terça-feira, 2 de abril de 2024

Vamos falar hoje da poetisa portuguesa , Florbela Espanca.




Florbela d’Alma da Conceição Espanca (1894-1930), nome adotado por Flor Bela Lobo, foi uma poeta/poetisa e um dos mais importantes nomes da Literatura Portuguesa. Florbela abordou temas como amor, erotização, angústia e sofrimento, trazendo a figura feminina para suas obras.


A poeta portuguesa teve duas antologias publicadas em vida: Livro de mágoas (1919) e Livro de sóror saudade (1923). Outras três foram lançadas postumamente: Charneca em flor (1931), Juvenília (1931) e Reliquiae (1934). Além da poesia, a autora portuguesa escreveu para jornais e traduziu obras literárias.




Filha de Antónia da Conceição Lobo e do republicano João Maria Espanca (1866–1954), nasceu no dia 8 de dezembro de 1894 em Vila Viçosa, no Alentejo. O seu pai foi sobretudo um antiquário e um fotógrafo, tendo também ganho a vida com outras atividades, como a de projeção de filmes. De fato, foi um dos introdutores do "Vitascópio de Edison¹" em Portugal.

                                        ¹ - Espécie de projetor

O seu pai era casado com Mariana do Carmo Inglesa Toscano, que era estéril, sendo filho de José Maria Espanca (1830-1883) e Joana Fortunata Pires Espanca (1830-1917). Com a autorização da mulher, João Maria relacionou-se com a camponesa Antónia da Conceição Lobo, filha de pais incógnitos, criada de servir, mulher bela e vistosa. Assim nasceram Florbela, batizada na freguesia de Conceição (Vila Viçosa) a 20 de junho de 1895, e, três anos depois, Apeles, em 10 de março de 1897, ambos registados como filhos de Antónia e pai incógnito. João Maria Espanca criou-os na sua casa. Apesar de Mariana ter passado a ser madrinha de batismo dos dois, João Maria só reconheceu Florbela como a sua filha em cartório 18 anos após a morte desta.

Entre 1899 e 1908, Florbela Espanca frequentou a escola primária em Vila Viçosa.  Foi naquele tempo que passou a assinar os seus textos Flor d’Alma da Conceição. As suas primeiras composições poéticas datam dos anos 1903-1904:  o poema "A Vida e a Morte", o soneto em redondilha maior em homenagem ao irmão Apeles e um poema escrito por ocasião do aniversário do pai "No dia d'anos", com a seguinte dedicatória: «Ofereço estes versos ao meu querido papá da minha alma». Em 1907, Espanca escreveu o seu primeiro conto: "Mamã!" No ano seguinte, faleceu a sua mãe, Antónia, com apenas 29 anos, vítima de nevrose.

A vida e morte

0 que é a vida e a morte
Aquela infernal inimiga
A vida é o sorriso
E a morte da vida a guarida

A morte tem os desgostos
A vida tem os felizes
A cova tem a tristeza
E a vida tem as raízes

A vida e a morte são
O sorriso lisonjeiro
E o amor tem o navio
E o navio o marinheiro

Autora Florbella Espanca
Em 11-11-903






Apesar de não levantar bandeiras sociais como o Feminismo, Florbela é considerada uma mulher à frente de seu tempo, vencendo barreiras da sociedade portuguesa da época. Foi uma das primeiras a frequentar o curso secundário Liceu Masculino André de Gouveia, em Évora.


Posteriormente, Florbela foi a primeira mulher a entrar no curso de Direito da Universidade de Lisboa. Formou-se também em Letras.


Em um meio dominado por homens, a poetisa foi colaboradora do jornal D. Nuno, de Vila Viçosa, dirigido por José Emídio Amaro, em 1927.


EU


 Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
 Sou a irmã do sonho, e desta sorte.
Sou a crucificada... a dolorida...

 Sombra de névoa ténue e esvaecida,
 E que o destino amargo, triste e forte, 
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ... 

 Sou aquela que passa a ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
 Sou a que chora sem saber porquê...

 Sou talvez a visão que Alguém sonhou, 
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou! 


O pioneirismo e a independência feminina de Florbela também estiveram presentes em sua vida pessoal. Ela foi casada três vezes, coisa incomum para as mulheres da época.

"Intensa, Florbela abordou o erotismo em parte de seus sonetos. A poeta mostrou que o tema poderia ser tratado por mulheres, o que era um tabu no início do século XX.

Suicídio

Em 1927, Florbela Espanca perdeu o irmão. Apeles morreu em um acidente de avião, o que marcou a vida da poetisa até o fim. Em sua homenagem, ela escreveu um conjunto de contos no livro As máscaras do destino, publicado somente em 1931, após a morte da portuguesa.

Cada vez mais debilitada pelo falecimento do irmão, Florbela tentou suicídio por três vezes, falhando nas duas primeiras e sendo a última fatal. Ela morreu no dia do seu aniversário de 36 anos, em 8 de dezembro de 1930, na cidade de Matosinhos, com superdose de barbitúricos.

Ficou conhecida no Brasil quando um de seus poemas foi musicado pelo cantor Fagner.



Fanatismo
Fagner em poema de Florbela Espanca
do disco "Traduzir-se"

Minh'alma de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
Posto que és já toda a minha vida

Não vejo nada assim, enlouquecida
Passo no mundo meu amor a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida

Tudo no mundo é frágil, tudo passa
Quando me dizem isto, toda a graça
De uma boca divina, cala em mim
E olhos postos em ti, digo de rastros

Podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como um Deus, principio e fim

Eu, já te falei de tudo
Mas tudo isto é pouco
Diante do que sinto ..


Fanatismo



Fontes:

wikipedia.org
google.com
brasilescola.uol.com.br
dominiopublico.gov.br
youtube.com
escritas.org/pt

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