segunda-feira, 27 de junho de 2022

Vamos falar hoje de Safo a poetisa da ilha de Lesbos. Safo em grego antigo: Σαπφώ, (transl. Safo) foi uma célebre poetisa grega da ilha de Lesbos, contemporânea de Pítaco e Alceus.  É conhecida por sua poesia .





Safo era exaltada por sua poesia e por sua independência, num tempo em que essas atividades eram reservadas somente para os homens.



Safo ensinava poesia, dança, arte e música para suas alunas. O termo lésbica tem origem na palavra Lesbos. Ou seja as meninas que habitavam junto com Safo a ilha de Lesbos, localizada a nordeste do mar Egeu.

Segundo a professora Margareth Reynolds, especialista na obra da poetisa, Safo é uma das poucas vozes femininas cujo trabalho sobreviveu desde a Antiguidade.






O primeiro beijo

Coloquei abaixo a almofada
No sofá que ela,
Relaxada e inerte, estava.
Poderia oferecer seus lábios a mim.

Como uma sacerdotisa apaixonada,
No santuário de Afrodite,
Fascinada eu me inclinei acima dela
Com o senso do Divino.

Ela tinha, por sua natureza núbil,
Em anos ainda uma criança,
Nenhuma sugestão
De qualquer conhecimento secreto,
De nenhum pensamento de paixão.

Sua boca para a imolação
Estava preparada, e minha é a arte.
E um longo beijo de paixão
Deflorou seu coração virgem.

Tradução nossa a partir da versão em inglês do Delphi Complete Works of Sappho



A reputação de Safo esteve, por muito tempo, envolta em mitos e lendas, frequentemente mudando para refletir as diferentes atitudes da sociedade ante o gênero e a sexualidade.


Segundo Reynolds, embora o trabalho da poetiza tenha se tornado sinônimo do desejo lésbico, na época em que Safo fez seus textos, 2.600 anos atrás, nada do que ela escreveu seria motivo de escândalo.


Ainda que na época fosse esperado que as mulheres se casassem com homens, os sentimentos e relações homossexuais eram vistos com naturalidade.







Safo é considerada um ícone do relacionamento homossexual feminino, mas a poeta escreveu tanto sobre seu desejo por mulheres quanto por homens, aponta Reynolds.


Parece-me ser igual aos deuses esse homem que, sentado na tua

frente, te ouve de perto falar docemente e rir de maneira encantadora,

o que me faz saltar o coração no peito. Pois, quando te olho por um

momento, já não sou capaz de dizer nada, a minha língua

silenciosamente gela e imediatamente um fogo subtil corre sob a

minha pele. Deixo, subitamente, de ver, os meus ouvidos zunem e um

suor frio cobre o meu corpo, dominado por intenso tremor. Fico então

mais verde do que a erva e pareço pouco distante de morrer.




Marc Gabriel Charles Gleyre, Le Coucher de Sappho
O pôr do sol de Safo




Foi considerada por Platão como a mais sábia e  musa grega. Seu nome e reputação deram origem aos termos safismo e lesbianismo. Na Grécia antiga, o termo lésbica se referia a ‘mulheres da ilha de Lesbos’ e o verbo no grego antigo lesbiar, significava ‘imitar as mulheres de Lesbos.'


Átis e Safo

"Quantos pensamentos inquietos me lembram A estéril Átis e eu desejo a esbelta Tristeza devora minha alma. De longe chega à nós O som do seu choro agudo, e não é Ignorado, pois a noite os que ouvem levam À nós pelos mares correntes” - Safo

As expressões do desejo homoerótico na Grécia Antiga não significavam que as pessoas eram identificadas com uma orientação sexual em particular, por isso é pouco provável que ela fosse chamada de homossexual.






Mesmo que Safo, sendo mulher, conseguiu se destacar entre os sábios da Grécia Antiga, a mesma era ainda uma sociedade machista e relativamente misoginia. As mulheres eram consideradas muitas vezes como uma maldição, um mal necessário. Obras como Teogonia, de Hesíodo, uma espécie de Genesis da Grécia Antiga, reconta a criação das mulheres com o mito de Pandora.



