quinta-feira, 29 de setembro de 2022

 




Vamos falar do romance "O Bobo" do escritor português, Alexandre Herculano.

Introdução:

"A morte de Afonso VI, rei de Leão e Castela, quase no fim da primeira década do século XII, deu origem a acontecimentos ainda mais graves do que os por ele previstos no momento em que ia trocar o brial de cavaleiro e o ceptro de rei pela mortalha com que o desceram ao sepulcro no Mosteiro de Sahagún. A índole inquieta dos barões leoneses, galegos e castelhanos facilmente achou pretextos para dar largas às suas ambições e mútuas malquerenças na violenta situação política em que o falecido rei deixara o país. Costumado a considerar a audácia, o valor militar e a paixão da guerra como o principal dote de um príncipe, e privado do único filho varão que tivera, o infante D. Sancho, morto em tenros anos na batalha de Ucles, Afonso VI alongara os olhos pelas províncias do império, buscando um homem temido nos combates e assaz enérgico para que a fronte lhe não vergasse sob o peso da férrea coroa da Espanha cristã. Era mister escolher marido para D. Urraca, sua filha mais velha, viúva de Raimundo, conde de Galiza; porque a ela pertencia o trono por um costume gradualmente introduzido, a despeito das leis góticas, que atribuíam aos grandes e até certo ponto ao alto clero a eleição dos reis. Entre os ricos homens mais ilustres dos seus vastos estados, nenhum o velho rei achou digno de tão elevado consórcio. Afonso I de Aragão tinha, porém, todos os predicados que o altivo monarca reputava necessários no que devia ser o principal defensor da Cruz. Por isso, sentindo avizinhar-se a morte, ordenou que D. Urraca apenas herdasse a coroa desse a este a mão de esposa."


Alexandre Herculano


Nascido em Março de 1810, Alexandre Herculano cresceu em Lisboa e acompanhou de perto toda a conjuntura política e social portuguesa e sua complexidade nas primeiras décadas do século XIX. O autor estudou no colégio dos Oratorianos e preparou-se para frequentar a Universidade, mas não pode devido a problemas financeiros.

Com isto, Herculano estudou Matemática e frequentou a Aula do Comércio na Escola Naval, o que o permitiu dar início à sua carreira comercial que não foi tão duradoura. Também frequentou a aula de Diplomática na Torre do Tombo, desenvolvendo suas habilidades como historiador (CATROGA, 1998). Sempre foi muito próximo dos conhecimentos literários, estudando diversos idiomas e também frequentando os salões literários da Marquesa de Alorna.






Publicado pela primeira vez em 1843, O bobo foi um romance histórico de autoria de Alexandre Herculano cuja trama gira em torno do desejo de vingança do bobo da corte, chamado D. Bibas, contra Fernão Peres da Trava, conde castelhano amante da rainha portuguesa D. Tereza. Ao longo do romance, além de descrições contextuais sobre o ambiente medieval português e alguns membros da nobreza. No âmbito romântico, dois cavaleiros inimigos, um português e outro castelhano, lutam pelo amor da mesma dama da rainha, chamada Dulce, que amava o cavaleiro português. No âmbito político, os personagens que lutam pelo trono são a rainha e seu amante contra o infante Afonso Henriques. Neste entremeio, alguns cavaleiros e nobres são apresentados e também desempenham seus papéis fundamentais no desenrolar do conflito, assim como o personagem que dá nome ao romance, D. Bibas. Iniciado na vida monástica, da qual desistiu, D. Bibas decidiu tornar-se truão de D. Henrique, antigo marido de D. Tereza. Devido ao seu ofício, este personagem circulava por toda a hierarquia social colocada, fazendo seus jograis e julgando a todos durante as festas do palácio. Em uma noite após um sarau, fez um jogral contra o conde da Trava e seu cavaleiro, fato que levou Fernão Perez a ordenar que o bobo fosse castigado com açoites. Depois de tamanha humilhação, o bobo decidiu se vingar contra o conde e seu cavaleiro, sendo que o caminho encontrado para tal foi a oportunidade que teve para destruí-lo no conflito definitivo que iria estabelecer quem teria o poder sobre Portugal. D. Bibas tinha conhecimento de uma passagem secreta entre o castelo de Guimarães, onde se encontravam a rainha e seus aliados, até o lado de fora da fortaleza, onde estavam o príncipe e seus partidários. Ele revelou esta passagem aos cavaleiros do príncipe, fazendo com que pudessem vencer o conflito e, por consequência, vingando-se contra o conde e seu cavaleiro, que perderam o poder. Este último foi morto em combate pelo cavaleiro português apaixonado por Dulce.






Chefe da Torre do Tombo, Alexandre Herculano tem acesso privilegiado aos factos históricos a partir dos quais escreve um romance espantoso, cheio de luz e de ironia. Inicialmente publicado na revista O Panorama em 1843, O Bobo saiu, depois de revisto e ampliado, em volume numa edição póstuma, em 1878. Nesta obra o autor evoca uma época conturbada da gestação da nacionalidade portuguesa, ao situar o romance no ano de 1128, dias antes da batalha de S. Mamede em que o exército de D. Afonso Henriques defronta o de sua mãe, D. Teresa. Ficamos, assim, a par das tramas medievais e da estratégia usada por cada um dos exércitos, bem como a razão do ódio que D. Afonso Henriques sente pelo conde Peres de Trava, amante de sua mãe. A figura central do enredo acaba por ser D. Bibas, o bobo. Alguém que todos menosprezam e que, aparentemente, nada vale mas que, fazendo uso da sua alma esperta, nos dá a conhecer, com o seu riso diabólico e as suas sátiras, as intrigas, os ódios e as vaidades presentes no Castelo de Guimarães, berço de Portugal.



Fontes:
wikipedia.org
google.com
anpuh.org.br
pt.wikisource.org
resumos.netsaber.com.br

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