas vezes beirando a ilegalidade. Em seus discursos antissistema, prometem acabar com a corrupção ou mesmo aperfeiçoar a democracia; assim, sem alardes, transformam, aos poucos, estados democráticos em formas autoritárias de governo. Os sinais emitidos, sumarizados em uma tabela desenvolvida pelos autores, incluem a rejeição das regras democráticas, negação da legitimidade de seus oponentes, tolerância à violência e propensão a restringir liberdades civis, inclusive a mídia. Assim, candidatos que se encaixam em um ou mais desses critérios devem ser motivo de alerta.
Dizer simplesmente que não gosta de politica é uma forma de se abster de opinar ou de pensar em temas mais complexos. esquecem que política está em todos os atos dos seres humanos. Uma criança que faz birra e chora num shopping porque quer um brinquedo, está fazendo política, num namoro, no emprego quando se pede um aumento de salário, quando um adolescente pede a chave do carro para o pai, e assim por diante.
O que os politicos querem é que você pense que política não é important e que não adianta opinar ou eleger alguém já que todos são corruptos e desonestos. O ato de votar requer informação, conhecimento, maturidade e bom senso.
Se você pertence a uma classe mais humilde não adianta votar num empresário ou banqueiro e esperar que esse vá lutar por seus direitos. Se hoje o trabalhador tem alguns benefícios eles certamente não foram dados pela elite dominante. Foram fruto de muita luta e reinvindicações.
Não são raros os exemplos de políticos que satisfazem tais condições. Levitsky e Ziblatt mencionam que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, preenche os quatro critérios estabelecidos. Mas Trump não é o único. A análise de declarações do presidente Jair Bolsonaro também indica que o ex - capitão do exército marca positivo para todos os quatro apontamentos:
1 -Atacar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, as quais sempre serviram para suas eleições e de seus filhos.
2 - Atacar órgãos de imprensa e tentar calar a mídia.
3 - Exaltar mortes de considerados "marginais" e dar aos polícias incentivo a agirem de forma arbitrária e violenta, defendo a "exclusão de ilicitudes"
4 - Destruição da Cultura e da Educação, tentando impor uma forma desfigurada de pensamento retrógrado e conservador.
Alertam ainda que : a democracia atualmente não termina com uma ruptura violenta nos moldes de uma revolução ou de um golpe militar; agora, a escalada do autoritarismo se dá com o enfraquecimento lento e constante de instituições críticas – como o judiciário e a imprensa – e a erosão gradual de normas políticas de longa data.
Sucesso de público e de crítica nos Estados Unidos e na Europa, esta é uma obra fundamental para o momento conturbado que vivemos no Brasil e em boa parte do mundo e um guia indispensável para manter e recuperar democracias ameaçadas.
Numa entrevista ao jornalista Jamil Chade do site Uol, ao ser perguntado se a democracia brasileira está em risco ele responde:
Sim, acho que sim. Sempre que uma democracia presidencial, como a do Brasil ou dos EUA, elege para a presidência alguém que não tem compromisso com as regras democráticas do jogo, você está colocando a democracia em risco. Nós vimos isso nos EUA, que têm instituições democráticas muito fortes. É uma república constitucional já há dois séculos. Apesar disso, apesar da força das instituições democráticas dos EUA, Donald Trump quase realizou um autogolpe presidencial em 2020 e no começo de 2021.
Afirma ainda que o Brasil tem um sistema eleitoral muito bom. Muito melhor do que temos nos EUA. O sistema americano é muito mais vulnerável à fraude e à manipulação do que o brasileiro. Então, o fato de o Congresso brasileiro ter bloqueado as mudanças no sistema eleitoral, o retorno à cédula como Bolsonaro propôs, acho que foi um movimento muito positivo.
Fontes:
comciencia.br
amazoin.com.br
google.com
noticias.uol.com.br/jamilchade
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