Pandora e sua caixa



(Pandora, a primeira mulher da humanidade, foi criada como um castigo para os homens que tentaram roubar a tocha de fogo de Zeus. Zeus então amaldiçoou os homens da forma mais perversa de todas: criando as mulheres.)


Fontes:

wikipedia.org
google.com
felipepimenta.com
bbc.com
aminoapps.com

domingo, 26 de junho de 2022

 Hoje o nosso novo imortal da Academia Brasileira de Letras, o baiano, Gilberto Gil faz 80 anos.




Autor de inúmeros sucessos como "Domingo no Parque" "Se eu quiser falar com Deus"; "Super-Homem" e centenas de outros sucessos, ex Ministro da Cultura do governo Lula, que tocou e cantou na Assembleia da ONU, acompanhado de Kofi Annan, então secretario geral da entidade.


Toda menina baiana

Gilberto Passos Gil Moreira, nasceu em Salvador - BA, em 26 de junho de 1942.

Seu pai era médico e sua mãe professora primária. Ainda criança seus pais se mudaram para o pequeno município baiano de Ituaçu, onde ele viveu até os dez anos.

Na década de 1960 participou dos festivais da Record, onde ficou famoso com a belíssima "Domingo no Parque " com o grupo novato chamado de "Os Mutantes".


Domingo no Parque

Fundou o "Movimento Tropicalista" ao lado do amigo Caetano Veloso e outros cantores baianos.

Foi preso e deportado para a Inglaterra ao lado do amigo Caetano, pela ditadura militar. Regressou em 1972 e lançou um de seus maiores sucessos "Aquele abraço".

Aquele abraço


O cantor é pai de oito filhos. Do casamento com Belina de Aguiar Gil Moreira teve: Nara de Aguiar Gil Moreira (1966) e Marília de Aguiar Gil Moreira (3 de fevereiro de 1967). Do casamento com Sandra Barreira Gadelha Gil Moreira, teve Pedro Gadelha Gil Moreira (17 de maio de 1970 - 25 de janeiro de 1990), Preta Maria Gadelha Gil Moreira (8 de agosto de 1974) e Maria Gadelha Gil Moreira (13 de janeiro de 1976). Com Flora Nair Giordano Gil Moreira, teve Bem Giordano Gil Moreira (13 de janeiro de 1985), Isabela Giordano Gil Moreira (3 de janeiro de 1988) e José Gil Giordano Gil Moreira (27 de agosto de 1991).


Se eu quiser falar com Deus




Em 24 de novembro de 2015 nasce Sol de Maria, filha de Francisco Gil e Laura Fernandez e neta de Preta Gil, sendo a primeira bisneta de Gilberto Gil. Em junho de 2016, ao completar sete meses de vida, Sol de Maria recebe uma canção do bisavô, que recentemente havia deixado o hospital onde estivera internado para tratamento de uma insuficiência renal.

Sol de Maria




Desde fevereiro de 2016, quando foi diagnosticado com um quadro de hipertensão arterial, Gil já estivera internado por várias vezes no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Posteriormente o artista foi diagnosticado com uma síndrome cardiorrenal - uma combinação de insuficiência renal com insuficiência cardíaca, sendo que o tratamento da doença requer internações mensais, até novembro de 2016.


Super-homem

 

Gilberto Gil torna-se imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) ocupou a cadeira 20     que tem como patrono Joaquim Manoel de Macedo e como fundador: Salvador de Mendonça.





Gilberto Gil é um dos ícones da música e da cultura brasileira.
Nessa dia, nós seus fãs, desejamos muita saúde, felicidade e um feliz aniversário.



Fontes:

wikipedia.org
google.com
gilbertogil.com.br
leiaja.com
agenciabrasil.ebc.com.br
youtube.com

sábado, 25 de junho de 2022

 Vamos falar do mito do Gigante Adamastor.




