Vamos falar da obra de Euclides da Cunha, Os Sertões.
A obra publicada em 1902, narra o episódio da Guerra dos Canudos ocorrido nos anos de 1896-1897.
Trata-se de um relato histórico mesclado à literatura, posto que Euclides foi convidado pelo Jornal Estado de São Paulo para cobrir a guerra no Arraial de Canudos e nesse momento, surgiu sua obra.
Por esse motivo, "Os Sertões" representa um marco da literatura e na história do Brasil, sendo, portanto, analisada por outras áreas do conhecimento, tal qual: Antropologia, Sociologia, Geografia e História.
A obra possui um caráter crítico e realista nunca antes abordado por um literato do Brasil, donde Euclides por meio de uma linguagem cientificista recrimina o nacionalismo e ufanismo exacerbado da sociedade brasileira da época, mostrando a face cotidiana e realista do país e das pessoas que o compõem.
De tal modo, trata-se de uma prosa científica e artística, acabando com essa visão idealista do índio herói e do negro trabalhador, abordado com entusiasmo pelos escritores do romantismo.
Euclides da Cunha foi enviado como jornalista de O Estado de São Paulo para cobrir a revolta de um grupo de monarquistas insubordinados liderados por um beato, Antonio Conselheiro.
Ao chegar ao arraial de Canudos, entretanto, ele viu que os revoltosos não passavam de um bando de miseráveis relegados pelo Estado e que procuravam pacificamente viver suas vidas num lugarejo afastado e esquecido pelos grandes centros urbanos.
A obra é composta de três partes:
A primeira, a Terra, uma descrição de um engenheiro agrimensor que faz um relato detalhado sobre a caatinga a favela, o terreno seco e árido.
"Do alto da Serra de Monte Santo atentando-se para a região, estendida em torno num raio de quinze léguas, nota-se, como num mapa em relevo, a sua conformação orográfica. E vê-se que as cordas de serras ao invés de se alongarem para o nascente, medianas aos traçados do Vaza-Barris e Itapicuru, formando-lhes o divortium aquarum, progridem para o norte. Mostram-se as serras Grande e do Atanásio, correndo, e a princípio distintas, uma para NO e outra para N e fundindo-se na do Acaru, onde abrolham os mananciais intermitentes do Bendegó e seus tributários efêmeros. Unificadas, aliam-se às de Caraíbas e do Lopes e nestas de novo se embebem, formando-se as massas do Cambaio, de onde irradiam as pequenas cadeias do Coxomongó e Calumbi, e para o noroeste os píncaros torreantes do Caipã. Obediente à mesma tendência, a do Aracati, lançando-se a NO, à borda dos tabuleiros de Jeremoabo, progride, descontínua, naquele rumo e, depois de entalhadas pelo Vaza-Barris em Cocorobó, inflete para o poente, repartindo-se nas da Canabrava e Poço de Cima, que a prolongam. "
A segunda parte discorre sobre o Homem, um estudo sociológico e antropológico sobre o sertanejo, sobrevivente, do jagunço sua religiosidade e seus julgamentos baseado numa moral rígida e paternalista.
"A face primordial da questão ficou assim aclarada. Quer resultem do “homem da Lagoa Santa” cruzado com o pré-colombiano dos “sambaquis”; ou se derivem, altamente modificados por ulteriores cruzamentos e pelo meio, de alguma raça invasora do Norte, de que se supõem oriundos dos tupis tão numerosos na época do descobrimento"—
Antonio Conselheiro:
"De repente, surge-lhe revés violento. O plano inclinado daquela vida em declive termina, de golpe, em queda formidável. Foge-lhe a mulher, em Ipu, raptada por um policial. Foi o desfecho. Fulminado de vergonha, o infeliz procura o recesso dos sertões, paragens desconhecidas, onde lhe não saibam o nome; o abrigo da absoluta obscuridade. Desce para o sul do Ceará. Ao passar em Paus Brancos, na estrada do Crato, fere com ímpeto de alucinado, à noite, um parente, que o hospedara. Fazem-se breves inquirições policiais, tolhidas logo pela própria vítima reconhecendo a não culpabilidade do agressor. Salva-se da prisão. Prossegue depois para o sul, à toa, na direção do Crato. E desaparece..." Místico que dissertava sore o fim do mundo e a lenda sobre a volta de D.Sebastião, rei de Portugal desaparecido na Batalha de Alcacer-Quibir em 1578, que voltaria para salvar o reino de Portugal.
A terceira parte é a Guerra em sim. As três expedições que foram derrotadas pelos sertanejos, em especial a terceira do coronel Moreira César, famoso por outras empreitadas, cuja arrogância e prepotência colocou a perder toda a batalha pagando com sua vida por isso.
"Moreira César fora de combate
E descia. A meio caminho, porém, refreou o cavalo. Inclinou-se, abandonando as rédeas, sobre o alção dianteiro do selim. Fora atingido no ventre por uma bala. Rodeou-o logo o estado-maior. — Não foi nada; um ferimento leve, disse, tranquilizando os companheiros dedicados. Estava mortalmente ferido."
A quarta expedição que tinha o claro intuito de destruir Canudos junto com sua população incluindo mulheres, crianças e idosos.
"A luta, que viera perdendo dia a dia o caráter militar, degenerou, ao cabo, inteiramente. Foram-se os últimos traços de um formalismo inútil: deliberações de comando, movimentos combinados, distribuições de forças, os mesmos toques de cornetas, e por fim a própria hierarquia, já materialmente extinta num exército sem distintivos e sem fardas. Sabia-se de uma coisa única: os jagunços não poderiam resistir por muitas horas. Alguns soldados se haviam abeirado do último reduto e colhido de um lance a situação dos adversários. "
Euclides da Cunha
Euclides da Cunha mostra a carnificina da batalha: "Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dous homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos."
Fontes:
todamateria,com.br
objdigital.br.br
wikipedia.org
google.com
dominiopublico.gov.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário