quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Tragédia no Gran Circo Americano dezembro de 1961 em Niterói.



Há sessenta e dois anos, completado no último 17 de dezembro de 2023, aconteceu uma das maiores tragédias do Brasil, o incêndio do Gran Circo Americano.




A equipe do Gran Circus chegou no Rio de Janeiro em 1961 uma semana antes da data prevista para sua estreia, e se instalou na Praça Expedicionário, na cidade de Niterói. O circo possuía cerca de 60 artistas – como palhaços, equilibristas e mágicos – 150 animais (quase todos mortos no incêndio) e 20 empregados para tomar conta de tudo.





Ao contrário do que o nome sugere, o circo não era americano e sim brasileiro. Seu proprietário era Danilo Stevanovich, era um Gaúcho natural da cidade de Cacequi, e membro de uma família com 7 irmãos.

A estreia do espetáculo do Gran Circus Norte Americano aconteceu no dia 15 de dezembro de 1961, uma sexta-feira. Neste dia o circo ultrapassou o limite de espectadores e Stevanovich teve que suspender a venda de ingressos.






Por ter poucos funcionários para a montagem do circo, que demorava muito e exigia muita mão de obra, Danilo Stevanovich teve que contratar por volta de 50 funcionários temporários. Um dos contratados apresentava problemas mentais e já tinha passagem na polícia por furtos, seu nome era Adílson Marcelino Alves, mais conhecido como “Dequinha”.

Por conta de seu comportamento, acabou sendo demitido. Dequinha ficou inconformado com sua dispensa e passou a rodear as imediações do circo nos dias seguintes. No dia da estreia Dequinha tentou entrar escondido no circo, mas foi impedido por Edimílson Juvêncio, o treinador de elefantes.

No dia seguinte a estreia, 16 de dezembro, houve uma discussão entre Dequinha e o arrumador Maciel Felizardo nas imediações do Gran Circus Norte-Americano. Isso por que Dequinha acreditava que Maciel era o grande culpado por sua demissão. Dequinha foi agredido, reagiu e jurou vingança.


Bigode e Dequinha sendo interrogados



Com a intenção de implementar sua vingança, no dia 17 de dezembro de 1961 Dequinha se reuniu com dois comparsas, a fim de atear fogo no circo. José dos Santos, o “Pardal” que cumpria 10 anos de prisão por furto, mas havia obtido uma licença do diretor do presídio e Walter Rosa dos Santos, o “Bigode”, um morador de rua e alcoólatra.

Os 3 juntamente as companheiras de Pardal e Bigode, Dirce Siqueira de Assis e Regina Maria da Conceição respectivamente, se encontraram no Ponto de Cem Réis na região central da cidade.

A caminho do circo Bigode comprou de um posto de combustível, 1 litro de gasolina por 20 cruzeiros. Enquanto Dequinha e Bigode entram sem pagar, Pardal e as mulheres ficaram bebendo do lado de fora. Quase no final do espetáculo Dequinha teria percebido que Maciel Felizardo o havia notado. Teria dito então a Bigode, que estava na hora.

Mesmo sendo advertido por Bigode da grande lotação, Dequinha estava decidido a seguir com sua vingança. Os dois saíram do circo e chamaram Pardal e as mulheres. Bigode jogou a gasolina e Dequinha ateou fogo.

Era um domingo, 17 de dezembro de 1961. A matinê estava lotada, a maioria por crianças felizes com o espetáculo.

Na última apresentação da sessão, muito aguardada por todos, a trapezista, Nena, irmã do dono do circo, que se preparava para um salto mortal, viu fogo no topo da lona, feita de algodão e coberta por parafina.






Ela gritou "Fogo!", a lona incendiada começou a cair sobre o espectadores em pânico.



O desespero se instalou, muitas pessoas morreram pisoteadas na tentativa desesperada de sair daquele inferno. Os corpos empilhados impediam a passagem de outros enquanto o derretimento da lona parafinada, segundo testemunhas, fazia chover labaredas entre as pessoas.






Em poucos minutos o Gran Circus Norte-Americano, com pouco mais de 3.000 mil espectadores foi completamente tomado pelas chamas. Morreram de imediato, 372 pessoas, número que foi crescendo até chegar a 503 nos dias seguintes. Foram mais de 800 pessoas feridas. 70% dos mortos foram de crianças, fato que causou revolta e muita tristeza em toda a população.






A tragédia poderia ter sido ainda pior no número de mortos se não fosse pelo elefante fêmea chamada Sema. No meio do pânico ela escapou de sua jaula e arrebentou a lona do circo, abrindo caminho para que muitos pudessem se salvar.





O material de que era feita a lona do Gran Circus, foi um dos fatores agravantes no incêndio. Feita de algodão e revestida de parafina era altamente inflamável e com certeza ajudou o fogo a se propagar de forma muito mais rápida.





Por coincidência, naquele dia, a classe médica do estado do Rio de Janeiro estava em greve e o Hospital Antônio Pedro, o maior de Niterói, estava fechado. A população arrombou a porta e os médicos em greve foram convocados através da rádio. Soldados do Exército Brasileiro compareceram ao hospital de imediato. Médicos de clínicas privadas também foram atender ao hospital. Circos, cinemas e teatros de Niterói, Rio de Janeiro e outras cidades vizinhas cancelaram seus shows e espetáculos para averiguar se haveria médicos entre o público, tal foi a dimensão da catástrofe. 