Segundo a lenda, Adamastor era um gigante filho da deusa Terra, (Gaia em grego) , que se revoltou, com outros gigantes, contra Zeus, o Deus supremo dos Gregos. Furioso, Zeus fulminou-os com um raio condenando-os a vaguear de costa em costa. Foi assim que Adamastor conheceu Thetis, uma ninfa dos oceanos, mãe de Aquiles, e por ela se apaixonou. Mas o Gigante sabia que era feio demais para conquistá-la e por isso decidiu resolver o assunto pela força. Apavorada, Dóris mãe de Thetis, tentou desesperadamente convencer a filha a aceitar o Adamastor como companheiro mas perante a recusa desta, teve de encontrar outra solução. Depois de muito pensar, mãe e filha decidem, então, com a ajuda de Zeus, montar uma armadilha ao Gigante, dizendo-lhe que Thétis ficaria com ele, se ambas fossem poupadas.






Cheio de esperanças, Adamastor põe fim à guerra e pede um encontro com Thétis. Ela aparece-lhe, mas quando este a abraça e beija, vê-se de repente agarrado ao cume de um monte acabando por se tornar numa parte desse monte: o Cabo das Tormentas. Esse mesmo. O cabo que tanto assombrou a imaginação dos marinheiros portugueses durante a época dos descobrimentos.

No famoso poema "Os Lusíadas", Camões fala do gigante em seu canto V:



37




Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca d'outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando ua noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Ua nuvem que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.



38

Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
- «Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?»



39

Não acabava, quando ua figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.



40

«Tão grande era de membros que bem posso
Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo.
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!



41

E disse: - «Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas
E navegar meus longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados d'estranho ou próprio lenho;


Adamastor revela a força da Natureza contra a audácia dos navegadores por mares nunca antes navegados, denominado por Bartolomeu Dias, que o dobrou em 1488,  como Cabo das Tormentas, hoje Cabo da Boa Esperança.

O poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage também se referiu ao gigante Adamastor num de seus poemas:


Adamastor cruel!... De teus furores
Quantas vezes me lembro horrorizado!
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente dos domadores!Parece-me que entregue a vis traidores
Estou vendo Sepúlveda afamado,
Com a esposa, e com os filhinhos abraçado
Qual Mavorte com Vênus e os Amores.
Parece-me que vejo o triste esposo,
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Às garras dos leões correr furioso.Bem te vingaste em nós do afouto Gama!
Pelos nossos desastres és famoso:
Maldito Adamastor! Maldita fama!






Fontes:
portuguesnalinha.blogs.sapo.pt
wikipedia.org
historiarn.blogs.sapo.pt/
oportugues.freehostia.com
infopedia,pt
google.com

sábado, 18 de junho de 2022

 Hoje completa 80 anos um dos maiores ídolos do rock de todos os tempos, James Paul McCartney.Ele nasceu em Liverpool, Inglaterra em 18 de junho de 1942.



Baixista canhoto, foi considerado pelo Guinness o compositor de maior sucesso de todos os tempos.

Pipes of peace - 1983

Em 1955 conheceu George Harrison, num ônibus à caminho da escola, Paul tinha onze anos nessa época, e George 10 anos.

Aos quinze anos conheceu John Lennon, que na época tinha 17 anos.

Formaram um dos grupos mais famosos de todos os tempos, Os Beatles, e a parceria de ambos produziu belíssimas canções tocadas até hoje.

Hey Jude



Capa do Abbey Road




Com o fim do grupo montou ao lado da mulher Linda McCartney a banda Wings.


My Love

Uncle Albert




Paul McCartney é uma lenda viva da música, e todos àqueles que como eu, tiveram o privilégio de acompanhar a carreira dele, desde os Beatles, nos sentimos muito agradecidos por pelo talento, carisma e determinação desse personagem.

Feliz aniversário, Paul.


Fontes:
wikipedia.org
google.com
youtube.com
uol.com.br/splash










quinta-feira, 16 de junho de 2022

Vamos falar de um dos episódios mais marcantes da Literatura Portuguesa, a Questão Coimbrã; especialmente da resposta do escritor da corrente realista Antero de Quental ao escritor conservador da corrente do Modernismo Antonio Feliciano de Castilho.




