quarta-feira, 8 de outubro de 2025

A insustentável leveza do ser ( Nesnesitelná lehkost bytí ) do tcheco, Milan Kundera, publicado em 1984.



Perguntas sem resposta sobre A Insustentável Leveza do Ser:

¨Uma pergunta para a qual não há resposta é uma cancela além da qual não há mais caminhos. Noutras palavras: são precisamente as perguntas para as quais não há respostas que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras da nossa existência”, Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser.¨


Primeira Parte


O PESO E A LEVEZA


O eterno retorno é uma ideia misteriosa de Nietzsche que, com ela, conseguiu dificultar a vida a não poucos filósofos: pensar que, um dia, tudo o que se viveu se há de repetir outra vez e que essa repetição se há de repetir ainda uma e outra vez, até ao infinito! Que significado terá este mito insensato? O mito do eterno retorno diz-nos, pela negativa, que esta vida, que há de desaparecer de uma vez por todas para nunca mais voltar, é semelhante a uma sombra, é desprovida de peso, que, de hoje em diante e para todo o sempre, se encontra morta e que, por muito atroz, por muito bela, por muito esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor não têm qualquer sentido. Não vale mais do que uma guerra qualquer do século XIV entre dois reinos africanos, embora nela tenham perecido trezentos mil negros entre suplícios indescritíveis. Mas algo se alterará nessa guerra do século XIV entre dois reinos africanos se, no eterno retorno, se vier a repetir um número incalculável de vezes? Sem dúvida que sim: passará a erguer-se como um bloco perdurável cuja estupidez não terá remissão. Se a Revolução Francesa se repetisse eternamente, a historiografia francesa orgulhar-se-ia com certeza menos do seu Robespierre. Mas, como se refere a algo que nunca mais voltará, esses anos sangrentos reduzem-se hoje apenas a palavras, teorias, discussões, mais leves do que penas, algo que já não aterroriza ninguém. Há uma enorme diferença entre um Robespierre que apareceu uma única vez na história e um Robespierre que eternamente voltasse para cortar a cabeça aos franceses. Digamos, portanto, que a ideia do eterno retorno designa uma perspectiva em que as coisas não nos aparecem como é costume, porque nos aparecem sem a circunstância atenuante da sua fugacidade. Essa circunstância atenuante impede-nos, com efeito, de pronunciar um veredicto. Poderá condenar-se o que é efémero? As nuvens alaranjadas do poente iluminam tudo com o encanto da nostalgia; mesmo a guilhotina. Não há muito, eu próprio me defrontei com o fato: parece incrível mas, ao folhear um livro sobre Hitler, comovi-me com algumas das suas fotografias; faziam-me lembrar a minha infância passada durante a guerra; diversas pessoas da minha família morreram nos campos de concentração dos nazistas, mas o que eram essas mortes comparadas com uma fotografia de Hitler que me fazia lembrar um tempo perdido da minha vida, um tempo que nunca mais há de voltar? Esta minha reconciliação com Hitler deixa entrever a profunda perversão inerente ao mundo fundado essencialmente sobre a inexistência de retorno, porque nesse mundo tudo se encontra previamente perdoado e tudo é, portanto, cinicamente permitido. (p.5)





O eterno retorno afirma que o tempo se move em um ciclo em vez de em uma linha reta linear. Nessa ideia, todos os eventos ao longo da existência aconteceram antes e acontecerão novamente em um loop infinito.


Esse peso para criar significados é uma das principais lutas que os personagens de “A Insustentável Leveza do Ser” enfrentam. Kundera contrasta a ideia de peso de Nietzsche com a ideia de leveza do antigo filósofo grego Parmênides. No século V a.c., Parmênides argumentou que o mundo poderia ser dividido em opostos: escuro/claro, grosso/fino, pesado/leve, quente/frio, o ser/o não-ser.


Com o eterno retorno, cada erro ou sucesso na vida de uma pessoa é repetido inúmeras vezes, dando até mesmo aos menores elementos da vida uma enorme importância. Nietzsche considerava esse peso o “mais pesado dos fardos”. A obra explora o ambiente artístico e intelectual da sociedade tcheca, desde a Primavera de Praga ¹, em 1968, até a invasão da Tchecoslováquia pela União Soviética e por outras três nações integrantes do Pacto de Varsóvia, bem como as sequelas desse evento nas vidas de dois casais distintos e de seus respectivos círculos sociais.


