Romantismo no Brasil.
O romantismo brasileiro foi um movimento artístico e literário baseado no romantismo europeu que ocorreu, oficialmente, entre os anos de 1836 e 1881 no Brasil. Surgiu por conta da Independência do Brasil e da consequente necessidade de se criar uma cultura brasileira propriamente nacional. Seu marco inicial é a publicação do livro Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836, e suas principais características são o nacionalismo e o subjetivismo.
Suspiros Poéticos e Saudades é um livro de poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora sentado entre as ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço; ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus e os prodígios do cristianismo; ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora, enfim, refletindo sobre a sorte da pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. São poesias de um peregrino, variadas como as cenas da natureza, diversas como as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento e se ligam como os anéis de uma cadeia; poesias d'alma e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser julgadas.
Quem ao menos uma vez separou-se de seus pais, chorou sobre a campa de um amigo, e armado com o bastão de peregrino, errou de cidade em cidade, de ruína em ruína, como repudiado pelos seus; quem no silêncio da noite, cansado de fadiga, elevou até a Deus uma alma piedosa, e verteu lágrimas amargas pela injustiça, e misérias dos homens; quem meditou sobre a instabilidade das coisas da vida e sobre a ordem providencial que reina na história da humanidade, como nossa alma em todas as nossas ações; esse achará um eco de sua alma nestas folhas que lançamos hoje a seus pés, e um suspiro que se harmonize com o seu suspiro.
Invocação ao anjo da poesia
A voz de minha alma
Quando da noite o véu caliginoso
do mundo me separa,
e da terra os limites encobrindo,
vagar deixa minha alma no infinito,
como um subtil vapor no aéreo espaço,
uma angélica voz misteriosa
em torno de mim soa,
como o som de uma flauta harmoniosa,
que em sagradas abóbadas reboa.
donde vem esta voz? -Não é de virgem,
que ao prazo dado o bem-amado aguarda,
e mavioso canto aos céus envia;
esta voz tem mais grata melodia!
Com a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, os escritores desse período buscam a autonomia da literatura, retomando diversos aspectos da cultura brasileira. Isso porque durante séculos de colonização, o Brasil sofreu forte influência dos modelos europeus, sobretudo de Portugal.
Nesse momento, os folhetins, pequenos capítulos de romances publicados nos jornais, começam a se popularizar no país, o que fez surgir um público leitor, tornando a leitura mais acessível.
Alguns escritores que tiveram grande destaque no Romantismo no Brasil foram:
Gonçalves de Magalhães
Gonçalves Dias
José de Alencar
Álvares de Azevedo
Casimiro de Abreu
Castro Alves
As principais características da literatura romântica no Brasil são:
Rompimento com a tradição clássica: o romantismo veio romper com os modelos clássicos greco-romanos, fundamentados na busca da perfeição e na arte erudita.
Maior liberdade formal: contrário ao formalismo e tradicionalismo das escolas anteriores, o romantismo utiliza versos sem rima e sem métrica, além de uma linguagem informal e regionalista.
Indianismo: o indígena é eleito como herói nacional, sendo idealizado como um ser puro e inocente.
Nacionalismo e ufanismo: os valores culturais, históricos e artísticos do Brasil são exaltados pelos escritores que mostram orgulho da nação.
Culto à natureza: associado ao nacionalismo, as belezas naturais do país são enfatizadas pelos autores de maneira grandiosa.
Amor platônico, idealismo: a idealização da sociedade, do amor e da realidade são comuns nas obras românticas.
Idealização da mulher: para os escritores românticos, a mulher representava a beleza, a pureza, a inocência e a delicadeza.
Subjetivismo e egocentrismo: a literatura romântica foca nos sentimentos e emoções dos autores, reunindo textos de caráter individualista.
Sentimentalismo exacerbado: a supervalorização das emoções pessoais, mostra que os escritores desse momento se opõem ao pensamento racional e objetivo.
Religiosidade: oposto ao racionalismo, que desconsidera os valores religiosos, no romantismo há uma preocupação em se apegar aos valores cristãos.
Evasão e escapismo: com o desejo de fugir do cotidiano, da realidade e dos sofrimentos, os autores românticos criam um ambiente idealizado.
Outro poeta da Primeira Fase do Romantismo no Brasil foi Gonçalves Dias.
Gonçalves Dias (1823-1864) foi um escritor focado em temas nacionais e indianistas, autor das seguintes obras: Canção do Exílio (1843), I-Juca- Pirama (1851) e Os Timbiras (1857).
Exemplo de poema da primeira geração romântica:
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Poemas como Canção do Exílio, demonstram uma grande saudade da terra natal, uma das principais características no Romantismo no Brasil.
2.ª fase do Romantismo no Brasil (1853 a 1869)
Conhecida como a geração do “Mal do Século” ou “Ultrarromântica”, a segunda geração romântica foi profundamente influenciada pelos poemas do inglês George Gordon Byron, (1788-1824). Por isso, é muitas vezes chamada de geração “Byroniana”.