A Questão Coimbrã, também chamada de Questão do Bom Senso e Bom Gosto, foi uma discussão travada em 1865, pelo famoso escritor romântico português Antonio Feliciano de Castilho, cego aos seis anos, vitima de sarampo, foi um dos maiores escritores e intelectuais portugueses do século XIX, autor de "O presbítero da Montanha" 1844; "Os ciúmes do Bardo" - 1844; "A chave do enigma" - 1861,  e por outro lado por estudantes da famosa Universidade de Coimbra, principalmente por Antero de Quental, Teófilo Braga e Vieira de Castro, que deram início ao Realismo Português, que propunha romper com a estética literária do Romantismo, falando de forma mais crua e menos romântica da realidade portuguesa.





Famosa foi a carta de Antero de Quental para Castilho, intitulada "Bom senso e Bom Gosto",  rebatendo as críticas deste para os acadêmicos de Coimbra, de 2 de novembro de 1865.


Num dos trechos Antero diz:  


"Porque é uma acção deshonesta . O que se ataca na eschola de Coimbra (talvez mesmo v. ex.a o ignore, por que ha malevolos innocentes e inconscientes), o que se ata ca não é uma opinião litteraria menos provada, uma con cepção poetica mais atrevida, um estylo ou uma idea. Isso é o pretexto, apenas. Mas a guerra faz-se á independen cia irreverente de escriptores, que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem licença aos mestres, mas con sultando só o seu trabalho e a sua consciencia. A guerra faz -se ao escandalo inaudito d’uma litteratura desaforada, que cuidou poder correr mundo sem o sello e o visto da chancellaria dos grãos- mestres officiaes . A guerra faz- se á impiedade d'estes hereges das lettras , que se revoltam contra a auctoridade dos papas e pontifices, porque, ao que parece, ainda a luz de cima Thes não escreveu nas frontes o signal da infallibilidade. Faz -se contra quem en tende pensar por si e ser só responsavel por seus actos e palavras... Agora quem move estes ridiculos combates de phrases é a vaidade ferida dos mestres e dos pontifices ; é o espirito de rotina violentamente incommodado por mãos rudes e in convenientes; é a banalidade que quer dormir socegada no seu leito de ninharias; é a vulgaridade que cuida que a forçam – nós só lhe queremos puchar as orelhas ! Isto, resumido em poucas palavras, quer dizer : comba tem -se os hereges da eschola de Coimbra por causa do negro crime de sua dignidade, do atrevimento de sua re ctidão moral, do attentado de sua probidade litteraria, da impudencia e miseria de serem independentes e pensarem 6 . por suas cabeças. E combatem -se por faltarem ás virtu des de respeito humilde ás vaidades omnipotentes, de sub missão estupida, de baixeza e pequenez moral e intelle ctual"


Em outro trecho ele diz:


"Os outros adoram a palavra, que illude o vulgo, e des prezam a idea , que custa muito e nada luz . São apostolos do diccionario, e têm por evangelho um tractado de me trificação. Fazem da poesia o instrumento de suas vaida des . Pregam o bem por uso e convenção litteraria , por que se presta á declamação poetica, mas practicam o egoismo por indole e por vontade. Fazem -nos descrer da grandeza humana, porque são uns sophismas que nos mostram a pe quenez e a má fé aonde as apparencias são todas de no breza. Preferem imitar a inventar; e a imitar preferem ainda traduzir. Repetem o que está dicto ha mil annos, e 0 fazem -nos duvidar se o espirito humano será uma esteril e constante banalidade . São os enfeitadores das ninharias lu zidias. Põem os nadas em pé para parecerem alguma cousa. São os idolos litterarios da multidão que mal sabe ler . São os philosophos queridos da turba quenunca pensou. São, emfim , genios no Brasil como v. ex."


Essa carta foi uma resposta à carta posfácio de Castilho sobre um poema de Pinheiro Chagas, chamado "Poema da Mocidade".