Praga





O protagonista do romance é um neurocirurgião de sucesso chamado Tomás. Ele vive uma vida tranquila e despreocupada em Praga dos anos 1960. Amante de Sabina e pai de Simon. Tomas tem um compromisso inadiável com as mulheres que conhece. Ele tem um caso com Sabina por um longo período. Certa vez, numa pequena cidade tcheca, quando foi realizar uma cirurgia, ele conhece Tereza. Ela se encanta por ele e decide visitá-lo em Praga. Depois de ficar gripada, Tereza ficou uma semana inteira no apartamento de Tomas. Ele a vê como uma criancinha deixada no seu apartamento em uma cesta. Tomas não sabe o que fazer com os seus sentimentos em relação a Tereza.

Convidar Tereza para ficar morando com ele viola o modo de vida de Tomas. Ele, que há muito se divorciou da esposa e abandonou o filho Simon, é solteiro e não consegue dormir ao lado de uma mulher. Ele tem muitas amantes, mas sempre pedem que elas saiam à meia-noite. Quando Tereza dorme em seu apartamento, ele acorda com Tereza segurando nas mãos dele e olha para a mala enorme ao lado da cama.



Nos braços de Tomás, Tereza dorme como um bebê. Ele sussurra em seu ouvido e a embala para dormir com palavras sem sentido. Ele tem o controle total sobre o sono dela, e todas as manhãs quando acorda, Tereza abraça com força. Tomás chega à conclusão de que dormir ao lado de uma mulher e fazer sexo com uma mulher são coisas diferentes. O amor não é o desejo de sexo, mas o desejo de dormir ao lado de alguém.

Tereza está ciente das amantes de Tomas, mesmo que ele não tenha falado sobre elas. Ela vasculha as gavetas da escrivaninha de Tomas porque suspeita de alguma mulher. E o comportamento dele é uma tortura para ela. Até que uma noite, Tereza acorda de um pesadelo. Ela diz que, no sonho, ela foi forçada a vê-lo fazendo sexo com Sabina em um palco. Tomas desconfia que Tereza está lendo suas cartas pessoais.

Para comprovar o seu amor por Tereza, Tomás se casa com ela e lhe dá um cachorrinho, e Tomás sugere que o filhote se chame de Karenin em homenagem ao romance de Leon Tolstoi. Foi nesse período que se deu a ocupação soviética na Tchecoslováquia. Tereza percorre as ruas de Praga tirando fotos. Tereza, que se torna fotógrafa graças à Sabina (amante de Tomas), entrega a maioria de seus filmes não revelados sobre a ocupação soviética em Praga à imprensa estrangeira e, em seguida, é presa pelos militares russos, mas é libertada no dia seguinte. A maioria dos tchecos encontra-se desesperada por causa de deportação para a Sibéria, execuções em massa, e fica claro que todos irão se curvar ao conquistador., ou seja, aos russos. 


Quando explode a invasão russa à Tchecoslováquia, em 1968, vão todos para a Suíça; o caminho de Sabina se bifurca e ela acaba se envolvendo com outro homem, um acadêmico chamado Franz. O que os une e o que os separa? Não há fórmula mágica, tampouco uma resposta única. Uma das coisas interessantes do livro é justamente isso: não há predestinação, não há amor eterno, nem uma receita para relacionamentos duradouros. No fundo, o amor e sua permanência acabam sendo, pura e simplesmente, obra do acaso e decisões conjeturais. Nesse sentido, Kundera parece dizer que chamamos de “destino” apenas aquilo que já foi consumado, numa espécie de auto justificação para as ações passadas.

O peso são as ações que tomamos no dia a dia, ações que tomamos pela primeira vez, a leveza, para contrastar com esse peso existe a leveza, que é nossa liberdade  de tomar decisões. O peso é o fardo que carregamos no decorrer de nossa vida, e a leveza leva o homem a voar, ser livre. Mas a pergunta é: podemos viver com um sem o outro ? Ou ambos são parte de nossa existência ?




Fontes:

wikipedia.org
google.com
kbook.com.br
publico.pt
apamagis.org.br
lomadaquadrada.com
bonslivrosparaler.com.br
tradutoraespanhol.com.br




¹ Primavera de praga um movimento político ocorrido em 1968 na Tchecoslováquia, que visava dar uma cara mais humanista ao socialismo.

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