Marcada por aspectos negativos, os poemas desse período romântico é permeada dos temas: egocentrismo, negativismo, pessimismo, dúvida, desilusão, boêmia, exaltação da morte e fuga da realidade.
Escritores e obras da segunda geração romântica
No Brasil, os principais escritores dessa geração foram:
Álvares de Azevedo
Casimiro de Abreu
Fagundes Varela
Junqueira Freire
Álvares de Azevedo (1831-1852) foi um dos principais escritores desse momento, com uma obra focada na tristeza e na morte, tais como: Se eu morresse amanhã (1852) e Lira dos vinte anos (1853).
Casimiro de Abreu (1839-1860) explorou temas como a saudade da infância e a tristeza. Durante sua vida, publicou somente uma obra, seu livro de poesias As primaveras (1859).
Fagundes Varela (1841-1875) possui uma obra focada em temas pessimistas e melancólicos. Destacam-se: Noturnas (1861), Cântico do Calvário (1863) e Cantos e fantasias (1865).
Junqueira Freire (1832-1855) explorou temas religiosos e o conflito existencial, sendo que sua obra de maior destaque é Inspirações do Claustro, publicada postumamente.
Exemplo de poema da segunda geração romântica:
"Oh! que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais!Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais!
Como são belos os diasDe despontar da existência!– Respira a alma inocênciaComo perfumes a flor;O mar é – lago sereno,O céu – um manto azulado,O mundo – um sonho dourado,A vida – um hino d’amor!"
(Trecho do poema Meus Oito Anos, de Casimiro de Abreu)
3.ª fase do Romantismo no Brasil (1870 a 1880)
Chamada de “Geração Condoreira” (vem da ave Condor, símbolo de liberdade), a terceira geração romântica é caracterizada pelos poemas libertários e sociais.
Esse período está associado ao condor, águia da cordilheira dos Andes, com o intuito de revelar sua mais importante característica: a liberdade.
Essa geração sofreu grande influência do escritor francês Victor-Marie Hugo (1802-1885), daí ser conhecida também como geração “Hugoana”.
O grande foco dos escritores desse momento, foi os problemas sociais e também o abolicionismo.
Escritores e obras da terceira geração romântica
No Brasil, os principais representantes da terceira fase romântica foram:
Castro Alves
Tobias Barreto
Sousândrade
Castro Alves (1847-1871), fundador da poesia social, ficou conhecido com o “poeta dos escravos”, pois abordou temas abolicionistas. Sua obra mais relevante do momento é O Navio Negreiro (1869).
Tobias Barreto (1839-1889) foi um grande expoente da poesia social e lírica dessa geração. Merece destaque suas obras: Amar (1866), A Escravidão (1868) e Dias e noites (1893).
Sousa Andrade (1833-1902) foi um dos poetas mais originais e vanguardistas da terceira geração. De sua obra, destacam-se: Harpas Selvagens (1857) e O Guesa, livro escrito entre os anos de 1858 e 1888.
Exemplo de poema da terceira geração romântica:
"Era um sonho dantesco... O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs."
(Trecho do poema O Navio Negreiro, de Castro Alves)
Na prosa tiveram destaque escritores como José de Alencar, com obras como:
O Guarani
Iracema
Ubirajara
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
(Trecho da obra Iracema, de José de Alencar)
Prosa urbana: retrata as tramas da burguesia em ascensão no Rio de Janeiro. O principal autor é Joaquim Manuel de Macedo, autor de A Moreninha, o primeiro romance romântico brasileiro de sucesso.
Prosa regionalista: retrata o interior do Brasil e os seus costumes. O principal autor é Bernardo de Guimarães, autor de A escrava Isaura.
Prosa histórica: retrata a formação do povo brasileiro, mas sem destaque ao indígena. A principal obra nessa temática é As minas de prata, também de José de Alencar.
`Os encantos da gentil cantora eram ainda realçados pela singeleza, e diremos quase pobreza do modesto trajar. Um vestido de chita ordinária azul-
clara desenhava-se lhe perfeitamente com encantadora simplicidade o porte esbelto e a cintura delicada, e desdobrando-se lhe em roda amplas ondulações
parecia uma nuvem, do seio da qual se erguia a cantora como Vênus nascendo
da espuma do mar, ou como um anjo surgindo dentre brumas vaporosas.
Uma pequena cruz de azeviche presa ao pescoço por uma fita preta constituía o seu único ornamento.
Apenas terminado o canto, a moça ficou um momento a cismar com os dedos sobre o teclado como escutando os derradeiros ecos da sua canção.´ (Trecho de A Escrava Isaura - Bernardo Guimarães)
Fontes:
wikipedia.org
google.com
todamateria.com.br
horizonte.unam.mx
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