O ponto central das críticas de Castilho era o que considerava como duras e desnecessárias palavras utilizadas pelos intelectuais em críticas literárias, direcionadas a nomes ligados à literatura e outras esferas públicas portuguesas. Tais posturas se originariam, segundo ele, em uma precipitação típica da imaturidade e juventude que a idade viria a corrigir. Vieira de Castro foi referido de forma mais branda e até elogiosa, mas os nomes de Antero e Teófilo recebem críticas e são vistos com indiferença em relação a suas atuações literárias. Castilho dizia que em nome de uma modernidade estavam acabando com o bom senso e o bom gosto.

A questão Coimbrã marcou o início do Movimento Realista português, nos  anos 1860, tinha uma visão mais centrada no individuo, e na crítica social,com uma linguagem mais direta e mais dura da realidade das pessoas, criticando a Igreja e a classe burguesa.

Expoentes desse movimento foram escritores como Eça de Queiróz que escreveu os Maias, O primo Basílio, a cidade e as serras, o crime do padre Amaro, entre outros romances. Antero de Quental, autor de Odes modernas. Cesário Verde autor de "A débil", " A forca", "Noite fechada".



Fontes:
wikipedia.org
google.com
educamaisbrasil.com.br
portalcatarina.ufsc.com
infopedia.pt
deficienciavisual.pt
todamateria.com.br
infoescola.com

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Uma expressão da língua portuguesa muito utilizada para dizer que nada mais adianta; que não tem mais nada a fazer é "Agora que a Inês é morta". Mas de onde vem essa expressão?


Inês de Castro





A inspiradora dessa frase é Inês de Castro, destacada no Canto III de Os Lusíadas:


Canto III

118

Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e digno da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.

122

De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

123

Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?

124

Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,


Inês de Castro (1325-1355) , nobre dama de Castela, que fez parte da corte de Constança; quando essa foi para Portugal se casar com o Infante Pedro, filho do rei Afonso IV, e herdeiro do trono.



Em 1340, depois de casar-se com o príncipe D. Pedro de Portugal, por procuração, no convento de São Francisco em Évora, em 1336, D. Constança chegou a Portugal.

Em sua companhia vieram parentes, criados e pajens, entre elas, a dama de companhia Inês de Castro. De imediato, D. Pedro se apaixonou por D. Inês. Mesmo apaixonado por Inês, casa-se com Constança no dia 24 de agosto de 1339, na Sé de Lisboa.

Quando a princesa Constança teve seu primeiro filho em 1342, deu ao infante o nome de Luís. D. Inês foi convidada para madrinha. De acordo com os preceitos da Igreja Católica de então, a relação entre padrinhos era de parentesco moral e o amor entre eles era quase um incesto.


Pedro e Constança




D. Constança, ciente da traição do marido, vivia a lamentar a triste sorte. Teve seu segundo filho, Fernando, em 1345. Em 1349, logo depois de dar a luz a sua filha Maria, a rainha morre.

Depois da morte da mulher, D. Pedro manda buscar Inês, contrariando as ordens do pai. Instalados em Coimbra finalmente estavam juntos. No Mosteiro de Santa Clara vive o feliz casal e é ali que nascem os seus filhos Afonso, João, Dinis e Beatriz.


Pedro e Inês de Castro






Quando D. Constança, esposa de D. Pedro faleceu, D. Afonso IV e seus vassalos ficaram preocupados com a influência da galega na vida política do futuro rei. Contra a vontade do pai, D Pedro ordenou que Inês de Castro voltasse para o reino, e passaram a viver juntos. Isto representou uma grande afronta para o pai e rei. Temendo pela independência de Portugal, D. Afonso IV mandou matar Inês enquanto D. Pedro estava numa excursão de caça.


Fonte das lágrimas (local do assassinato de Inês)




A morte de Inês provocou revolta de D. Pedro contra seu pai. Aclamado rei em 1357, com a morte de D. Afonso,  Pedro I começa a perseguição aos assassinos de sua amada Inês. Com requintada malvadez, a vingança é executada nos Paços de Santarém.

Manda amarrar as vítimas em postes e ordena ao carrasco que tire de um o coração pelas costas e do outro pelo peito. Como se ainda não bastasse, teve coragem de partir os corações, terminando sua sede de vingança.




