sexta-feira, 29 de novembro de 2024


Luar do Sertão - Tonico e Tinoco


Uma das mais belas canções da música brasileira, Luar do Sertão, sempre foi envolta em polêmicas sobre a sua autoria.


A toada “Luar do Sertão” é um sucesso de música popular. Como outras canções que falam da vida campestre, ela encanta principalmente pela ingenuidade dos versos e pela simplicidade da melodia. Catulo da Paixão Cearense (1863-1946) defendeu em toda a sua vida que era seu autor único, mas hoje em dia se dá crédito da melodia a João Pernambuco(1883-1947). É uma das músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos, desde Vicente Celestino a Maria Bethânia.

O tema seria de João Pernambuco ou, mais provavelmente, de um anônimo, tratando-se assim de um tema folclórico - o côco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá" - recolhido e modificado pelo violonista. Este côco integrava seu repertório e teria sido por ele transmitido a Catulo, como tantos outros temas. Ao menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.



João Pernambuco



Homem simples, sequer alfabetizado, João Pernambuco - cuja musicalidade era alvo da admiração do próprio Villa-Lobos – a certa altura de sua vida queixava-se de ter sido vítima de plágio, por parte de Catulo da Paixão Cearense, quanto à autoria da célebre modinha “Luar do Sertão”. Merece registro o depoimento de Mozart Bicalho sobre esse assunto: – Existe, até hoje, uma certa polêmica quanto à autoria do Luar do sertão. Há pessoas que afirmam que esta música pertence a João Pernambuco e não a Catulo. Catulo, no entanto, me disse uma vez que o “Luar do Sertão” era uma melodia nortista, mais ou menos pertencente ao domínio folclórico. Daí, penso eu, é possível deduzir que ambos a possuíam guardada em suas memórias, sendo, portanto, bastante discutível atribuir sua autoria a qualquer um deles.


Catulo da Paixão Cearense



Há ainda a favor da versão do aproveitamento de tema popular, uma declaração do próprio Catulo (em entrevista a Joel Silveira) que diz: "Compus o “Luar do Sertão” ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá"'. A propósito, conta o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque) que teve a oportunidade de ouvir Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do 'É do Maitá': a original e 'outra modificada por João Pernambuco', esta realmente muito parecida com Luar do Sertão".

João Pernambuco teve dois defensores ilustres: Heitor Villa-Lobos e Henrique Foréis Domingues, o Almirante. Se não conseguiram o reconhecimento judicial de sua condição de autor de “Luar do Sertão”, pelo menos deram credibilidade à reivindicação. Ainda do mesmo Almirante foi a iniciativa de tornar o “Luar do Sertão” prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a partir de 1939.

O violonista Leandro Carvalho (estudioso da obra de João Pernambuco e organizador do CD "João Pernambuco - O Poeta do Violão", 1997) diz: "Pôr onde João andava, Catulo estava atrás, anotando tudo; foi o que aconteceu com Luar do Sertão: Catulo ouviu, mudou a letra e disse que era sua".
João Pernambuco foi enterrado no Rio de Janeiro a 16 de outubro de 47, ao som de 'Luar do Sertão', entoado por Pixinguinha, Donga e alguns amigos, sem maiores homenagens.


LUAR DO SERTÃO
(Catulo da Paixão Cearense – João Pernambuco)

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão...
Oh que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão
Esse luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão
Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão
A gente pega na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia a nos nascer no coração
Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão...



Fontes:

wikipedia.org
google.com
enciclopedia.itaucultural.org.br
museudacancao.blogspot.com
youtube.com

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