Padres também foram convocados emergencialmente para darem a unção dos enfermos (antes chamada extrema unção) às vítimas que já se sabia que não tinham qualquer hipótese de sobrevivência. Nos dias seguintes, várias personalidades da elite fluminense e brasileira deslocaram-se a Niterói para prestar o máximo de apoio e auxílio às vítimas. Dentre essas personalidades estava o então presidente João Goulart.


João Goulart (presidente) Tancredo Neves (1ºMinistro) e Celso Peçanha (governador do Rio de Janeiro)






As agências funerárias não tinham mãos e tempo a medir, tal era elevado o número de caixões que eram necessários para enterrar as vítimas. O Estado Caio Martins foi transformado numa oficina provisória para a construção rápida de urnas, com carpinteiros da região a trabalharem dia e noite. Os cemitérios municipais de Niterói logo ficaram com os túmulos esgotados; assim, um terreno de roça no município de São Gonçalo, vizinho de Niterói, foi usada de urgência como cemitério para enterrar os restantes corpos.

Esse cemitério foi financiado por George Savalla Gomes, mais conhecido como palhaço Carequinha, que  ajudou a financiar do próprio bolso a construção de um cemitério na cidade de São Gonçalo, vizinha de Niterói.


Carequinha



Na época o jovem Ivo Pitanguy ainda não tinha a fama que tem hoje, e era professor na PUC-RJ. Naquele dia estava a caminho do trabalho quando escutou as notícias no rádio. Prontamente dirigiu-se até o Iate Clube do Rio, onde ficava sua lancha particular. De lá atravessou a Baía de Guanabara para chegar até Niterói e auxiliar as vítimas. Durante muito tempo Pitanguy continuou a tratar as vítimas da tragédia do Gran Circus Norte-Americano na Santa Casa, em São Paulo.


Dr. Ivo Pintaguy




Este episódio exigiu dos médicos criatividade e busca de novas técnicas no tratamento. Isso colocou o Brasil na liderança da cirurgia plástica no mundo e propiciou um dos casos pioneiros de uso de pele liofilizada.


O Brasil recebeu muita ajuda do exterior, O Vaticano doou dinheiro, quantidades enormes de pele humana foram doadas, assim como a própria população brasileira também ajudou.

Empresários do ramo farmacêutico doaram remédios equipamentos, assim grande parte da população ajudou como pôde.

O empenho de órgãos públicos e particulares, assim como grande número de doadores de sangue voluntários garantiram o atendimento hospitalar. Medicamentos, roupas, camas, comida, tudo o que era necessário foi sendo recolhido ao hospital. Encontra-se ainda a informação de que o comércio e a indústria de Niterói ficaram de portas abertas pela noite adentro para garantir fornecimento de medicamentos e materiais, como também para atender feridos e realizar sepultamentos. O convívio com a tragédia foi noticiado pela imprensa e obteve grande repercussão, o que promoveu o sentimento de solidariedade por toda parte do país e gerou ações de colaboração internacional para salvar os sobreviventes do fogo marcados por queimaduras em diferentes partes do corpo.





Apesar da história atribuir a tragédia a um ato criminoso, existem pessoas que creem em outra tese, a de falta de segurança contra incêndio adequada nas instalações do circo. Segundo declarações de Stevanovich, “só mesmo um crime” poderia justificar a tragédia que aconteceu ali. Lógico que essa era a melhor saída para ele, caso contrário, seria responsabilizado.

Vale ressaltar que dois circos de propriedade de Danilo, Búfalo-Bill e o Shangri-lá, também pegaram fogo em 1951 e 1952. Ele continuou na atividade até sua morte em 2001.

Um dos artistas do circo, o palhaço Doracy Campos, conhecido como Treme-Treme passou anos declarando que as instalações elétricas eram inadequadas.

Na época a imprensa noticiou problemas que havia no circo, como:

Instalações Elétricas precárias;
Falta de extintores;
Falta de saída de emergência.

Dequinha confessou o crime, ao contrário de Bigode, que em um primeiro momento se declarou inocente. Somente após um depoimento realizado na Delegacia de Ordem Política e Social (Dops), órgão notório por suas torturas, se declarou culpado.

Opositores do Governador Celso Peçanha o acusavam de encobrir os verdadeiros fatos para não ser responsabilizado. Pois o circo tinha sido autorizado a funcionar, mesmo que não apresentasse as condições necessárias.

A história do incêndio do Gran Circo Norte-Americano foi retratada no programa Linha Direta, da Rede Globo, em 29 de junho de 2006, sob o nome de Linha Direta Justiça. O dono do circo, Danilo Stevanovich, foi vivido pelo ator Dalton Vigh.

Foi lançado um livro em 2011 , "O espetáculo mais triste da Terra - O incêndio do Gran circo Norte-Americano", de Mauro Ventura.

Dequinha foi condenado a 16 anos de prisão e mais 6 anos em um manicômio judiciário. Pardal recebeu 14 anos de prisão e mais 2 em uma colônia agrícola. A condenação de Bigode foi de 16 anos de prisão e mais 1 em colônia agrícola.


Sete anos após sua prisão, Dequinha fugiu da Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói. Menos de um mês depois foi encontrado morto com nada menos que 13 tiros, no alto do morro Boa Vista. Até hoje se não se sabe que foi o autor do crime.



Fontes:

ofos.com.br
wikipedia.org
google.com
noticias.uol.com.br
bbc.com
scielo.br/j/rbh/a

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