Em 1360, o rei D. Pedro I assume publicamente que o casamento com Inês de Castro teria se realizado, em segredo, antes de sua morte.

Conta a tradição que Pedro I resolve fazer uma homenagem merecida a D. Inês de Castro, rainha de Portugal, ordenando que o corpo da amada fosse desenterrado e sentado no trono.

Inês é coroada rainha depois de morta. Daí vem a frase :"Inês é morta".





A rainha foi coroada, e os nobres obrigados a procederem a cerimônia do beija-mão ao cadáver sob pena de morte. Em seguida ordenou o translado dos restos mortais de Coimbra para um túmulo que mandou construir em Alcobaça.


Túmulo de Inês de Castro em Coimbra



Fontes:
wikipedia.org
google.com
ebiografia.com
significados.com.br
passeiweb.com
vestibular1.com.br



sexta-feira, 10 de junho de 2022

Em época onde o conservadorismo, como forma de volta ao passado e ao  reacionarismo, como negação da evolução humana, vamos falar do "Velho do Restelo" do Canto IV dos Lusíadas de Luís Vaz de Camões. 


Camões


Restelo é um bairro de Lisboa na freguesia de Belém, próximo ao mar e local de chegada e partida de navegadores.


O velho do restelo
Columbano Bordaro Pinheiro (1904)


Canto IV


94 - (O Velho do Restelo)

 “Mas um velho d’aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C’um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:



 95 

”Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!



96 -  

“Dura inquietação d’alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!



Vasco da Gama, herói português e descobridor do caminho às Índias, narra ao rei de Melinde (África), a história de seu país e suas aventuras durante a viagem. Fala especialmente da partida do porto de Belém, e as falas do velho do restelo, criticando as aventuras e a cobiça à procura de outras terras e fortuna, deixando pais, mulheres e filhos para trás.



Vasco da Gama





O velho representa a luta contra a mudança, o certo pelo incerto. O medo de descobrir algo novo que jogue por terra todos os conceitos enraizados durante uma longa vida.

Representa ainda o apego ao passado e a falta de ambição por coisas novas.


Fontes:

Camões, Luís 0 Os Lusíadas -   editora Tecnoprint S.A.
wikipedia.org
google.com
passeiweb.com

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Em comemoração ao bicentenário da Independência do Brasil, vamos falar hoje da Revolta dos Males.

A Revolta dos Malês foi uma revolta de escravos que aconteceu na cidade de Salvador, na Bahia, em 1835. Essa foi a maior revolta de escravos da história do Brasil e mobilizou cerca de 600 escravos que marcharam nas ruas de Salvador convocando outros escravos a se rebelarem contra a escravidão. A Revolta dos Malês, que ficou marcada pela grande adesão de africanos muçulmanos, acabou fracassando e os envolvidos foram duramente punidos.







Escravidão no Brasil

A escravidão foi introduzida no Brasil ainda no século XVI pelos portugueses. Os primeiros africanos a desembarcarem como escravos foram trazidos para Recife. Ao longo de mais de 300 anos de escravidão, indígenas, africanos e crioulos (nascidos no Brasil) sofreram com a violência e a exploração dessa instituição.

Os escravos, por sua vez, não eram passivos à sua situação e resistiam ao trabalho escravo de diversas maneiras. Os escravos poderiam fugir individualmente ou até coletivamente e muitos dos que fugiam se abrigavam em quilombos, um reduto de escravos fugidos que teve em Palmares seu grande símbolo.




As revoltas também eram um ponto importante e muitas delas eram violentas. Nelas, os escravos voltavam-se contra seus senhores ou até mesmo contra as próprias autoridades da região em que eram escravizados. A Bahia foi um grande símbolo de revoltas de escravos, sobretudo na primeira metade do século XIX.

Na época da revolta dos Males, Salvador era uma cidade de pouco mais de 65 mil habitantes. 80% da população era formada por negros e, destes, 40% eram escravizados.



Parte desta população era formada por africanos de origem muçulmana, os nagôs (iorubá) e haussás. Estes africanos ficaram conhecidos no Brasil como Malês, que provém da língua Iorubá na palavra imalê, que significa muçulmano.

A partir deste momento, criou-se outra vertente do negro escravizado, questionador e revoltoso, pois eram povos que possuíam bom nível de instrução e não aceitavam romper com a cultura islâmica.

Os senhores de escravos, assim como a sociedade baiana, não estavam acostumados a lidar com negros tão apegados as suas raízes. Estavam acostumados com escravizados submissos e grosseiros, pois já estavam há muito tempo sem contato com as suas raízes. A inteligência dos malês rompeu com muitos estereótipos da época.




Os malês eram estudiosos, sabiam ler e escrever em árabe e fazer contas. Por este motivo eram usados como escravos de ganho e atuavam na área urbana de Salvador.

Trabalhavam no comércio vendendo frutas, ou como sapateiros, ferreiros, pedreiros. Fato que lhes garantia maior mobilidade para circular pela cidade e se comunicar com outros escravizados malês e organizar reuniões com os levantes.

Estes negros foram a prova da grande capacidade de mobilização que havia entre os escravizados. Com estratégia e ousadia, conseguiam incitar escravizados a participar da revolta.

Uma destas estratégias foi distribuir panfletos escritos em árabe – isso foi uma maneira de divulgar o planejamento do levante sem que os patrões descobrissem as reais intenções do grupo.

Após algumas tentativas de revoltas que foram reprimidas, foi possível enxergar que poderiam construir um movimento mais forte.

O ápice das manifestações aconteceu no final do Ramadã de 1835, o nono mês do calendário islâmico, dedicado ao jejum e reflexão espiritual, período sagrado para os muçulmanos.





A data escolhida foi a manhã do dia 25 de janeiro de 1835, pois é o dia da festa conhecida como Lailat al-Qadr (ليلة القدر), a Noite da Glória, ou Noite do decreto, que comemora o dia em que o Corão foi revelado para Maomé.

Cerca de 600 negros, entre escravizados e libertos, se armaram de paus e lanças e iniciaram a Revolta dos Malês, que era formada exclusivamente por negros africanos.




Eles reivindicavam por liberdade para expressar sua religião sem qualquer restrição. Pois no Brasil do século XIX, com exceção do cristianismo, todas as religiões eram consideradas profanas.

Isso era uma tentativa do governo da época de acabar com qualquer relação do escravizado com sua terra natal e sua ancestralidade. Desta forma apagavam a identidade dos negros que chegavam ao Brasil.

Desta forma, os malês planejavam fundar uma república islâmica ortodoxa na Bahia, que dominaria a princípio a cidade de Salvador e o Recôncavo baiano e posteriormente iriam dominar o estado de Pernambuco, após libertar todos os escravizados muçulmanos.



O primeiro negro a ser resgatado seria Pacífico Licutan, conhecido como Bilal, era o líder de revolta dos Malês, que estava preso para pagar dívidas do seu senhor.


Pacífico Licutan




O plano era de atacar a cidade pela manhã do 25 de janeiro. Era domingo e a população estava reunida em torno da igreja do Senhor do Bonfim, o que seria o cenário perfeito para um ataque surpresa.

Os negro foram delatados pela ex escrava Guilhermina de Souza. 





A revolta do Malês foi repreendida de maneira bastante violenta. O resultado deste conflito foi que 70 negros foram mortos. Outros escravizados tentaram fugir nadando pelo mar, porém, sem sucesso.

Alguns negros foram açoitados, outros foram deportados para outro lugares do Brasil e da África, outros permaneceram presos.

A pena mais pesada foi para Pacifico Licutan, que recebeu 1.200 chibatadas, referente à pena de morte.




Após a revolta dos malês, o medo foi instaurado em todas as províncias do Império, principalmente o Rio de Janeiro.

As notícias do que aconteceu em Salvador deixaram as autoridades em alerta, submetendo os escravizados africanos à repressão abusiva e extrema vigilância.



Fontes:
todamateria.com.br
wikipedia.org
google.com
politize.com.br

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